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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

CONTOS DE VÁRZEA-ALEGRE - POR PROFESSOR ANTONIO DANTAS



O Reino de Rajalegre - Por Antônio Dantas


Muita gente me pergunta porque sai de Várzea Alegre. Minha resposta é muito simples: Eu nunca sai de lá. Apenas me afastei do centro para morar num bairro distante. A segunda pergunta que me fazem com frequência é sobre meu trabalho. Não gosto dessa palavra, mas vou explicar; eu e os exilados estamos preparando o reino de Rajalegre. Isso mesmo. Todos membros da diáspora varzealegrense estão empenhados em voltar para ajudar os heróis que ficaram; vamos construir o reino mais alegre do sertão.

O reino de Rajalegre vai ser diferente de todos os outros que já foram criados sobre a face da terra. Vamos dá uma lição de civilidade ao mundo; nosso rei será eleito. Isto mesmo, rei eleito. Isso evita que ele seja deposto. Não aceitamos essa tradição bárbara inventada pelos europeus. 

O reino de Rajalegre será divido em 12 condados. Cada condado terá um conde eleito pelo povo e aprovado pelo rei. Nossos vaqueiros farão parte da fidalguia. Não haverá vassalagem. Essa invenção sem imaginação dos europeus não será imposta à nossa gente. O conde, para quem não entende da importância do gado, será uma espécie de vaqueiro mó e cuidará dos mistérios da fazenda. 

Nosso reino será pautado pela frugalidade; não haverá deficit e o rei não pode contrair dívidas com reinos estrangeiros. Pode até tomar emprestado do povo para que toda riqueza circule internamente para benefícios de todos. Qualquer condado com déficit orçamentário será socorrido com o superávit dos vizinhos. Entretanto, o rei é obrigado pela constituição a manter o equilíbrio das finanças. O povo do reino, além do direito, terá o privilégio de morar nas várzeas encantadas produzindo arroz, mel, leite, rapaduras e tudo mais que traga alegria. O rei terá obrigação de zelar pela felicidade de todos. 

Não haverá inflação no reino de Rajalegre. O banco central do reino será rigorosamente administrado por pessoas escolhidas pela disciplina e honestidade. O dinheiro de Rajalegre, o Machadão,  será a moeda mais forte que já se inventou em tempos modernos. Ela será lastreada com a produção de rapadura. Quando houver necessidade de se aumentar a quantidade de moeda, para financiar as atividades da economia local, produzir-se-á, em contrapartida, um equivalente em rapaduras que serão depositadas no banco do reino. 

Os reinóis serão autossuficientes, orgulhosos e congeniais; duros porém respeitosos. A tristeza será naturalmente eliminada porque o primeiro artigo da constituição, e o mais importante de todos, tratará da felicidade. O instituto da alegria, uma invenção várzealegrense, será encarregado de montar um índice de felicidade. Este não pode diminuir. A verdade não será vigida porque tem poder próprio, mas a mentira, para ser verdadeira, terá que ser bem contada. Haverá um comitê permanente para o desenvolvimento da mentira e da ficção, o CPMF. Estamos fartos de verdades má contadas e de mentiras falseadas.

4 comentários:

  1. Prezado Professor Antonio Dantas.

    Nós que fazemos o Blog do Sanharol estamos orgulhosos e agradecidos com a sua valiosa contribuição. Sua imaginação prodigiosa criou um reino ideal para Rajalegre. Gostei da moeda "O Machadão", porque me fez lembrar do meu pai. Um dia seguiamos a Banda de Musica tocando um dobrado e ele fez essa sugestiva afirmação: as duas coisas mais bonitas do mundo são: O baixio do Machado amarelo de arroz e essa banda de musica tocando um dobrado. Veja o Vale do Machado na foto.

    Parabens pelas lembranças, obrigado pela contribuição e vamos continuar resgatando nossa historias para posteridade.

    Grande abraço.

    Antonio Morais - Blog do Sanharol.

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  2. Morais, obrigado pela postagem. Teu pai tinha toda razão. A foto que voce escolheu é muito linda, enche os olhos. Traz muitas saudades também, mas estamos aqui para curtir o passado. E se for preciso chorar, vamos chorar de alegria e agradecer o lugar que nos deu a vida.

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  3. Admiro muito um cidadão que hoje se encontra longe de sua terra, mas ligado nas suas belezas naturais. A sua família faz parte do contesto histórico de Várzea-Alegre. Lembro-me quando criança a satisfação de ir até o engenho do senhor Manoel Dantas compra mel, saborear um belo caldo de cana e um bom pedaço da rapa da gamela.
    Seu Manoel Dantas grande empreendedor na área da agricultura e pecuária e com o uso de sua sabedoria e visão de futuro já explorava o agronegócio com o cultivo da cana-de-açúcar para fabricação da rapadura, alfenim, mel e batida como fonte econômica e alternativa na sobrevivência de seus familiares.
    Gostei do nome da moeda machadão, mas temos que lembrar de outra importante recurso natural, onde contribui para a sobrevivência como fonte alimentar e econômica da Agricultura Familiar, o nosso Riacho do Feijão. Aproveito a oportunidade como conterrâneo e como morador da comunidade Sanharol, para mandar um abraço extensivo a todos os familiares procedentes dessa inédita família do Senhor Manoel Dantas.

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  4. João Bitu.

    Veja como o compositor Jose Clementino tinha razão: Os filhos de Varzea-Alegre se ausentam, mas não a esquecem jamais. Eu em Crato, voce em São Benedito, Luiz Lisboa em São Paulo, Antonio Dantas nos Estados Unidos, todos com o pensamento voltado para os resgates da memoria de nossa terra.

    Obrigado pelo seu comentario.

    Abraços.

    Antonio Morais

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