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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 5 de julho de 2011

FOI CAIM - Por Mundim do Vale.



No tempo do assassinato do Sr. Abel Domingues, Várzea Alegre ficou tensa e curiosa, para saber alguma coisa sobre o crime violento e misterioso.
As pessoas cochichavam mas ninguém arriscava um palpite para dizer os nomes dos assassinos e nem dos mandantes.
Um dia eu estava tomando umas cervejas com Carlito Cassundé, quando chegou Valeriano variando o juízo e falando do crime:
- Eita qui já morreu Abel e ainda vai morrer mais gente!
Carlito falou:
- Valeriano, tu cala tua boca porque se não, tu pode ser o próximo.
- Eu mermo não. Qui eu tem o coipo fechado.
- Pois diga quem foi que matou abel?
- Foi Lampeão e os cangaceiros. Eu vi quando Lampeão tacou um punhal no peito dele.
- Que conversa mais doida é essa, Valeriano? Abel morreu foi de bala.
- Foi não foi de punhal.
- E aquelas balas que o médico tirou do corpo dele?
- Foi quando ele atirou nos cabras e as balas bateram no tubo da usina e adispois vortaro.
- Não Valeriano sua história ta furada.
- Ta não ome.lampeão nunca gostou de revove, uma vez ele tava acoitado cum o bando lá no Mameluco e eu fui vender um revove
Qui eu tinha apanhado de Raimundo Mouco, mais ele ficou virado na peste. Juntou a cabroeira e deu a orde:
Pegue esse revove e meta no fundo desse cabra, depois mate ele
E jogue o coipo no porão do açude.
- E que foi que tu fizeste no meio de tantos cangaceiros?
- Num teve jeito, eles fisero o sirviço, mataro eu e adispois jogaro meu coipo no porão do açude. Mais mãe acendeu uma vela na capela do rubão e fez uma promessa pra São Raimundo aí eu invivicí.
Foi quando chegou a minha vez de questionar também:
- É Valeriano. Sua história não tem nada a ver.
- Apois quem foi qui matou Abel?
- Foi Caim.

2 comentários:

  1. Mundim.

    O medo era grande. A boca era quente. Frazo do Garrote era vivo e não se atreveu a comentar. Só o Valeriano mesmo e, com bastante cautela.

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  2. é pra quem conheceu valeriano como eu ele até que tava normal nesse dia, eu já conhecia essa história, mas tornei a rir novamente, essa história é muito boa

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