BOIADA DE CURURU.
Chico Danga quando tirava para beber, passava semanas num porre só. Numa dessas vezes ele passava embriagado próximo da lagoa de Luís Diniz, quando escutou o barulho de crianças na margem da lagoa e foi por curiosidade saber o que estava acontecendo.
As crianças eram dois filhos do pedreiro Belim e mais dois amigos que faziam uma brincadeira no mínimo extravagante. Eles arranjaram umas sextas velhas e fizeram um mini-curral nas proximidades da lagoa.
A brincadeira consistia em conduzir os sapos da lagoa para o curral como se fossem gado. Um dos meninos aboiava e tratava o gado pelos nomes. O touro era; Lindomar Castilho, as vacas eram; Wanderléia, Rosimayre e Núbia Lafayete. As novias eram; Silvinha e Lilian e os garrotes eram; Nilton, Airton e Kléber.
Chico Danga aproximou-se e chamou à atenção do filho de Belim:
- Meu fí. Acabe cum essa brincadeira qui isso aí num tem futuro não.
- Eu sei que não tem. Se tivesse futuro, quem tava aqui com esse gado era Seu Toim Costa e Seu André Meneses.
- Apois é milhor você parar qui cururu é bicho nojento.
- Nojento é tu, Chico. Depois que tu chegou com essa conversa besta, os garrotes escaparam por baixo da cerca.
- Apois eu vou precurar Belim e dizer a ele.
- Não precisa você procurar não. Eu vou dizer onde é que ele tá trabalhando. Ele tá fazendo um serviço lá na casa de Seu Pedro Lourenço. A casa dele é de lado da igreja. Mas arribe logo daqui antes que nós esfregue o resto do gado na sua cara.
Chico saiu bufando de raiva e foi falar com os pais dos garotos. Na chegada ele avistou Belim trabalhando no telhado e foi logo gritando:
- Ei. Belim ! Deça daí de riba qui eu priciso falar cum você.
- Mas Chico, eu tou muito ocupado, não posso descer agora não.
- Mais a istora qui eu quero falar com você é sera.
- Pois diga daí que eu escuto daqui.
- E pruque eu passei ali na bêra da lagoa de Luís Diniz e ví teus minino brincando cum cururu.
- E o que é que tem Chico?
É pruque cururu é venenoso.
- Que conversa mais besta é essa Chico. Eu nunca ví falar que sapo envenenasse ninguém.
- Apois isturdia eu tava bebo lá na Betânia, aí apareceu um cururu, aí eu peguei no mei do bicho e dei uma murdida na boca dele, aí meus dente caiu tudim. Foi priciso mãe vender as galinha dela pra pudê pagar a Seu Diassis Militão, prumode ele fazer uma chapa pra eu.
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