JEJUAR NÃO É PASSAR FOME - Por Vicente Almeida

Neste período quaresmal, muitos cristãos gostam de jejuar, contudo temos observado um erro de interpretação do que significa de fato jejuar. 

Desde o princípio que a Bíblia, em muitos dos seus capítulos cita as palavras: Jejum, jejuar, e suas derivações, sem maiores detalhes, e como o leitor não está preparado, ou não se esforça para entendê-la, além de não encontrar o que busca, fica ainda mais embaralhado e se liga no primeiro texto que lhe convém. resultando daí, erros consagrados de muitas interpretações oriundas da sua leitura. E esses erros de interpretação, nos fez perder por séculos ou milênios, a verdadeira mensagem que Deus em sua infinita bondade, deseja nos transmitir. 

JEJUAR pode ser: abster-se temporariamente do alimento necessário à vida, ou privar-se de alguma coisa. Mas essa abstenção ou privação, para obter mérito, o praticante precisa associar intenção e vontade de ajudar. 

No caso do jejum, deixar de alimentar-se espontaneamente, sem destinar sua refeição a um necessitado, não é jejuar. Não há mérito algum em suspender a própria alimentação, com o propósito de agradar a Deus. Some-se a isto o fato de que após o dia do jejum alimentício, para compensar, os mais abastados realizam quase um banquete. 

No cristianismo, há dois mandamentos fundamentais que são o sustentáculo da nossa religiosidade: I - "Amar a Deus sobre todas as coisas" II - "Amar ao próximo como a nós mesmos" e Jesus ainda desdobrou este último ensinando: "Fazei ao próximo tudo que gostarias que te fizessem". 

Acreditamos que no princípio, quando os profetas mencionavam o jejum, e quando Jesus e os apóstolos, falavam ou aconselhavam essa prática, havia um objetivo com maior alcance. Essa abstenção ou privação devia de fato resultar em benefício de alguém ou de alguma causa que saneasse dificuldades pessoais ou coletivas, ou ainda como agradecimento a Deus por graças recebidas. 

A própria Bíblia ensina que jejuar, não é somente se abster de alimento. Há muitas formas de jejuar, e resultaria em grande e benéfico exercício quando praticado, não obrigatoriamente no período quaresmal, mas em qualquer dia. 

Entendemos que jejuar é abster-se, é privar-se de algo em benefício de alguém. Que tal se de vez em quando jejuássemos de uma forma diferente e bem mais produtiva? 

Experimente por um dia, e quando decidir, naquele dia o seu jejum seja tomar uma das seguintes atitudes: 

Não julgar as pessoas. Olhar para elas como irmãos e não como inimigos;

Não ser ingrato com aqueles que fazem o possível para te agradar;
Não ser pessimista, pois sabemos que o sol nasce para todos;
Não usar de má fé contra as pessoas, principalmente os oprimidos;
Não provocar espontaneamente a ira dos outros, não tecer intrigas, ou comentários desairosos;
Não se queixar nem se lamentar. Suportar a pequena cruz que lhe foi destinada;
Não tramar em pensamentos (sabemos que é difícil, mas não é impossível);
Não ser desagradável, usando palavras mesquinhas e agressivas;
Não deixar de Respeitar a dor alheia;
Não usar de excessiva preocupação. Tudo Deus proverá no seu devido tempo. Deus nunca tarda, nem chega cedo demais. 

Finalmente, também nesse dia, ache um tempinho para conviver com a família. As pessoas levam o trabalho tão a sério, que às vezes transformam seu lar apenas em um refeitório ou pousada. Não vêem e não acompanham ali as dificuldades do cônjuge na sua luta diária. Alguns pais nem percebem o quanto os filhos dariam para ter um dedo de prosa com eles, para lhes contar do seu progresso na escola, do primeiro amor e dos seus temores. 

Nossa compreensão nos diz ser esta a forma de jejuar que o Criador deseja que pratiquemos. Assim exercitaremos nossa mente na direção de um objetivo, e qualquer que seja, deve ser benigno. A prática do amor, nos levará a purificação do corpo tornando-o saudável, liberando a alma para se elevar à a Deus. 

O ato de jejuar é uma grande prece. Deve-se, portanto, orar sempre pelo próximo, e agradecer mais do que pedir. Quanto mais desprendimento na oração, mais a criatura se aproximará do Criador. 

A mais perfeita descrição bíblica sobre o jejum, está em Isaías capítulo 58, versículos 6... Que diz textualmente: "Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo. É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante... 

...E o Senhor continua: "Assim será SE expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações, então tua luz surgirá como a aurora, e tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se; tua justiça caminhará diante de ti, e a glória do Senhor seguirá na tua retaguarda". 

"Então às tuas invocações, o Senhor responderá, e a teus gritos dirá: Eis-me aqui! Assim será, SE expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações."

Tenha um ótimo segundo domingo quaresmal.

 Escrito por Vicente Almeida
04/03/2012