Ao longo do seu povoamento, iniciado há cerca de 300 anos, o sul do Ceará sempre contou com bons e santos sacerdotes católicos.
Um deles foi o Padre Francisco Pinkowski, da Ordem Salesiana, nascido na Polônia em 1882. Ainda jovem ele foi estudar em Turim, na Itália, indo, depois, para Montevidéu, capital do Uruguai. Nesta última cidade foi ordenado sacerdote em 1920. Dali foi enviado para o Brasil, para Pernambuco, onde residiu de 1921 a 1939. Foi transferido, em seguida, para Fortaleza, no Ceará, onde exerceu várias atividades pastorais entre os anos 1940-1943. De Fortaleza veio para Juazeiro do Norte, onde permaneceu os anos 1944-1945, retornando a Pernambuco em 1946. No entanto, Padre Francisco Pinkowski viveu seus últimos anos em Juazeiro do Norte, aonde veio a falecer em 1979 com 96 anos.
Sobre este sacerdote escreveu o escritor Mário Bem Filho:
“Em Juazeiro do Norte, Padre Francisco Pinkowski, apesar da idade avançada, jamais se deixou vencer pelo cansaço. Levantava-se cedo e começava a rezar o terço e, após meditação, celebrava a Santa Missa. Posteriormente começava a atender às confissões, saindo, em seguida, sempre a pé, para prestar assistência aos enfermos pobres que habitavam a periferia de Juazeiro do Norte. Seu maior sonho era ver concluída a construção da igreja do Sagrado Coração de Jesus, o que conseguiu realizar.
“Padre Francisco Pinkowski era um padre virtuoso, um autêntico apóstolo do bem, devoto de Nossa Senhora Auxiliadora e de Dom Bosco. Durante sua existência apresentou características marcantes, dentro as quais destacamos: profundo amor pelas vocações; zelo sacerdotal pelas almas, demonstrado no ministério das confissões, principalmente aos enfermos; coração aberto aos pobres. Jamais um necessitado que o procurasse, dele se afastava de mãos vazias; coração sempre inclinado ao perdão, nunca guardando rancor de ninguém”.
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Sobre o Padre Francisco Pinkowski conta-se, em Juazeiro do Norte, uma história de domínio público. Certa manhã ele foi chamado para dar a Unção dos Enfermos a uma moribunda que residia na Rua da Palha, periferia daquela cidade. Carregando a hóstia consagrada, estola, livro-devocionário e um recipiente com água benta, para a Rua da Palha dirigiu-se para lá, a pé, o bom padre. Em lá chegando, Padre Francisco Pinkowski entrou numa pequenina palhoça, destituída de qualquer móvel onde ele pudesse colocar os objetos sagrados, enquanto vestia a estola. Constrangido, por não querer colocar esses objetos no chão, eis que entra, na palhoça, um rapazinho de boa aparência, bem vestido e pede ao Padre Francisco para segurar os objetos. Após cumprir a tarefa o rapazinho se afastou do pequeno recinto.
A sós com a moribunda, Padre Francisco ministrou a confissão, deu-lhe a comunhão e procedeu a Unção dos Enfermos. Ao sair, perguntou a algumas pessoas que estavam do lado de fora da choupana:
– Onde está aquele mocinho que segurou meus objetos? Gostaria de agradecer a ele...
Para surpresa do sacerdote todos insistem em dizer que, na palhoça, não entrara ninguém. Padre Francisco retornou ao Colégio Salesiano um tanto intrigado com o fato. Chegando ao Colégio Salesiano, entrou no educandário pela antiga capela, onde hoje funciona o auditório. Foi na capela que seus olhos vislumbraram num altar uma imagem de São Domingos Sávio. São domingos Sávio faleceu adolescente. Pe. Francisco Pinkowski reconheceu, emocionado, na fisionomia daquele santo o rapazinho que o ajudara momentos antes, no casebre da enferma a quem dera assistência espiritual.
Padre Francisco Pinkowski faleceu em 15 de abril de 1979. Foi sepultado no dia seguinte, no interior da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Juazeiro do Norte, após missa de corpo presente concelebrada por 26 sacerdotes. Ainda hoje sua sepultura é muito visitada. Muitas pessoas vão até seu túmulo para dar testemunho de graças alcançadas por sua intercessão.
(*) Armando Lopes Rafael é historiador.
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