Gilberto Freyre – o gênio que Pernambuco presenteou ao mundo – costumava dizer que Recife era a Capital Mundial da Inveja. Cidade belíssima, que abriga ricas manifestações culturais da nordestinidade, a capital pernambucana tem certas peculiaridades que inexistem noutras urbes brasileiras.
Ali sobrevive, ainda hoje, de forma forte, o superado embate ideológico entre “esquerda versus direita”. O recifense é um povo bairrista e irreverente. Lá, de forma leviana e apressada, as personalidades que se destacam são logo rotuladas. Talvez tenha sido isso o que levou Gilberto Freyre a lamentar esse traço característico do recifense. A inveja era um defeito humano que faria, segundo ele, parte da psicologia coletiva do habitante da capital pernambucana.
Dentro do item irreverência, bom lembrar que na década 50 do século passado, o então arcebispo de Olinda e Recife era Dom Antônio de Almeida Morais Júnior, o qual, demagogicamente, procurou se aproximar do povo frequentando lanchonetes onde sempre consumia uma Coca-Cola. Ganhou logo o apelido de “Dom Coca-Cola”.
Trinta e cinco anos depois, a Arquidiocese de Olinda e Recife recebeu um novo pastor: Dom José Cardoso Sobrinho. Este, um homem sério, franco, nunca se deixou seduzir pelos holofotes e projetores da mídia ou pelos aplausos levianos das massas. Dom José Cardoso, por isso, logo ganhou um apelido: “Dom Dedé”. Pelo simples fato de ser tratado pelos irmãos de sangue por “Dedé”. Como se um tratamento afetuoso familiar fosse algo pejorativo...
Dom José Cardoso Sobrinho sofreu o que poucos imaginam, durante 24 anos nos quais ocupou o sólio episcopal de Olinda e Recife. Em setembro de 2009, quando ele já tinha apresentado sua renúncia por motivo de idade, foi lançado, em Recife, um livro, “Dom José Cardoso Sobrinho– A vitória da fé”, de Elcias Ferreira da Costa, doutor em Filosofia e Direito, professor da Faculdade de Direito do Recife.
Ao longo de 510 páginas desse livro foi mostrada a dolorosa via-sacra, semeada de injúrias, calúnias, passeatas ruidosas feitas contra Dom José Cardoso. Sem falar nos artigos desrespeitosos, publicados nos jornais recifenses, muitos até escritos por pessoas que se diziam católicas, o que confirma as palavras de Jesus Cristo: “Os inimigos do homem são os de sua casa” – Mateus, 10,3.
Tão pesada e injusta foi essa campanha, que um dia após a publicação de uma dessas reportagens contra o bispo, o diário se retratava com esta nota: “O Jornal do Commercio errou na edição de sua matéria e pede desculpas ao Arcebispo e a grande comunidade católica de Pernambuco – até porque ninguém se diminui ao reconhecer um erro”.
Sobre as injustiças assacadas contra Dom José Cardoso, basta citar um único fato: ao punir um padre pelo desvio de cinco mil reais, Dom José Cardoso sofreu – nos 20 anos seguintes – a acusação de ter afastado o sacerdote somente por intolerância e para “desmanchar” o “legado” deixado por Dom Hélder Câmara.
O livro de Elcias Ferreira Costa (“Dom José Cardoso Sobrinho– A vitória da fé”) tem o mérito de ter iniciado – mais rápido do que se esperava – a reposição da verdade em favor de um dos mais dignos bispos que passou pelo episcopado brasileiro.
Texto: Armando Lopes Rafael
Qualquer semelhança,nesse aspecto, entre Recife e Crato não é mera coincidência...
ResponderExcluirA inveja é o desejo de obter algo que possui outra pessoa e que de que se carece. Trata-se, por conseguinte, do pesar, da tristeza ou do mal-estar pelo bem alheio. Neste sentido, a inveja constitui o ressentimento (o sujeito não quer melhorar a sua posição, deseja antes que o outro o veja pior).
ResponderExcluirÉ verdade, Morais.
ResponderExcluirDa literatura espanhola retirei os 3 pensamentos abaixo:
“O termômetro do sucesso é apenas a inveja dos descontentes”. (Salvador Dali)
“Os ataques da inveja são os únicos em que o agressor, se pudesse, preferia fazer o papel da vítima”. (Niceto Zamora)
“A inveja é tão vil e vergonhosa que ninguém se atreve a confessá-la”. (Ramón Cajal)