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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 20 de maio de 2017

Em VEJA desta semana - 1

Até bispos sem bússola moral acertam de vez em quando
Cancelamento da farsa de manifestação política marcada para catedral em Curitiba mostra que a ficha cai mesmo para os pastores perdidos da Igreja
Por Vilma Gryzinski
Papa Francisco - Ele pelo menos sente o que fala: ao contrário dos filhos de Francisco, espirituais, claro, papa tem gana e sangue na veia (Alessandro Garofalo/Reuters)

Pai, por que nos abandonaste, perguntariam os que acreditam diante dos bispos desnorteados que conduzem seus rebanhos  para a perdição. Isso, obviamente, se os rebanhos dessem ouvidos ao constante vazamento de insensatez que jorra de tantos canos furados da cúpula da Igreja.

Os não crentes se espantam com a estupidez tão profundamente entranhada que a arquidiocese de Curitiba aceitou com indisfarçada alegria sediar “uma vigília inter-religiosa de oração pela democracia e pela vida ”.

E quando tão nobre iniciativa aconteceria? Surpresa, surpresa: no dia 9 de maio. Uma coincidência incrível, não? E precisa dizer quem seriam os participantes da rave vermelha na catedral?

“À época ainda não era conhecida a transferência da data do depoimento de Luiz Inacio Lula da Silva ao juiz Sergio Moro”, alegou hipocritamente a arquidiocese ao ter um vislumbre de lucidez e cancelar o interessante, bondoso e absolutamente neutro evento. Face à atmosfera “densa de potenciais confrontos”.

A cegueira deliberada não tem, infelizmente, nada de excepcional à luz da visão da maioria dos bispos locais e, em diferentes medidas, de além fronteiras. Expressa, confirmada e exemplificada na nota da Confederação Nacional de Bispos do Brasil em sua nota de quarta-feira passada sobre o Grave Momento Nacional.

BOIS SEM NOME

Com um atraso que, mais do que à preguiça intelectual de sempre, está intimamente associado à dolorosa perda da bússola moral, a organização menciona vagamente “agentes públicos e privados que ignoram a ética e abrem mão de princípios morais”.

Os tais agentes têm sido dia e noite expostos em nome e sobrenome. E de forma estonteantemente clara e simples pelo último depoimento do homem que sabia demais e colecionava quadros ruins acreditando que eram um bom jeito de lavar dinheiro por trás de uma passagem falsa.

Mas os senhores bispos não querem saber de dar nomes aos bois já tão extensivamente nomeados. Atribuem tudo a um vago “fisiologismo politico”. Não venham perguntam aos senhores bispos quem foram os tais agentes e, acima de todos, o chefe deles. Os sepulcros calados não abrem o bico.

Já entre os males em geral da sociedade, que precisam ser “superados”, claro, são incluídos “excessos no uso da força policial” e  “poder discricionário dos meios de comunicação social”.

Ninguém duvida de que ambos existam. Mas o que têm a dizer os nobres e bondosos bispos aos policiais que levam rojões na cara para impedir a destruição de bens públicos e particulares por corjas de incendiários?

Ou aos jornalistas dia e noite esculhambados no mundo virtual, cujas famílias muitas vezes são hostilizadas no mundo real, por revelarem nomes, sobrenomes e o incessante tsunami de roubalheira dos tais “agentes”?

EXAME DE INCONSCIÊNCIA

Nem uma palavra, só o silêncio dos que esqueceram os ensinamentos e a história de sua própria Igreja. O silêncio dos que não sabem mais dizer o que é certo e o que é errado, como eles mesmos acreditam ser sua missão. O silêncio dos covardes.

Como Marine Le Pen, os senhores bispos também acham que a “economia globalizada” está na origem dos problemas econômicos do país e que “tem sido um verdadeiro suplicio para a maioria da população brasileira”.

Qual a responsabilidade dos “agentes” nunca nomeados na porcaria feita por insanos apenas recentemente afastados do poder, tantas vezes incensados pelos senhores bispos, para agravar e quase destruir condições econômicas já intrinsicamente precárias?

Todo mundo já adivinhou a resposta. Os nobres e bondosos bispos devem pousar as brancas cabeças em paz no travesseiro depois de fazer seu exame de consciência, acreditando que estão defendendo os interesses do povo.

Também devem acreditar que têm o direito de confiar “o povo brasileiro ao coração de Nossa Senhora Aparecida”. Não desconfiam nem remotamente que o povo brasileiro, ou a parte que assim deseja, em geral, tem sua conexão própria com Nossa Senhora Aparecida, sem precisar de bispos no meio. Tão ligados?

DISNEY NO VATICANO

As condições que levaram a este descompasso religioso, espiritual, teológico e moral são conhecidas. O papa Francisco as simboliza, de muitas maneiras, mas com uma diferença importantíssima: insiste sempre na necessidade de que os homens da Igreja sejam mais comprometidos, engajados, envolvidos e até alegres no exercício da missão que escolheram.

Praticamente todos os dias, o papa acrescenta mais disparates à lista de Francisco. Um exemplo banal e recente: defendeu que mediadores internacionais inferiram para desativar a crise causada pelos testes de mísseis e bombas nucleares da Coreia do Norte.

Ao tecerem uma aliança de ocasião com a China e o Japão para forçar baby Kim a fechar a caixa dos brinquedinhos nucleares, os Estados Unidos estão fazendo exatamente isso – sustentados, claro, por uma força naval de fazer tremer potestades angelicais.

Ou o papa quer invocar o poder transformador do Espíritio Santo e trazer o ditadorzinho para morar num Castelo de Santo Ângelo transformados em Disney vaticana?

VAMPIROS EM CURITIBA

Francisco fala mais bobagens do que mil argentinos juntos assistindo um jogo de futebol contra o Brasil – mas, como estes, também diz verdades fortes  e até inconvenientes. E tem personalidade, gana, sangue nas veias. Não é um sepulcro caiado.

E tem coragem também. Durante sua recente viagem ao Egito, não aceitou carros blindados. Embora, claro, estivesse sob proteção pesada – era o que faltava o governo egípcio dar margem a que o papa fosse explodido durante seu turno.

Não falou uma palavra errada, embora não faltassem oportunidades. Também prestou uma solidariedade pungente aos coptas, que estão entre os cristãos mais antigos do mundo e, desde a invasão da religião dominante, enfrentam as seguintes escolhas: conversão, exclusão, exílio ou espada.

Seria esperar demais que os senhores bispos ouvissem mais seu próprio papa e menos os vampiros que baixam agora em Curitiba?  Segundo a religião que pregam, a  infinita misericórdia do Deus em que talvez acreditem dá chances a todos até o último minuto.

Por Vilma Gryzinski

3 comentários:

  1. Prezado Armando - Parabéns por mais uma postagem recheada de matérias interessantes. O leitor agradece.

    Um bom exemplo de religioso que não soube viver em paz nem com sua igreja é o Leonardo Boff. Esteve sempre acima de todos, só ele estava certo, só ele sabia. De tanto defender o Lula, o PT e seus fanáticos terminou sendo obrigado, depois de velho, a firmar depoimentos negativos sobre o Cara. Esse Boff é um bofe. Um pastor perdido.

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  2. Também o Frei Beto (que chegou a trabalhar como assessor de Lula na primeira administração do Pajé) é outro exemplo de um religioso desviado que não tem apoio dos fiéis.

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  3. Prezado amigo Armando - Que ninguém se ofenda com minha declaração, mas eu acho que dos "FREI" o que mais se identifica com a Igreja do Lula é o Frei Chico.

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