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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 2 de março de 2013

CAUSOS LÁ DE NÓS - Por Mundim do Vale.

TERREIRO  DE  GALO  GRANDE.

Zé do Crato, ( Já não precisa mais dizer a naturalidade dele ) Chegou em Várzea Alegre por volta de 1948, conforme a fonte que me informou. Pequeno, magro e ágil, era a figura de um toureiro.
Zé pediu emprego ao meu avô Joaquim Piau no serviço do roçado e foi logo admitido. Era ele o que mais produzia; Trabalhava muito e conversava pouco, mas nunca ninguém viu ele rezar um Padre Nosso antes de dormir. Passava de domingo a sábado na Vazante e só no sábado de noite sai para a rua e só retornava no domingo. Já estava com três meses nessa rotina, quando aconteceu esse causo.
Zé saiu no sábado de noite para a rua e lá chegando tomou umas cachaças. Uma hora lá meu tio Zé Piau encontrou-se com ele e falou:
- Zé do Crato. Vamos subir !
- Não. Eu só vou amanhã, pruque eu tem umas coisa prumode resover.
No domingo cedinho meu avô estava fechando um cigarro de fumo, quando ouviu um barulho de animal no terreiro. Foi até uma janela e viu que o cavaleiro era seu primo Matias, delegado civil de Várzea Alegre.
Logo que Matias viu Joaquim Piau foi logo dizendo:
- Primo eu preciso falar com você.
- Pois não. Amarre o cavalo na cerca e suba para tomar café com cuscuz. O delegado tomou o café e logo que acabou disse:
- Primo. O assunto é sobre Zé do Crato. Ele ontem de noite tava puxando fogo e não teve o que fazer, ficou naquela praça do lado da casa de Adélia Pimpim, fazendo esculhambação, descia as calças  e ficava com os documentos de fora. Eu só não vou botar ele na cadeia, em consideração a você.
Meu avô agradecido falou:
- Primo eu agradeço a sua atenção  e lhe asseguro que a partir de hoje Zé do Crato não trabalha mas na Vazante.
Logo que o delegado saiu, chegou Zé com uma malota da mão.
O patrão disse:
- Zé. Eu preciso falar com você. Eu estive conversando com Matias e ele me contou que você andou fazendo esculhambação na rua. O que você fez é atentado ao pudor, dar cadeia.
O empregado interrompeu:
- Eu sei, Seu Piau, Máis eu quiria qui o sinhor iscutasse eu. O siguinte é esse; É divera qui eu tava fazendo aquilo, máis ninguém via não, pruque era tarde da noite. Só quem via mermo era a impregada de Dona Adélia. Todo sabo qui eu chegava lá, ela dicia pru quintal e ficava arreparando eu amostrar. Máis quando foi onte qui eu amostrei, foi qui eu dei fé qui seu Matia tava nu máis ela dento do quintal.
Máis eu vou simbora Seu Piau. Pruque im terreiro qui tem galo grande, buguelo piqueno num se mete a besta. 

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