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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 1 de maio de 2011

PEI BUFO - Por Mundim do Vale

Várzea Alegre. Alegre sim. Porque tem seus contrastes e seus causos, alegres.
O nosso conterrâneo, conhecido por Chico de Mundeira, era um cidadão sério e de pouca conversa. Econômico no riso, e nas palavras. Nunca ouvi falar que ele tivesse dado uma risada. Suas frases não passavam de: Bom dia, boa tarde, boa noite, até logo, até amanhã, ta certo e se Deus quiser. Comerciante do ramo de panificação, mas o seu comportamento era diferenciado de qualquer vendedor ganancioso..
A cidade tinha a sua feira semanal no sábado, quando os moradores dos sítios vinham vender ou comprar. Os moradores tinham aquele dia como um dia de festas. Bebiam, jogavam, trocavam animais e recebiam seus parentes. Foi num dia daqueles que aconteceu o lamentável fato, onde o nosso escritor Francisco Gonçalves ficou órfão de pai. Eu peço perdão ao Chiquinho e aos demais conterrâneos, por expor aqui essa página triste do livro da nossa história. Mas vamos deletar essa parte, para dar seqüência ao nosso causo..
Num dia daquela feira, juntou-se Raimundim de Zezim de Eugênio e um galego do Novo Jordão e foram beber cachaças de bodega em bodega. Os dois tinham o mesmo nível de violência e a mesma preferência pela aguardente. Lá uma hora os dois começaram uma discursão e partiram trocando tapas até o beco de Zé Ginu. Lá chegando Raimundim deu um murro tão condenado na cara do galego, que ele caiu na calçada de Mestre Antônio e saiu rolando como um cano, passando na calçada de Boris e de Mariquinha, indo parar na calçada da padaria de Chico de Mundeira.
Da boca do Galego descia um filete de sangue, que escorria até a calçada de Zé Bile, como se fosse a continuação daquela viagem que o Galego interrompeu.
Juntou tantos curiosos, que eu não sei de onde veio tanta gente. A bateria de perguntas era constante.
Um comentava:
- Mais num tinha pricisão de Raimundim ter feito isso cum o galego não.
Outro falava:
- Mais foi pruquê o Galego tava bebo, se ele tivesse bom num tinha acunticido isso não.
Outro falava:
- É mais Raimundim é brabo. Ele num abre nem prus galego de Quilara.
Belizário foi chegando, afastou o pessoal e se dirigiu a Chico Mundeira, que estava sentado no batente da porta da padaria, como se nada tivesse acontecido:
- Chico! Cuma foi qui acunteceu esse negoço?
- Foi PEI BUFO!

Comentário do autor.

Se no lugar de Chico de Mundeira fosse Chiquim de Pedro Belo, a resposta ao ivés de ser PEI – BUFO, teria sido assim:
- Omi. Derna de dimahã qui os dois tava bebendo nas budega. Aí Raimundim deu um cocorote nim Galego qui ele caiu de cu trancado e adispois saiu rolando nas calçadas, a moda um tronco de carnaúba.


Dedicado a Flavinho Cavalcante e Felícia Ribeiro.

2 comentários:

  1. Prezado Mundim.

    Por falar em Chiquinho de Pedro Belo um dia eu vi levando uns cascudos dos irmãos seu Tonho e Damião de Cota. Chiquinho de Pedro Belo não era dos mais valentes não. Mas era bastante impinjento.

    Um belo causo.

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  2. Morais...
    O Mundin sempre nos presenteando com histórias maravilhosas histórias da nossa terra. Com uma maneira original e cômica de descrever os fatos. Traz sempre cômicas comparações. A versão da história narrada por Chiquin foi demais.....KKKKKKKKKKKKKK
    Adorei. Obrigadão pelo oferecimento Mundin.
    Ótimo domingo do trabalhador a todos...

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