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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

UM ANIMAL SAGRADO - POR ANTONIO MORAIS



Os do Sanharol dizem que o causo se deu no Roçado Dentro. Já os do Roçado Dentro asseguram que foi no Sanharol. Eu não digo nada, me abstenho, as localidades são muito semelhantes na geografia e praticamente iguais na historia. 

A ocorrência versa sobre um animalzinho sagrado para os habitantes do lugarejo. Batelão, o jumentinho de dona Belizária, uma vendedora de agua de porta em porta, caiu em depressão. Não balançava o rabo, não abanava as orelhas, dos olhos escorria agua, fucinho ressecada, barriga igual a zabumba, e já há mais de um mês sem cagar.

Mas, como foi acontecer uma coisas dessas? Só podia ter sido agoro, feitiço, mal olhado, para o bichinho ficar com a espinhela caída. Ofereceram-lhe todo tipo de mezinha e nem um sinal de melhora. Cada vez se definhava mais. 

Por fim apelaram para ultima alternativa que restava: se há gente com poder de fazer o mal, há de ter alguém com o mesmo poder para pratica do bem. Assim o povo todo foi convocado para salvar o animalzinho da morte.

Introduziram no fundo do jumentinho um canudo e cada cidadão ou cidadã soprava para expulsar o mal que se abatia sobre Batelão. Quando todos já haviam soprados, sem nenhuma melhora aparente, o prefeito Pantaleão Trambicando Neto se ofereceu para dar o sopro oficial. 

 Acionado o cerimonial, foguetão riscando os céus, a banda de musica executando o hino: Saudades dos bons costumes, aproxima-se a comitiva. A frente a primeira Dama Mandalina das Ordens e o seu chefe de gabinete Belarmino Subserviente Sobrinho.

De microfone em punho é feito o anuncio: o representante do povo, ali estava para num ato de humanidade, tentar salvar o Burrico de dona Belizaria. Antes porém, vamos inverter a posição do canudo, todos hão de convir que o senhor prefeito não pode colocar a boca onde todos já botaram!

Trocada a posição do canudo, vejam onde o prefeito foi soprar, talvez seja por essa razão que por lá dizem que: assim como o lixo atrai as moscas o poder atrai os bajuladores. 

Não houve remédio, Batelão bateu a biela e o prefeito construi um monumento para sua homenagem na entrada da cidade.

4 comentários:

  1. Antonio Morais,

    Tenho acompanhado silenciosamente seu Blog. Inclusive quero lhe elogiar pela efervescência e bom humor dos temas, pela sensível escolha das músicas e sobretudo dos seus bons comentários sobre elas...
    Ando com um horário apertado na universidade e isto me priva muitas vezes de ir até onde quero e dispor de tempo para fazer comentários, mas quero reafirmar que todos os artigos postados são de muito bom gosto refletindo a alma alegre e virtuosa do Antonio Morais...

    Abraço,

    Tenha-me como fã e seguidora inconteste.

    Claude

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  2. Claude.

    Muito obrigado pela comentario, pelos elogios exagerados. O que me despertou mais em o Animal Sagrado foi exatamente o cuidado do Chefe de Gabinete para trocar a posição do canudo na hora do Prefeito soprar. A encomenda foi pior do que a receita.
    Abraços.

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  3. Na entrada de V.A. vindo do Sanharol tem uma homenagem a todos os jumentos e ao nosso grande conterrâneo Padre Veira defensor incontestável deste animal que tanto trabalha, que tanto sofre e tão que é tão pouco reconhecido! Justa Homenagem ao Jumento e a Padre Vieria!

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  4. Rodrigo.

    Sou testemunha do trabalho do Padre Vieira na defesa do Jumento. Eu era presidente do Lions Clube do Crato e numa reunião em nossa resudencia fui surpreendido com a presença do Padre Vieira. Vinha pedir o empenho do Clube na divulgação de sua luta na defesa do animal.

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