Dr. José Sávio Pinheiro, medico, escritor, poeta, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.
Em meados do século vinte, a meninada do interior do país possuía uma verve mais dinâmica e criativa, se comparada à garotada atual. As crianças extraíam de suas mentes férteis e da natureza as mais legítimas inspirações para manufaturarem diversas formas de entretenimento.
O pião, brinquedo piriforme, com uma ponta de ferro, que gira impulsionado por um cordão, quando desenrolado bruscamente; a baladeira, forquilha de madeira, munida de elástico, com que se atiram pequenas pedras; o bodoque, arco para atirar bolas de barro endurecidas ao fogo; o cavalo-de-pau, brinquedo que simboliza um animal de montaria, derivado do talo da carnaúba, que serve para a encenação de cavalhadas e vaquejadas; o carro-de-latas, miniatura de automóvel, confeccionado com latas de óleo comestível, além de uma infinidade de passatempos sem interferência industrial ou comercial.
Todavia, a confecção de um brinquedo que ganhou o mundo em popularidade devido aos campeonatos mundiais de futebol, que encantava crianças e adolescentes, era a cilíndrica, envolvente e majestosa bola de futebol. Consegui-la nas nossas brincadeiras era quase impossível, diante das dificuldades financeiras daquele pequeno grupo de atletas mirins. Porém, o sonho de vê-la rolando nos campos improvisados, sob os nossos pés, era a mais pura realidade.
A bola tradicional de borracha ou couro era uma utopia, daí termos de improvisar e construir aquele objeto tão desejado. O primeiro passo seria conseguir uma meia, geralmente dos nossos pais, o que era teoricamente impossível, pois aquele par jamais poderia ficar ímpar, segundo a argumentação das nossas mães. E, para dificultar ainda mais, o estoque era muito limitado, já que os nossos genitores não usufruíam, rotineiramente, de tal indumentária.
Conseguida a dificílima peça de algodão ou náilon, na maioria das vezes subtraída, ilegalmente, restava arregimentar um amigo para conseguir o algodão descaroçado ou alguns pedaços de pano macio para formatar a futura bola, que iria ser lançada no campo sagrado da nossa imaginação para a alegria da nossa infantilidade.
Sem meias palavras, a bola de meia, feita de meia (em parceria), era chutada com um pé sem meia, dando ao pequeno atleta, além de um dolorido calo de sangue no dedão, um poder só encontrado no mais profundo plano da sua imaginação.
Dr. Savio.
ResponderExcluirLi seu texto. Tive saudades. Como um filme passou em minha frente pião,jogando um boi. Bodoque, atirando em beija-flor pra ficar certeiro. Cavalo de pau, feito vaqueiro no mato. Carro de lata, não, não tinham latas, bola de meia, não, faltavam meias. Jogavamos com trapiá, ginipapo, goiaba verde até virar bandas. As unhas dos meus dedos dos pés ficaram como testemunhas, arrancaram-se todas, mas não houve epoca mais bonita e que me cause mais saudades. Parabens pelo texto.
Um grande abraço.
Sávio,belo texto,já estou aguardando com ansiedade o próximo da sexta-feira.Você fez voltarmos as travessuras de crianças.Agora chamo à atenção o quanto a mídia influencia os nossos gostos.Todas as brincadeiras de criança a que sobressaía,era a do futebol,mesmo naquela época, o rádio já glorificava o futebol,o Brasil tri-campeão.Parabens.
ResponderExcluirEste texto me trouxe agradável leitura.
ResponderExcluirQuando fico “filosofando” sozinho, costumo ter pena das crianças de hoje em dia.
Alguém perguntará: pena, por que, se os brinquedos, acessíveis e baratos,existem à profusão nas lojas de 1 Real?
Pena porque são brinquedos “globalizados”, que nada têm a ver com a nossa cultura.
Lamento, ainda, porque a facilidade de comprar brinquedos acabou com a criatividade das nossas crianças. Não existe mais imaginação para criar brinquedos, como antigamente...
Hoje proliferam brinquedos criados dentro da tecnologia, como os jogos de vídeos-game, que são usados solitariamente e, consequentemente, levam as crianças a atividades sedentárias.
O Sávio está coberto de razão!
Os brinquedos de antigamente eram divertidos; estimulavam as crianças para uma vida saudável e solidária! Contribuíam ainda para o desenvolvimento do companheirismo e da amizade... Possibilitavam aprendizado e a descoberta do mundo a nós que fomos crianças em décadas passadas...
Já hoje...
Dr. Savio.
ResponderExcluirQue eu me lembro o primeiro presente que recebi foi do meu avô. Um bodoque, feito de mufumbo, uma manhã toda de trabalho, depois de lixado, colocou-se um cordão, fez-se a sangra, botou-se um canario e estava pronto. Inventei de cassar e como sou muito ruim certeiro, a unica coisa que acertei foi a cabeça do dedo. Tenho como lembrança, está bem guardado no armador do meu quarto. Cassar de bodoque: a minha expectativa foi bem maior do que a realização.
Abraço.
E os brinquedos de meninas, Sávio, não sei se você lembra. Adorava jogar de pedrinha, macaca (amarelinha). Tudo tão singelo e tão prazeroso, nada de brinquedo de loja. Hoje as crianças só se ligam em brinquedos em grandes marcas. Sou mais a nossa época, acho que a gente era mais feliz, pelo menos a gente podia brincar sossegada na calçada, na pracinha, sem medo de ser feliz.Parabéns pelo belo texto.
ResponderExcluirLendo o excelente texto do poeta
ResponderExcluirSávio, me lembrei que pela carência
financeira dos meus pais, eu mesmo
Desenvolvia meus brinquedos.
Há poucos dias eu fiz um brinquedo
para minha neta Maria Eduarda, que fez com que ela desprezasse,vàrios
brinquedos de lojas como; Bicicletas,Bonecas e outras coisas mais.
O brinquedo:
Uma caixa de pepelão fechada, onde tinha apenas um buraco numa lateral
que coubesse o braço. numa ponta da
caixa, uma casinha de cahorro e na porta uma cadela de plástico colada numa moeda. Na outra ponta, um cachorrinho colado também numa moeda.
A educativa brincadeira consistía
em conduzir o filhote através de
ímã por dentro da caixa, passando por alguns obstáculos,
até o encontro dos dois, onde pela atração do ímã ficavam juntos.
Grande abraço de Jatí.
Para o autor do texto e os comentaristas.
Um texto para recordar... Eu em minha pequena, mas bela Rua de São Geraldo no Icó também brincava o meu futebolzinho e quando todos os outros tinham rasgado sua bola no arame era a minha vez de ser o Juca o dona da bola aquele da obra do Mario Lago. A Rua era nossa exercitavamos braços e pernas com brincadeiras de manja, o famoso pega-pega bandeira e nosso sagrado futebol que era completado com um gostoso banho no rio salgado...
ResponderExcluirÊ sodade!
Parabéns pela crônica.
Dr. Sávio,ótimo texto, como sempre. Não cheguei a jogar futebol com bolas de meia, mas joguei muito pião, bila e outros do tipo. Apesar disso confesso que o video-game sempre estava lá... Apresentamos (eu e Higor) seu trabalho de cordel na faculdade e houve ótima repercussão. Em janeiro estaremos trabalhando em Cariús e com certeza nos veremos.
ResponderExcluirHugo Palácio
Comentário ao meu comentário
ResponderExcluirQuando digo que era o Juca o dono da bola é que eu era tão ruim que para jogar tinha que ser o dono da bola. Minha felicidade consistia apenas na promessa de pegar escrete no time da nossa rua, que acabou se tornando o time oficial da cidade, Os Onze Velozes. Só tinha figurões, veja lista completa:
Fuica,bilica,Dedé de ninita, cizim, ciçu de nega,toim,olavo,bolinha,chico de badu,uito,waldenir,cucua,zé de zumira,dedé de zulene,seu maicon e tatinha. Agora descubra qual era meu apelido.
Sávio.
ResponderExcluirLi com muita atenção seu "SEXTA DE TEXTO". E afirmo que você não só é
cordelista, escritor e poeta, é filósofo.E, lendo todos os comentários uma coisa me achamou a atenção. Vocês já conviviam com "A BANANA" e eu, foi com "O ABACAXI"kkkkkkkkkkkkkk
As minhas brincadeiras de criança esra de toca, chicote queimado; no intervalo de umas latas dágua na cabeça daquele velho CACIMBÃO que você bem conhece, lá na PICADA!kkkkkkkkkkk.
Hugo Palacio.
ResponderExcluirPela primeira vez vi a sua visita ao nosso Blog. Agradeço pelo comentario e pela contribuição. Volte sempre. Abraços.
A. Morais
Dr. Sávio excelente texto. O povo sempre fala relembrar o passado é sofrer duas vezes. Não concordo com esse adágio popular, pois para mim e prazeroso, trazem recordações que na verdade marcaram um evo de profundas grandezas e que jamais vão ser esquecidas.
ResponderExcluirFaltou você falar da bola de bexiga, onde a concorrência na matança do gado erra bastante concorrida para adquiri-la. A peteca que além dos jovens atraiam os nossos pais no que se refere ao lazer. A gala marte, que muitas vezes rasgava os nossos calções e era motivo de peia quando chegava em casa. A besta com o seu arco que atirava flechas e pedras, a funda que servia de apoio nos pastoramento de arroz e o saudoso birimbal, instrumento de fácil aquisição no que se refere a sua fabricação.
É...
ResponderExcluirMeu caro Dr. Sávio
Bela postagem. Parabens.
Também sou daquele tempo do futebol rasteiro. Nasci em um sítio chamado Belmonte, aqui no Crato.
A bola que usávamos, era feita de papo de galinha.
No dia em que a minha mãe ia matar uma galinha, eu convidava os meninos para uma pelada e improvisávamos um campinho.
Normalmente usávamos o nosso terreiro ou a estrada. Precisávamos selecionar bem o lugar da jogada que devia ser livre de pedregulhos e espinhos.
A bola improvisada era cheia de água...
...E começava o jogo, que durava tanto quanto a bola. Bastava um chute mais forte e adeus futebol.
Abraços do
Vicente Almeida
Lendo esse belo texto do Dr. Sávio, fico imaginando como as condições financeiras de então eram precárias, comparando-se com o que ocorre atualmente. Lembro que, quando menino, para se comprar uma bola da marca "Canarinho" ou "Pelé", que eram o máximo em matéria de sofisticação, fazia-se uma cota entre os componentes da agremiação futebolístca. E passavam-se dias para compor a arrecsdação. Atualmente, uma bola daquelas que era nossos sonhos, as crianças não querem nem ver.
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