Foi
 o Cardeal Dom Sebastião Leme, à época Arcebispo do Rio de Janeiro, quem
 atribuiu a Dom Francisco de Assis Pires – segundo Bispo de Crato – a 
designação de “A violeta do episcopado brasileiro”. Desde a
 Idade Média, a violeta simboliza fidelidade, castidade e humildade. 
Merecidamente, Dom Francisco ficou conhecido como “A violeta do episcopado brasileiro”.
   
 Outros títulos lhe foram atribuídos. Monsenhor Francisco Holanda 
Montenegro – no livro “Os quatro Luzeiros da Diocese” – refere-se a Dom 
Francisco como “O Bom Samaritano”. Já Monsenhor Raimundo Augusto – no opúsculo “Histórico da Diocese de Crato” – escreveu que o segundo bispo de Crato “era
 a caridade em pessoa. Desprendido dos bens terrenos, bondoso e manso, 
veio para servir aos seus diocesanos sem nada receber em troca”. Tudo em consonância com o lema episcopal escolhido por Dom Francisco: Não vim para ser servido, mas para servir.
   Monsenhor Raimundo Augusto justificou a sua opinião: “A
 longa e diuturna convivência com Dom Francisco na prestação de serviços
 à Cúria Diocesana, autoriza-me a expressar-me assim. Vi de perto a 
riqueza de virtudes que ornavam sua alma Angélica, seu coração de ouro”.
   
 Nascido no seio de uma rica família da capital baiana, Dom Francisco 
era, no dizer dos seus biógrafos, um verdadeiro aristocrata. Monsenhor 
Montenegro é taxativo: “Um rico que se fez pobre a serviço dos mais pobres”.
 É voz unânime que o segundo bispo de Crato tinha, realmente, predileção
 pelos mais pobres e mais sofredores. Por conta disso possuía centenas 
de afilhados de batismo ou crisma. Dotado de uma delicadeza 
impressionante, tratava a todos – de qualquer condição social – com 
educação esmerada.
    
 Entre os afilhados de Dom Francisco, um merece ser citado. No final dos
 anos 40 veio residir em Crato um casal francês, que sofrera as agruras 
da Segunda Guerra Mundial: Hubert Bloc Boris e sua esposa Janine. 
Hubert, em pouco tempo, tornou-se figura estimada na sociedade cratense,
 mercê seu temperamento extrovertido, facilidade de fazer amizades, além
 do destaque social adquirido por ser administrador do maior imóvel 
rural do Sul do Ceará – a Fazenda Serra Verde,  localizada em Caririaçu –
 além de ser sócio do Rotary Clube de Crato, dentre outros atributos de 
que era possuidor.
    
 Hubert era judeu de nascimento, o primeiro, talvez, a integrar o 
rebanho das ovelhas pastoreadas por Dom Francisco. Este, aproximou-se do
 casal francês e, depois de longas e demoradas conversas, conseguiu a 
aquiescência de Hubert para batizá-lo na Igreja Católica. Bom lembrar 
que Janine tinha procedência católica o que facilitou, certamente, a 
conversão ao catolicismo do saudoso e sempre lembrado “Cidadão Cratense”
 (título concedido pela Câmara de Vereadores), Hubert Bloc Boris.
   
 Dentre as muitas realizações materiais de Dom Francisco destacamos 
três: a construção do primeiro hospital do Cariri – o São Francisco de 
Assis – onde havia lugar destinado à indigência, ou seja, aos doentes 
pobres; o Museu de Artes e Ofício (hoje extinto) destinado à 
profissionalização da juventude masculina de baixa renda, funcionando em
 grande prédio ao lado do Seminário São José. Construção aniquilada; e  
 o Patronato Padre Ibiapina, destinado á educação de moças pobres. 
também extinto, (cujo prédio é ocupado hoje pela reitoria da 
Universidade Regional do Cariri).
 
    Numa edição especial do jornal “Folha da Semana”, comemorativa ao 
centenário da cidade de Crato, com data de 17 de outubro de 1953, foi 
inserido um artigo da lavra do Padre Neri Feitosa com o título “A venerável figura de Dom Francisco Pires”. Dali retiramos os seguintes textos:
“(...)
 Ele é eminentemente “Homem de Deus”, com um porte que fala de modo 
impressionante à piedade. Êmulo e imitador do pobrezinho de Assis, seu 
onomástico. Dom Francisco de Assis Pires é uma figura muito venerável de
 asceta contemplativo e cheio de bondade cristã.
“É
 de ver como se perturba, como se angustia, como sofre o coração do 
Bispo de Crato, quando se declaram sintomas (dos fenômenos periódicos) 
da Seca. Indaga sobre o sofrimento do povo, sobre as possibilidades dos 
poderes (públicos), sobre os migrantes, sobre a produção nas diversas 
zonas da Diocese. Com a mão trêmula pelos anos e pela aflição, traça as 
feições abatidas de seus filhos diocesanos, em telegramas a quem possa 
prestar socorro.
“Aquela face carrancuda não expressa nada aquela bondade compassiva e providente que lhe enche o grande coração de Bom Pastor.
“Por
 estas e por outras razões o Crato guardará, nos arquivos da justiça e 
da melhor gratidão, a lembrança perene desta venerável figura que 
constitui Dom Francisco de Assis Pires”.
Texto e postagem de Armando Lopes Rafael


 
Quem leu e estudou a historia da Diocese do Crato tem conhecimento que o trabalho dos dois primeiros Bispos desta Diocese deixou uma base que facilitou muito aos seus sucessores. O Crato deve muito, ou quase tudo ao trabalho desses benfeitores.
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