Fui seu aluno. A ele devo os meus estudos, relativamente aos antigos cursos de Humanidades (ou Ginasial) e o Científico, como se chamavam, àquela época. Explico. Oriundo de família pobre, meu pai não tinha condições de pagar um colégio particular para o filho mais velho, pois tinha mais nove filhos para sustentar com o pequeno salário de funcionário público.
Mesmo assim fui matriculado no Colégio Diocesano do Crato para fazer o antigo Exame de Admissão ao Ginásio. Concluído este, estavam em curso as providências de minha transferência para uma escola pública, quando, certo dia, Mons. Montenegro me encontrou, num intervalo de aula, e disse:
“Vou conseguir uma bolsa de estudo para você. Só espero que, no futuro, você não me atire pedras, como têm feito muitos a quem tenho ajudado”.
E foi graças a essa “bolsa de estudo” que me eduquei no melhor colégio da cidade. E graças ao que aprendi no Colégio Diocesano do Crato, consegui, posteriormente aprovação em concurso público do Banco do Nordeste, no qual trabalhei por cerca de 36 anos, chegando a galgar, naquela instituição, elevadas posições.
Monsenhor Montenegro era austero, sério, mas sempre comunicativo! Em algumas ocasiões, tinha rasgos de generosidade que causavam admiração. Tendo dedicado quase toda a sua vida à educação, principalmente na direção do Colégio Diocesano do Crato, esta atividade lhe proporcionou conviver com pessoas de diversas categorias sociais. Nesse mister, conseguiu fazer dezenas de centenas de amigos. Foi padrinho de batismo de bom número de crianças, com cujos pais cultivou laços de amizade. O seu concorrido sepultamento é uma prova do que afirmo.
Nos últimos anos de sua vida, já na ancianidade, exerceu unicamente atividades pastorais, principalmente na Capela de Nossa Senhora da Conceição do Bairro Granjeiro, por ele construída e onde repousam seus restos mortais, à espera da ressurreição final.
Foi na sua residência, localizada no mais aprazível bairro da nossa urbe, onde ele escreveu sua pequena mas profunda produção intelectual.
fotos - Simpósio Regional de Educação - Crato 08 a 11 de junho de 1975. Mons. Montenegro (de pé, de batina preta) conversa com o governador Adauto Bezerra, Dom Vicente Matos, General Raimundo Teles Pinheiro, Dr. Luiz de Borba Maranhão. Atrás de Mons. Montenegro, o prof. José do Vale Arraes Feitosa, os demais da foto são ex-alunos do Colégio Diocesano e, o autor do magnifico texto historiador, jornalista e memorialista amigo Armando Lopes Rafael.
A gratidão é a memória do coração. Armando Lopes Rafael é um daqueles amigos que guardamos no coração. Como diziam na antiguidade, pau pra toda obra, madeira de lei, puro jacarandá da Bahia. Tenho muito orgulho de ser seu amigo. A ele minha admiração, estima, respeito e consideração.
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