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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 2 de abril de 2012

APENAS 24 HORAS - CONCLUSÃO - Por Vicente Almeida


APENAS 24 HORAS 



Estamos retornando com a conclusão
do texto postado em 29/03, conforme o prometido.
 O Destaque na cor verde, refere-se a parte final.


Certa manhã na casa dos Lorêtos, a campainha tocou por alguns segundos, três vezes seguidas, depois emudeceu.

Ao ouvir o toque insistente, a Senhora Lorêto apressou-se em abrir a porta e percebeu um senhor aparentemente se afastando da sua casa. Olhou para os lados e estavam desertos olhou para baixo, e surpresa se deparou com um pequeno pacote no pé da sua porta.

Ela o recolheu e verificou que não havia remetente nem destinatário, levou para dentro entregando-o ao marido e lhe contou o acontecido. Ele achou muito estranho e ficou desconfiado do pacote agora em suas mãos.

Mas o fascínio da curiosidade fez com que eles abrissem o pacote, e encontrassem uma caixa em formato de cofrinho e sobre ele havia um botão na cor verde que aparentemente acionava alguma coisa, mas estava protegido por uma cúpula de vidro.

A porta de acesso ao cofrinho estava trancada, e eles procuraram a chave. Verificaram novamente a embalagem do pacote, e lá encontraram um envelope com um cartão e uma pequena chave.

Dona Lorêto se apressou em abrir o pequeno cofre para ver o que acontecia, e como estavam em véspera de natal julgaram ser brincadeira de algum amigo. Mas seu esposo disse:

- Primeiro vamos ver o conteúdo deste cartão para podermos conhecer o autor da brincadeira.

Ao abrir o envelope retirou o cartão e leu em voz alta uma assustadora mensagem:

- "Este cofrinho contém um grande segredo. O botão verde protegido pelo vidro é um acionador e somente poderá ser tocado após abrir o cofre, e pelo lado de dentro liberar a trave".

- Ao pressionar este botão verde, duas coisas acontecerão simultaneamente: Vocês receberão um milhão de dólares, mas em algum lugar do planeta, alguém inexplicavelmente será assassinado.

- Retornarei em 24 horas. Terão esse tempo para decidir. Se desistirem, levarei o cofrinho de volta. Mas se o botão for pressionado receberão seu milhão de dólares livres de impostos.

Ao ouvir a leitura do cartão a mulher perdeu a pressa e abriu lentamente a portinha do pequeno cofre vendo lá dentro a trave que liberava a proteção de vidro. Apertou a trave e ela se abriu deixando a mostra o pequeno botão.

Olhou por instantes e depois de alguns minutos baixou o protetor de vidro e o travou, em seguida trancou o cofrinho e o guardou em um armário. Ambos verificaram que de fato, o botão era um acionador e poderia inclusive ser uma bomba. Quedaram-se meditativos, assustados e se perguntando:

- Por que alguém faria isso? Só pode ser brincadeira de mau gosto! E interrogações não faltavam. Durante as horas seguintes mil pensamentos cruzavam seus neurônios em milésimos de segundos. De qualquer forma teriam 24 horas para decidir, e da sua decisão resultaria grande benefício pessoal, tendo como contratempo o assassinato de alguém em algum lugar. Contudo eles ficariam definitivamente ricos.

Mas poderiam recusar a oferta e devolver o cofrinho intacto, mesmo por que o dinheiro não era tudo e já possuíam o necessário.

Mas a partir daquele instante, o tempo se escoava lentamente, enquanto o nervosismo aumentava a ansiedade do casal.

Antes que se completasse as 24 horas, a ansiedade exerceu seu domínio e dezenas de vezes retiraram o cofrinho do armário e colocaram no centro de uma pequena mesa, de forma que cada um ficava de frente para o outro com ele aberto e a cúpula de vidro agora levantada. Assim ficavam olhando aquele botãozinho convidativo.

Dizia um:

- Se acionarmos esse botão, e recebermos mesmo este milhão de dólares, poderemos fazer muita coisa boa, inclusive mudar toda a nossa vida e gozá-la sem preocupações com mais nada.

O outro rebatia:

- É verdade! Mas teremos matado alguém que talvez não conheçamos e que não poderá ser culpado pelo nosso ato. E eles fixavam o olhar naquele tentador dispositivo que ficava a distância de um braço.

Até que faltando apenas vinte minutos para se esgotar o tempo determinado, não resistindo mais a tentação...

...Um falou:

- Isto não passa de uma brincadeira maluca e de mau gosto. Quem teria tanto dinheiro para um projeto tão sem sentido? Há somente nós dois aqui nesta sala... Quem iria saber que alguém tocou este botão? 

Em seguida pegou o cofrinho, deu-lhe uma sacudidela de desagrado e entre a angústia da descisão e a segurança da família levantou-se e o guardou no armário voltando a sentar, e ficando em meditação.

No momento exato em que se completava às 24 horas, ouviram a campainha. Eles se assustaram ao abrir a porta e se deparar com um homem alto, de terno azul e olhar sereno postado a sua frente. A mulher reconheceu o veículo ali estacionado, e percebeu ser o mesmo que viu se afastando no dia anterior.

- Disse o visitante, vim recolher o pacote já que o acionador do cofrinho não foi utilizado. Assustados eles o convidaram para entrar e sentar. Quando já estava sentado, abriu uma maleta que conduzia a mão mostrando-lhes bem arrumadinhos, Um milhão de dólares dizendo, este seria o seu prêmio, "felizmente vocês o recusaram".

Surpresos perguntaram-lhe:

- Como o senhor sabe que não tocamos no acionador?

Ele lhes respondeu:

- Tenho olhos e ouvidos em todos os lugares, tudo e todos são permanentemente monitorados, e isto responde a sua pergunta sobre como sei que não tocaram no acionador. Para o Senhor do Universo, nada está oculto e seus mensageiros, embora não os vejam, estão em toda parte.

- Este dinheiro tão tentador, livre de todos os impostos, se a sua decisão tivesse sido outra, lhe seria entregue aqui e agora, mas, como contratempo receberiam pesado fardo de sofrimentos até seus últimos dias, com sérios reflexos do outro lado da vida, pois, cada centavo estaria manchado de sangue e o que parecia ser um gozo, resultaria em quimera, ilusão temporal.

- Venho das estrelas, e lá sabemos tudo que se passa com cada ser humano, seus atos, suas desditas e seus acertos passados e presentes.

- Observando sua conduta atual podemos deduzir como será o seu futuro. Entretanto essa previsão não é conclusiva, por que o futuro não está escrito, podendo acontecer conforme a previsão ou não. Tudo depende do procedimento de cada um no dia a dia. Haverá sempre dois caminhos, e a opção de escolher um ou outro é pessoal e intransferível. Inexoravelmente o autor receberá o retorno por força da sua opção.

- Mas com sua sábia decisão, que normalmente acontece com um casal em cada milhão, vocês não sucumbiram a tentação, e além de salvar a si, desviando-se de tenebroso futuro, também evitaram amarguras seculares para seus semelhantes.

A D E U S.

Escrito por Vicente Almeida
02/04/2012

4 comentários:

  1. Compadre Vicente.

    Infelizmente a proporção é esta mesma: um casal para cada milhão.

    A ganancia está vencendo a razão.

    Parabens pelo belo texto.

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  2. ... Aí eu disse:

    Morais:

    Este final se tornou possível, graças a opção de Sávio Pinheiro e Fátima Gibão na primeira postagem.

    Escrevemos duas versões finais. Na outra procurávamos demonstrar que diante da grande tentação, a maioria esmagadora dos indivíduos sempre decide a seu favor, e é grande o percentual dos que se perdem em uma fração mínima de tempo.

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  3. A hisória de Vicente
    Traz em si uma ilusão
    De ganhar dinheiro fácil
    Usando apenas a mão;
    Mas quem perdeu a bolada
    Foi Sávio e Fátima Gibão.

    Vicente, brincadeira...

    Um reflexivo texto!

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  4. Sávio, nós perdemos um milhão; mas não perdemos nem um ser vivente: já pensantes se abríssemos aquele cofrinho e matassemos o Vicente, que eu tanto amo, e semeia tanto o bem?...

    Abraço para todos.

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