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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 11 de maio de 2011

BOLAS E FONABÔS - Por Xico Bizerra.

Sinto o gosto doce de um quintal perto de minha infância em que mangas maduras deixavam bem enganchados no meio dos dentes, ainda de leite, fiapos de coisa boa. Meus pés continuam oleados por lama e areia e com marcas de chutes em uma velha bola de couro, do tempo em que as bolas ainda se costuravam quando encontravam inconvenientes espinhos e arames farpados ao invés de nossos pés, pés que se cobriam de velhos fonabôs na manhã do dia seguinte para ir assistir aulas com dona Silvina. Que é do tempo, veroz e foraz? Parece que foi ontem. Onde estão as mangas e seus fiapos, onde encontrar aquela bola tantas vezes costurada, como calçar de novo os velhos fonabôs guardiões de chulé? E a cansativa aula de dona Silvina? Acabo de reencontrá-los, todos: estão comigo, dentro de mim, involucrados em papel azul – cor com que pinto minhas saudades boas. E por aqui ficarão por todo o tempo, ainda que não mais existam as mangas com fiapos, as bolas de couro costuráveis, os velhos fonabôs e as aulas de dona Silvina. A rede em que as boas lembranças se balançam continua armada no alpendre do meu coração, no lado esquerdo do peito, local reservado para se guardar as coisas felizes – já dizia o poeta.

Um comentário:

  1. Prezado Xico Bizerra.

    É nessa hora que falar de saudade nos faz bem. Muito bem.

    Parabens pela bela cronica.

    Antonio Morais

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