Ah! As voltas que o mundo dá...
Um dos personagens mais desconhecidos (e também dos mais caluniados) na
história do Brasil é Antônio Vicente Mendes Maciel, o célebre Antônio Conselheiro.
O papel que ele realmente desempenhou, no Arraial do Belo Monte (mais
conhecido pela mídia e historiografia como Canudos), ainda está para ser
fielmente divulgado para conhecimento dos brasileiros. Mas, como bem
lembra Charlie Chaplin, “O tempo é o melhor autor; ele sempre encontra
um final perfeito”. Quem sabe, um dia, a verdade aflorará para Antônio
Conselheiro, pois a verdade sempre aparece!
O DIA DEPOIS DO CRIME - Sertanejos aprisionados pelo Exército em Canudos: eles não ansiavam pelo fim do mundo (Foto e legenda da revista "Veja")
Graças às pacientes pesquisas do historiador Pedro Lima Vasconcellos foi recentemente publicado um bem preparado Box, composto por dois volumes, com o título: “Antônio Conselheiro por ele mesmo”.
Trata-se de duas obras que desmistificam o que erroneamente vem sendo
publicado – ao longo de 120 anos – sobre o injustiçado Conselheiro. No
volume 1 – Apontamentos dos Preceitos da Divina Lei de Nosso Senhor Jesus Cristo, para a Salvação dos Homens
–, de autoria do próprio Antônio Conselheiro, consta uma coletânea de
reflexões sobre temas variados, de matiz fundamentalmente religioso,
escrito durante a época em ele era o líder do vilarejo, por ele batizado
de Belo Monte. Já o volume 2, de autoria de Pedro Lima Vasconcellos – Arqueologia de um Monumento – Os Apontamentos de Antônio Conselheiro –, apresenta um estudo sobre o conteúdo das reflexões de Antônio Conselheiro, mostradas no volume 1.
A mais importante revista brasileira, “Veja”, edição de 22 de março de
2017, dedicou quatro páginas às obras acima citadas. Da matéria, sob o
título “Um sereno messianismo”, transcrevo os textos abaixo:
INIMIGO DA REPÚBLICA - O provável cadáver de Antônio Conselheiro: obediência só aos poderes que vêm de Deus (Foto e legenda da revista "Veja")
“Escritos
até hoje inéditos de Antônio Conselheiro apresentam o líder de Canudos
como uma figura bem diversa do fanático milenarista pintado por Euclides
da Cunha”.
“(...) os Apontamentos
constituem uma novidade: encontra-se ali um Antônio Conselheiro diverso
do líder messiânico e milenarista consagrado pela tradição. E nada
sugere as patologias psiquiátricas e degenerescências raciais que
Euclides da Cunha atribui ao Conselheiro no clássico maior sobre a
Guerra de Canudos, Os Sertões. Será difícil encontrar aqui as
“aberrações católicas”, o “fetichismo bárbaro” e o” misticismo feroz e
extravagante” de que fala Euclides. No geral, o estilo é sereno,
plácido, até enfadonho. Não há profecias sobre a transformação do sertão
em praia e da praia em sertão, nem se prefigura o retorno de dom
Sebastião, o jovem rei português morto na batalha de Alcácer-Quibir, em
1578”.
“Os temas sobre os quais o
Conselheiro discorre são convencionalmente católicos: os dez
mandamentos– há uma prédica para cada um deles –, a missa, a confissão, a
paixão de Cristo, entre outros. Na prédica dedicada à “Justiça de
Deus”, o tema é o Juízo final – mas não há nenhuma indicação de que o
autor acreditasse na iminência do apocalipse: recomenda-se apenas que os
fiéis “deixem a estrada da perdição e entrem na vereda da vida”,
preparando-se para a hora da morte”.
“Nos
anos 70, por obra do estudioso Ataliba Nogueira, já fora editado um
outro caderno de escritos do Conselheiro, datado de 1897, ano em que o
Arraial de Canudos foi massacrado pelo Exército”. “Nos cadernos
publicados por Ataliba Nogueira, havia um sermão contra a República. Nos
Apontamentos, a recusa ao novo regime (implantado no Brasil pelo golpe
militar de 15 de novembro de 1889) se faz pelo silêncio”.
“(...)
Portanto, deve-se obedecer “ao Pontífice, ao Príncipe, ao Pai”. O
presidente não consta dessa sequência de pês, o que configura, como
observa Pedro Vasconcellos, uma omissão eloquente”.
“Talvez
o mais inusitado seja ver o homem que Euclides chamou de “gnóstico
bronco” recorrer a excertos de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino,
entre outros doutores da Igreja. Não, Antônio Conselheiro não terá lido
as Confissões ou a Suma Teológica. Buscou essas citações em duas obras de proselitismo católico: Compendio Narrativo do Peregrino da América, de Nuno Marques Pereira e Missão Abreviada, de Manoel José Gonçalves Couto”.
“Missão
Abreviada é um livro de antipática rigidez doutrinária, O Conselheiro,
muito diferente, preferia exortar o amor de Jesus Cristo a amedrontar
com a visão dos suplícios eternos do inferno”.
*** *** ***
Abro um parêntesis, antes de citar a frase final da reportagem de
“Veja”, para lembrar que Antônio Conselheiro teve, intuitivamente,
quarenta anos antes das verdades reveladas por Nosso Senhor Jesus
Cristo, nas aparições década de 1930, à Santa Faustina. Naqueles anos,
dentre outras coisas, Jesus Cristo garantiu à freira polonesa: “Não
quero castigar a sofrida humanidade, mas desejo curá-la estreitando-a ao
meu misericordioso coração”. “(...) escreve que sou mais generoso para
com os pecadores do que para os justos. Por eles desci à terra... por
eles derramei meu sangue. Que não tenham medo de se aproximar de mim;
são eles que mais necessitam da minha misericórdia”.
Dito isso transcrevo a frase final da reportagem da revista “Veja”:
“À
luz desse documento, a eliminação de Canudos talvez pareça ainda mais
ignominiosa. Nesse ponto, Euclides da Cunha ainda está certo: foi um
crime”.
DISTORÇÕES
Euclides da Cunha: para o autor de Os Sertões, Antônio Conselheiro era
um caso de "misticismo bárbaro" (Legenda da revista "Veja")
Postado por Armando Lopes Rafael
Antônio Vicente Mendes Maciel nasceu em Nova Vila de Campo Maior (hoje Quixeramobim,no Estado do Ceará) em 13 de março de 1830 e falecido em Arraial do Belo Monte (hoje Canudos) , 22 de setembro de 1897), mais conhecido na História do Brasil como Antônio Conselheiro, que se autodenominava "o peregrino", foi um líder religioso brasileiro.
ResponderExcluirAos 27 anos, perdeu o pai e começou a cuidar da loja da família, com a qual sustentava as quatro irmãs. Ficou dois anos à frente do negócio e, depois, passou a dar aulas numa escola de fazenda. Graças aos seus estudos e esforço tornou-se escrivão de cartório, solicitador (encarregado de encaminhar petições ao poder Judiciário) e rábula (advogado sem diploma). Estaria encaminhado profissionalmente, caso um problema pessoal não viesse mudar radicalmente sua vida.
Depois de casado, Antônio Maciel foi traído pela mulher que fugiu com outro homem. Transtornado pela humilhação, começou a perambular sem destino certo pelo interior do Ceará e de outros Estados do Nordeste. Para sobreviver, trabalhou como pedreiro e construtor, ofício aprendido com o pai. Restaurava e construía capelas, igrejas e cemitérios.
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ResponderExcluirEsse trabalho e as pregações do padre Ibiapina - que peregrinava pelo sertão fazendo obra de caridade - influenciaram Antônio Maciel. Ele passou a ler os Evangelhos e a divulgá-los entre o povo humilde, ouvindo também os problemas e aconselhando-os. Daí vem o nome de “Conselheiro”. Padre Ibiapina sugeriu que ele procurasse outros estados do Nordeste para continuar suas pregações junto aos humildes.
Figura carismática, adquiriu uma dimensão messiânica ao liderar o arraial de Canudos, um pequeno vilarejo no sertão da Bahia, que atraiu milhares de sertanejos, entre camponeses, índios e escravos recém-libertos, e que foi destruído pelo Exército da República na chamada Guerra de Canudos em 1896.
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ResponderExcluirA imprensa dos primeiros anos da República e muitos historiadores, para justificar o genocídio, retrataram-no como um louco, fanático religioso e contrarrevolucionário monarquista perigoso. Antônio Conselheiro liderou e organizou o Arraial de Canudos de forma que o local cresceu e começou a causar preocupações nas autoridades políticas e nos fazendeiros da região. Foi chamado de monarquista e inimigo da República.
O governo federal, com auxílio de tropas locais, organizou uma grande ofensiva militar contra o arraial liderado por Conselheiro. O conflito armado, conhecido como Guerra de Canudos, ocorreu entre 1896 e 1897. Ocorreu aí um verdadeiro genocídio em relação aos sertanejos que foram atacados onde moravam e apenas se defenderam.
Antônio Conselheiro foi morto durante as batalhas em 22 de setembro de 1897, provavelmente, por ferimentos causados por uma granada.
Tempos depois deste episodio lamentável, se repetiu no Caldeirão as mesmas atrocidades até hoje mal contadas, como no caso do Antonio Conselheiro.
ResponderExcluirAmbos os casos mostram a truculência das autoridades republicanas.
ResponderExcluirDiz Hoornaert, Antônio Conselheiro, quando jovem, foi caixeiro viajante e auxiliar de cartório e também professor.
ResponderExcluirBlog da Filia - Obrigado pela visita e pelas informações importantes a cerca do Antonio Conselheiro.
ResponderExcluirInteressante que a cada leitura deste artigo, mais se desmoraliza a Republica Federativa do Brasil... Bem disse o "proclamador" dela em carta a um sobrinho: "República e desgraça no Brasil é a mesma coisa". é a "Justiça de Deus na voz da História"...
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