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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Há 182 anos um naturalista inglês fazia pesquisas no Cariri – por Armando Lopes Rafael


    Em 1838, há 182 anos, a região do Cariri já era objeto de interesse por parte de cientistas estrangeiros. Padre Cícero ainda nem tinha ainda nascido naquele ano, mas George Gardner (médico naturalista, botânico memorialista, intelectual pesquisador, escritor, ensaísta e cientista inglês) – nascido em Glasgow, Escócia – residiu durante cinco meses) no Cariri. No então Império do Brasil, Gardner realizou estudos sobre a flora, fauna, reservas paleontológicas e aspectos sociológicos do Cariri.

     Após explorar os arredores de Crato (àquela época, no território cratense, já existia uma pequenina aldeia chamada Joaseiro. erguida em torno da capelinha de Nossa Senhora das Dores, está construída pelo Pe. Pedro Ribeiro), Gardner incursionou por outros sítios da Chapada do Araripe. A exemplo da Vila da Barra do Jardim (hoje cidade de Jardim). Esta havia sido emancipada de Crato, em 3 de janeiro de 1816, por um decreto assinado por Dom João, Príncipe-Regente do Reino de Portugal, Brasil e Algarves.

    Interessante ler as primeiras impressões que Gardner escreveu sobre sua chegada a Crato depois de ter viajado – várias semanas – pelo sertão semiárido do interior cearense:

“Impossível descrever o deleite que senti, ao entrar neste distrito, comparativamente rico e risonho, depois de marchar mais de trezentas milhas através de uma região que, naquela estação, era pouco melhor que um deserto. A tarde era das mais belas que me lembra de ter visto, com o sol a sumir-se em grande esplendor por trás da Serra do Araripe, longa cadeia de montanhas, a cerca de uma légua para Oeste da Vila, e o frescor da região parece tirar aos seus raios o ardor que pouco antes do poente é tão opressivo ao viajante, nas terras baixas. 

A beleza da noite, a doçura revigorante da atmosfera, a riqueza da paisagem, tão diferente de quanto, havia pouco, houvera visto, tudo tendia a gerar uma exultação de espírito, que só experimenta o amante da natureza e que, em vão eu desejava fosse duradoura, porque me sentia não só em harmonia comigo mesmo, mas “em paz com tudo em torno”.

    Em 2006, o então reitor da URCA, Dr. André Herzog, adquiriu, por 240 libras, para aquela universidade – num antiquário de Londres–Inglaterra (Antiquarian Bookksellers), a primeira edição inglesa do livro de George Gardner “Viagem ao Interior do Brasil”, publicado em 1849. Naquele livro consta o texto acima. André Herzog pensava incluir esse volume na “Biblioteca Caririana”, um sonho dele para reunir publicações e documentos, nas diversas áreas de conhecimento sobre o Cariri, publicadas ao longo dos últimos dois séculos. Pelo visto tudo ficou mesmo só em sonho....

Um comentário:

  1. O Crato sempre foi uma fonte muito rica de cultura, pesquisas em todos os segmentos da sociedade. Especialmente a natureza, sempre muito privilegiada.

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