O lema agitação e propaganda – AgitProp, no jargão militante – foi sempre o sustentáculo da ação esquerdista, desde os tempos da revolução soviética. O PT manejou-o com esmero, desde sempre.
Pouco importa se há fundamento no que se propaga. Em regra, não há, mas a eficácia da estratégia independe disso. Funciona até melhor quando a verdade – habitualmente, um problema para os profissionais da trapaça – não está em cena.
O PT galgou o poder, no espaço de pouco mais de duas décadas, a bordo de um discurso moralista implacável. Atribuía a seus adversários, com ou sem motivos, práticas em que viria a se mostrar mais voraz que todos os que o precederam no ofício.
Liquidou carreiras, assassinou reputações e, pior, iludiu o público com uma retórica em que prometia banir a corrupção da vida pública brasileira e instaurar a redenção social. O resultado estamos vendo, a cada fase da operação Lava Jato, sem contar os desastres sociais decorrentes de uma política econômica, que, além de quebrar o país, deixou um rastro de mais de 11 milhões de desempregados.
Nunca antes...
Mesmo agora, quando pipocam novas delações, revelando a extensão e os métodos da roubalheira – e quando já não há dúvidas da participação direta e pessoal da própria presidente afastada –, o pessoal da AgitProp continua em plena efervescência.
O discurso do golpe, que só convence a quem o faz, é agora acrescido de um singelo tempero: o maltrato aos golpeados. É preciso convencer o público de que o governo Temer está perseguindo os integrantes do governo afastado, aquele mesmo que o ministro Celso de Mello, do STF, chamou de organização criminosa.
Como se trata de um teatro, nada melhor que recorrer a profissionais do ramo. Eis, pois, que a atriz Tássia Camargo, militante petista, que não chega a ser uma diva dos palcos – mas tem bom número de seguidores nas redes sociais -, publicou vídeo convocando a militância do PT a doar comida para Dilma Rousseff.
Dilma, vejam só, estaria passando fome. No vídeo, a atriz afirma que Michel Temer retirou a alimentação da presidente e a exilou no Palácio da Alvorada. Um exílio, convenhamos, singular, em que, além do Palácio, a penalizada dispõe de 36 funcionários para assisti-la, sendo 31 do gabinete da Presidência da República, e nada menos do que cinco ajudantes de ordem. Uma corte, enfim.
Estão, os perseguidos, condenados à quarentena – isto é, a receber salários integrais, sem precisar trabalhar, durante seis meses. Alguns foram contratados dias antes do afastamento da presidente. Contratados para nada fazer, a não ser suportar o ambiente da Corte exilada. Um tédio.
Dilma não está proibida de viajar, o que, aliás, tem feito, desde o início do “exílio”. Apenas, a partir de agora, só o fará às custas do Estado – isto é, do contribuinte - no trajeto entre sua residência particular, em Porto Alegre, e Brasília.
Não há lei regulando a situação – e ela não pode se queixar de qualquer rigor, se comparado o tratamento que tem ao único caso análogo ao seu na história republicana brasileira.
Fernando Collor, quando na mesma situação, não mereceu qualquer benefício. Morou em sua residência particular (a Casa da Dinda), pagou seu próprio transporte, sua alimentação e advogado. Em momento algum, serviu-se da Advocacia Geral da União para defendê-lo, como se permitiu no caso de Dilma.
A AGU defende os três Poderes, que formam a União. Não pode defender um desses Poderes (no caso, o Executivo) contra outro (o Legislativo), sobretudo quando a ré é acusada exatamente de lesar a União. Um despropósito – e uma ilegalidade.
Mas voltemos ao ponto. Quando afastado, em 1992, Collor quis saber quais suas prerrogativas, já que, mesmo afastado, continuava presidente. Nada lhe foi concedido. E Lula, na ocasião, disse o seguinte, registrado então pelo Globo:
“Se o governo quer dar casa para o Collor, então que conceda um espaço na Casa de Detenção. Ele cometeu o que cometeu e agora vem pedir mordomias? Ele é que vá pedir para o PC (Farias)”.
Não houve, na época, militância para denunciar a situação. O então senador Mário Covas, líder do PSDB, disse o seguinte: “Se não há lei para tratar do assunto, então que se use o bom senso. Ele é presidente afastado. Como pode achar que tem direito a passagens internacionais ou helicóptero do governo?”.
Roberto Freire, que presidia o PPS, resumiu a ópera: “O rapaz perdeu. Não tem direito a mais nada. Deve ir para sua casa e começar a se preocupar com sua defesa”.
Na Corte da Rainha Dilma, não falta comida ou conforto – e muito menos dinheiro, como mostra o Petrolão. Falta memória – e desconfiômetro.
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