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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Valentões de lá e de cá - Por Jânio da Fonseca.

Foto - Arrozais das várzeas verdejantes do Riacho do Machado, em Várzea-Alegre.

Havia um Chapeado, que não era o 90, mas carregava outra alcunha, homem de cara fechada, mas de costumes soltos.

Anos atrás, fez negócio com uns agricultores de Várzea-Alegre e vendia a produção de arroz dos tais, pois naquele tempo, a cidade do Padre Vieira era forte no plantio do cereal.

Nesses negócios atravessados, ele 'escapuliu' uma quantia na prestação de contas e se fez de doido. 

Ao perceberem, os homens da roça o indagaram:

Está faltando o dinheiro de dez sacas de arroz. Como a gente vai fazer?

Vão inté minha casa de noite que eu mostro onde está o restante. Respondeu com ar de intolerância.

Passaram as horas e ao cair do crepúsculo, rumaram a casa do cidadão. Lá chegando, o homem mandou-os sentar, entrou em seus aposentos e voltou com um revólver 38 em punho.

A essa altura os caba se olhavam pesando, valha meu "Padim", estamos é ferrados. 

Teve um deles que ainda quis correr, mas casa de taipa, sala apertada, não teve o que fazer, sentou e esperou o Chapeado lhes dizer:

Peguem esse revólver na paga, o dinheiro eu me entusiasmei e gastei lá em Glorinha, dando uma de bacana.

O que quis correr pegou o revólver, verificou a munição e viu que só tenham três balas e respondeu:

Rapaz, era uma bala pra cada um. 

Caíram na risada e negócio resolvido.

Causo dos valentes de cá com os valentes de lá.

Um comentário:

  1. Em Várzea-Alegre não existem valentes, terra de gente pacata, solidária e ordeira. Tanto é que numa passagem de Lampião por lá, ao ver um conterrâneo escorado num poste Lampião perguntou: Quem é você! Ele respondeu - Eh, eh, eh, eu sou o finado Zezinho.

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