Reportagem do jornal britânico descreve a rotina do auto-proclamado Príncipe Imperial do Brasil. A saída da crise política, para ele, é a monarquia
Por dentro, a casa lembra um museu de pequeno orçamento. Retratos de uma família de monarcas estão dispostos ao lado de relíquias religiosas e uma cruz com Jesus com uma coroa de espinho enfeitam a sala de recepção. Ali, o único vestígio de modernidade aparece em uma máquina de cartão de crédito, pronta para receber doações de entusiastas da monarquia. Há quem defenda arduamente que a monarquia é o único caminho para resolver o "mal atual da nação", a crise política do país. A descrição refere-se à casa de dois quartos alugada por Dom Bertrand de Orleans e Bragança, no Pacaembu, em São Paulo. Sua rotina e vida foi tema de um artigo recente publicado pelo Financial Times. O jornal britânico o descreve como "herdeiro de um trono extinto".
Mas, ao jornal, Dom Bertrand faz questão de ressaltar sua origem e nobreza. Aos 75 anos, ele gosta dos títulos que carrega dentro da "família real brasileira". Trineto do último imperador brasileiro, Dom Pedro II, e bisneto da Princesa Isabel, Bertrand nasceu, ironicamente, na França. O motivo? Seu avô fugiu para lá quando a monarquia caiu em 1889. Ao saber desse fato, é possível entender o porquê Dom Bertrand carrega um sotaque francês forte quando se comunica em português.
O Brasil viveu sob uma monarquia por mais de 300 anos. Os imperadores do Brasil, bem como os Reis de Portugal desde o século XVII, pertenceram à dinastia de Bragança. Apesar de ser, na teoria, o terceiro na linha de sucessão, Bertrand considera-se o Príncipe Imperial do Brasil . É o terceiro de 12 filhos, mas seu irmão mais velho, Dom Luiz, 77, com quem compartilha a casa, não gosta de aparecer. Seu segundo irmão mais velho casou-se com uma "plebeia", o que "aniquilou qualquer chance ao trono".
Um dos assuntos preferidos de Dom Bertrand é falar sobre a família real, segundo o FT. Ele não é fã de Kate Middleton, mas idolatra a Rainha Elizabeth: "bem-vestida, ela é dignificante". "Imagine só se ela aparece em público vestida com calça jeans, que decepção seria", diz ao jornal. O tom da sua fala, segundo a reportagem, reflete um pouco de seu comportamento: "conservadorismo mordaz e temperamento explosivo". Bertrand também gosta de analisar a situação política atual do país. Gostou do afastamento da presidente Dilma Rousseff em maio, porque para ele, a República é uma "péssima ideia". Desde que ela foi instaurada, sob o mantra Ordem e Progresso, o país só viu se formar uma crise econômica, diz. Para Bertrand, a "república corrompe". "A Rainha Elizabeth não precisa comprar votos e ela tem um nível de popularidade que nenhum chefe de estado possui".
A lógica, para ele, é simples: "os brasileiros amam a família real britânica. Logo, eles querem ter a sua própria". Para Bertrand, os protestos dos últimos meses no país demonstram não apenas a raiva da população contra o PT, mas contra os políticos em geral. Além disso, ele diz que precisa lidar com "multidões" quando saem em público, "ávidas por tirar selfies com ele". Todos esses fatores são para ele indícios de que o apoio à monarquia só cresce no país. A reportagem lembra que quando houve o impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992, um referendo perguntou à população qual sistema político eles queriam para o país. Cerca de 7 milhões de brasileiros votaram pela volta da monarquia.
A página atual no Facebook que apoio o regime tem 25 mil seguidores apenas, mas Dom Bertrand é convicto de que, com uma campanha de arrecadação, ele conseguiria vencer um referendo sobre o assunto. É esta a causa que ele dedicou-se em sua vida, lembra o jornal. Por isso, "nunca cometeu o erro de seu irmão de se casar". "Eu não teria o tempo livre que tenho hoje", diz referindo-se à palestras que dá e eventos que marca presença. Em suas horas livres, gosta de ler livros de história, biografias e sobre figuras religiosas. "Não há televisão em casa". Mas, ele lembra contudo, que assistiu - em seu notebook - alguns episódios de Downton Abbey, série britânica que narra o dia a dia de uma família aristocrática inglesa.
Após retornar ao Brasil com 4 anos, Bertrand cresceu em uma fazenda no Paraná até se mudar para São Paulo para estudar Direito. É por isso que hoje é próximo de advogados e ruralistas. Ele defende que o crescimento do país nas últimas décadas veio devido "a alta demanda chinesa por commodities" e não por "causa do PT". Ele insiste que o restauro da monarquia deveria ser algo apartidário.
Sobre outros temas, Dom Bertrand carrega opiniões polêmicas e bem pessoais. Aquecimento global? É uma invenção dos ecoterroristas, incluindo o PT. Preservação de comunidades indígenas? É uma tática comunista. "Indígenas não querem viver em um zoológico". Trabalho escravo em plantações de cana de açúcar? Lero-lero. Lembrando que sua bisavó Princesa Isabel teve um papel ativo na abolição da escravidão.
Sobre os aspectos práticos de ser um rei, Bertrand diz que a primeira medida seria recuperar a coroa do Museu no Palácio Imperial em Petrópolis, perto do Rio de Janeiro. O repórter do FT o questiona se ele deixaria para trás seu Toyota e sua casa no Pacaembu caso, de fato, tivesse que assumir o trono. Dom Bertrand ri, pisca com um olhar incrédulo. "Isso foi apenas a residência de verão", diz ele. "Há alguns bons palácios Brasília afora".
Quanto mais leio sobre a Monarquia e vivo a Republica, mais me convenço do prejuízo que o Marechal Deodoro da Fonseca causou ao Brasil.
ResponderExcluirO Herdeiro termina o seu belo depoimento dizendo : "Há alguns bons palácios Brasília afora". Faltou dizer : Em Atibaia e em Guarujá.
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ResponderExcluirCaro Morais:
Sua interessante e oportuna postagem sobre o Príncipe Imperial Dom Bertrand de Orleans e Bragança enseja-me a dar um depoimento. A ver.
Antecedendo ao Plebiscito de 1993 (que dava oportunidade aos brasileiros de restaurar o glorioso período monárquico, ou continuar com esta corrupta república que vemos, assistimos e sofremos nos dias atuais) participei – entre 1988 a 1993 – como um dos sócios do Círculo Monárquico do Cariri, instituição cívica, sem fins lucrativos e apartidária, que defendia o retorno – para a nossa Pátria – da forma de governo monárquica, com parlamentarismo. Os brasileiros – quais macacos retardados, em relação aos povos de países de Primeiro Mundo, optaram por continuar sendo governados por presidentes do naipe de um Collor de Mello, Lula da Silva, Dilma Vana Rousseff... Mas esta é outra história.
O que quero hoje testemunhar agora foi minha descoberta sobre o preparo, honradez, correção e pobreza dos príncipes herdeiros do Trono brasileiro!
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ResponderExcluirO herdeiro do Trono, Dom Luiz de Orleans e Bragança, esteve no Cariri uma vez e Dom Bertrand – o segundo na linha sucessória – veio aqui duas vezes. Nós nos reuníamos e fazíamos uma “vaquinha” para comprar as passagens e pagar o hotel para os príncipes. Eles desembarcavam no Aeroporto Regional do Cariri com modestas sacolas de plástico de viagem, sem um único objeto de luxo, um único que não fosse coisa simples, típico de classe média. Pediam apenas uma coisa: que os levássemos uma vez por dia a uma igreja para a comunhão diária deles. Dom Luiz e Dom Bertrand nasceram na França, em face de a Família Imperial ter sido banida do Brasil pelos republicanos (foi o mais longo exílio político da história do Brasil). Chegaram ao Brasil no início da infância. O pai deles, Dom Pedro Henrique trouxe a família de volta ao Brasil (no final da década 40) e como era pobríssimos, os monarquistas de São Paulo se cotizaram e compraram uma pequena propriedade de 18 alqueires, no norte do Paraná. Dom Pedro Henrique e sua esposa (neta do último Rei da Baviera, Alemanha) tiveram doze filhos. E os criaram na zona rural plantando café e com pequena criação que fornecia o leite para a família.
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ResponderExcluirEste é o ramo herdeiro legítimo do Trono. Tem os príncipes de Petrópolis (primos de Dom Luiz e Dom Bertrand) que vivem um pouco melhor, porque herdaram alguma coisa, já que retornaram antes ao Brasil. como era pouco coisa, os que chegaram primeiro se apossaram do pequeno patrimônio, que não era grande coisa. Mas são também são de classe média. Voltando aos filhos de Dom Pedro Henrique: nenhum deles tem emprego público. Todos vivem do seu trabalho modesto, mas digno. O pai deles os formou para que servissem ao Brasil, dando exemplo de honestidade, preparo intelectual, e dedicação sincera a nossa Pátria. Dom Luiz, por ser o primogênito estudou (na Universidade de Munique) formando-se na Alemanha e morando na casa da família da mãe dele. Os outros doze estudaram aqui e trabalham na iniciativa privada, onde são funcionários competentes. Dom Bertrand formou-se em direito. Reside hoje em são Paulo na residência que você descreveu. Só quem os conhece – como eu conheço – pode avaliar a seriedade, educação, simplicidade de que são dotados. E vivem a fazer palestras pelo Brasil, mostrando o que era nossa Pátria sob a égide da Família Imperial e o que é hoje, sob a égide da Lava Jato...
Vou escrever um artigo sobre isto e depois publico no nosso blog...