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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Um pato manco não pode continuar ministro - Reinaldo Azevedo.

É evidente que Jaques Wagner, ministro da Casa Civil, já perdeu a condição de exercer a função. Deu um voo de pavão e virou um pato manco. Vamos convir: está acabado! 

Em Brasília, ninguém mais dá 10 centavos para a sua famosa “capacidade de articulação”. Não tem jeito! Os fatos se impõem. Vamos ver.

Manuel Ribeiro Filho foi um dos chefões da OAS até maio de 2013. Em janeiro de 2014, o então governador da Bahia, Jaques Wagner, o leva para ser seu secretário de Desenvolvimento Urbano. Em março, Ribeiro Filho conclui a licitação da chamada Linha Vermelha, em Salvador, orçada em R$ 584 milhões. Acertou quem intuiu que a OAS venceu a disputa. Participaram do certame as construtoras Cowan, Camargo Corrêa, Odebrecht e o consórcio formado por Queiroz Galvão, Constran, Axxo e UTC.

As relações de Wagner com a OAS estão sob investigação da Lava Jato. Ligações telefônicas de Léo Pinheiro, então presidente da empreiteira, com subordinados seus e com o próprio Wagner sugerem que a empresa se envolveu com caixa dois de campanha dos petistas na Bahia e que o então governador defendia os interesses da empresa no Ministério dos Transportes e fundos de pensão. Um dos executivos que lidavam com essas questões políticas delicadas era justamente Manuel Ribeiro Filho.

É evidente que o conjunto da obra expõe o grau de deterioração política a que o PT conduziu o país. Vamos lá. Posso até dar de barato que a OAS tenha realmente feito a melhor proposta; posso ainda conjecturar, para efeitos de pensamento, que Ribeiro Filho não tenha movido uma palha em favor do ex-patrão… A pergunta que sobra é outra: faz sentido um governador de Estado levar o chefão de uma das principais empreiteiras do Estado para ser justamente seu homem de obras?

É essa a noção que tem o PT de transparência e de defesa do interesse público? Trocas de mensagens entre diretores da OAS em 2012, durante a disputa pela Prefeitura de Salvador, evidenciam que a empreiteira está enterrada até o talo na disputa eleitoral, quase não se distinguindo dela.  E o maestro da orquestra de impropriedades e, tudo indica, de ilegalidades é justamente Jaques Wagner.

Ora, é evidente que o ministro perdeu qualquer condição de conduzir, vamos dizer assim, a resistência do governo Dilma. Notem: no que concerne ao escândalo da Lava Jato, a suspeita de bandalheira está hoje mais perto dele do que dela — por enquanto, a presidente pode ser impichada é pelas lambanças fiscais. Wagner sabe que seu caso começa a costear o barranco do crime.

A proximidade do atual ministro com a OAS é tal que quase não se sabe onde termina um e começa o outro. Em 2010, a empreiteira doou R$ 1,5 milhão à sua campanha; em 2014, R$ 4,2 milhões à de seu sucessor, o também petista Rui Costa.

A empreiteira funciona ainda para Wagner como um celeiro de talentos. Bruno Dauster, outro ex-dirigente da empresa, foi feito diretor da Casa Civil. E cuidou da modelagem da licitação do Metrô. Com a eleição de Costa, foi promovido a chefe da Casa Civil.

Com todas essas habilidades, dá para entender por que Lula queria Wagner no cargo em que está agora. Os dois falam rigorosamente a mesma língua. Mas, a exemplo do que ocorre com Lula, também o passado de Wagner começa a bater à porta.

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