Os nossos patrões não aguentaram a cobrança de tantos impostos para um produto tão barato. A nobreza dos engenhos "só nós sentia".
Para me deixar assim, num ponto cheiroso e efervescente, muita coisa se mexia : o corte da cana, os cambiteiros, o transitar dos burros, o espalhar do bagaço, os tanques de garapa, o curral com o chocalho tinindo vida rural...tudo era movimento.
Ninguém pode fazer nada para que eu seguisse fervendo, tornando-me rapadura. Na certa, os homens de Brasília e de outras terras não gostam de comer rapadura na casca do pau da lenha.
Eu, enquanto mel, achava bonito me derramarem na gamela para ser mexido. Também, achava uma beleza as rapaduras se desprendendo das caixas em cima do bagaço.
Já não caio na gamela efervescendo-me. Evaporou-se o meu cheiro enebriante exalado do fundo do tacho. O mestre já não precisa dar o ponto para se obter a melhor rapadura, e, nem o tocador de fogo se esforçará para colocar o bagaço seco na boca da fornalha. Aquela beleza da cana pendoada se foi. E eu choro um choro amargo de não fabricar a doce rapadura.
Os engenhos de pé de serra de Porteiras e muitos de Barbalha foram para a sepultura. Para o investidor sabido vale mais a cana, o açúcar, o álcool e outros negócios mais sofisticados e não artesanais.
Eu como mel, esfriei o fundo do tacho e neste achado de falar, quero esquentar, ferver as consciências dos que fizeram a destruição dos engenhos em nome do que se chama progresso ou coisa parecida.
Um texto de agradável leitura. Uma discrição melancólica que só os saudosistas sabem sentir e escrever.
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