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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 9 de junho de 2016

Um Congresso acuado, um governo frágil e uma Justiça que extrapola seus poderes - Por Ricardo Noblat


Tudo o que um ministro da Fazenda disser poderá ser usado contra ele e seus objetivos.

Logo, compreensível que Henrique Meirelles tenha dito que a situação econômica do Brasil não será afetada pela crise política, deste ontem, agravada com os pedidos de prisão de quatro cabeças coroadas do PMDB – Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá e Eduardo Cunha.

A crise econômica foi gerada pela questão fiscal e será resolvida pela questão fiscal – decretou Meirelles.

De fato, foi por gastar muito mais do que podia que o governo Dilma provocou a crise responsável pelo estúpido número de 11 milhões de brasileiros desempregados. Mas se não lhe faltasse apoio político, Dilma teria se mantido no poder mesmo assim. Perdeu-o, antes de tudo, porque não soube e não quis fazer política.

O presidente interino Michel Temer sabe tudo ou quase tudo de política no que ela tem de mais antigo, de mais tradicional. E ama o que faz.  Completará, em breve, um mês no cargo. Conseguiu montar uma ampla coligação de partidos capaz de garantir sua permanência no cargo para além do impeachment definitivo de Dilma.

Mas ela garantirá, por tabela, a aprovação das duras e impopulares medidas econômicas que Temer será obrigado a remeter ao Congresso? E a que preço? Ao preço da reafirmação de velhos males responsáveis pela ruína da Era do PT, tais como o loteamento de cargos no governo e a tolerância com a corrupção?

Um Congresso corrompido e corruptor se renderá a um governo que se pretenda decente? Ou o contrário parece ser mais factível? Essa é a questão à procura de uma resposta. Se ela não for bem resolvida nem por isso permitirá a volta de Dilma, mas tampouco que Temer governe até 31 de dezembro de 2018.

A situação econômica do país será afetada, sim, pela crise política. Temos um Congresso acuado à medida que a Lava-Jato descobre seus podres; um governo frágil e, dado às circunstâncias, dependente de um sistema partidário que já implodiu; e uma Justiça que cada vez mais vai muito além dos seus chinelos.

É um quadro indigesto e refratário à luz.

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