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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 3 de fevereiro de 2019

Dois fatos históricos ocorridos em Crato no século XIX -- por Armando Lopes Rafael


1 – A Revolução Pernambucana de 1817

 Revolução Pernambucana de 1817 em Crato. No Cariri o movimento 
foi feito pela família Alencar e seus agregados

       Qual a postura das famílias caririenses na época do Brasil-Colônia? Os clãs viviam sob a forte influência da Igreja católica. Isso, certamente, teve influência para o fracasso dos revolucionários republicanos de Pernambuco de 1817 na sua investida no Sul do Ceará. Os revolucionários de Recife enviaram ao Cariri o subdiácono José Martiniano de Alencar, filho desta região, para levantar o povo contra a Família Real que residia no Rio de Janeiro, sob a liderança do Rei de Portugal, Brasil e Algarves, Dom João VI.

        Aqui chegando, o seminarista Alencar procurou logo a mais importante liderança desta região, o fidalgo e grande proprietário rural Leandro Bezerra Monteiro, à época Comandante do Regimento de Cavalaria de Milícias de Crato. José Martiniano acenou para Leandro  com vantagens para este aderir à Revolução. Sobre Leandro Bezerra Monteiro, assim se referiu Gustavo Barroso literalmente: “Homem equilibrado e sensato, nunca deixou de ser fator ponderável de equilíbrio social, naturalmente defendendo o que se chamava conservadorismo”. 

         Não contava, pois, o jovem seminarista Alencar deparar-se com a solidez dos princípios religiosos e a lealdade que o Comandante das Milícias de Crato sempre tivera para com a Monarquia e a Dinastia dos Bragança.

         Em resumo, assim descreveu o historiador Joaquim Dias da Rocha sobre o final da visita de abordagem feita pelo seminarista José Martiniano de Alencar a Leandro Bezerra Monteiro, numa das propriedades rurais deste último:
“O entusiasta propagandista esgotou em pura perda o arsenal de argumentos que trazia aparelhados; e desanimou quando, afinal, se resumiu o velho monarquista:
–“Padre José – disse Leandro Bezerra – é ainda cedo para a nossa emancipação; quanto à república, ela me terá sempre como acérrimo inimigo".

2 – A Guerra do Pinto
Casa existente em 1834, na Praça da Sé, em Crato, onde foi julgado e condenado à força o Coronel Pinto Madeira. A sentença foi comutada, depois,  para fuzilamento do réu. Parte desta casa ainda existe,  na esquina da Praça da Sé com Rua Dom Quintino.

       Abordemos, agora, outro episódio da nossa histórica. Em 1832, o Cariri seria sacudido por outro movimento, desta feita liderado por Joaquim Pinto Madeira, que era, à época, o Capitão de Ordenanças e Coronel de Milícias de Crato, o qual, no auge do seu prestígio, era chamado – pelo povo – de Governador do Centro do Ceará. Isso porque a influência de Pinto Madeira se espalhava desde  a cidade de Quixeramobim, no Sertão Central até as terras do Cariri, numa distância de quase 400 Km.  Afeiçoado por índole às coisas da Monarquia e à Dinastia dos Bragança, Pinto Madeira lutou ativamente contra os que promoveram os movimentos republicanos da Revolução Pernambucana, em 1817 e da Confederação do Equador, em 1824.  A esse respeito assim escreveu o historiador Irineu Pinheiro: “Nunca perdoaram os Alencares e os liberais cratenses a ação de Joaquim Pinto Madeira naquelas duas agitadas fases da nossa história”. 

      Pois bem, quando Dom Pedro I renunciou ao trono brasileiro, em 1831, Pinto Madeira não se conformou, pois acreditava, erroneamente, que o gesto do nosso primeiro imperador teria sido forçado a isso pelos liberais. Pinto Madeira pegou em armas, invadindo várias cidades do Sul do Ceará, com o objetivo de permitir a continuidade do Reinado de Dom Pedro I. No entanto, os tempos eram outros, bem diferentes de 1817 e 1824. Estávamos já na época das Regências que governaram o Brasil até a maioridade do Imperador Pedro II. E o governador do Ceará não era outro, senão o Padre José Martiniano de Alencar, aquele antigo seminarista revolucionário de 1817, inimigo de Pinto Madeira. Em resumo: tudo terminou com o fuzilamento de Pinto Madeira, fato ocorrido em 1834, na cidade de Crato.

   Quando a primeira saraivada de bala o abateu, Pinto Madeira ainda teve forças para gritar:
    – Valha-me o Santíssimo Sacramento.
   Passou à história do Ceará como “O Mártir da Monarquia”.

Um comentário:

  1. Dois fatos de importância impar na história do Crato e da região.

    Parabéns pela riqueza de detalhes e informações.

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