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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 23 de março de 2013

DO TEMPO DO BUMBA - Por Mundim do Vale.

FEITIÇO  CONTRA  FEITICEIRO.

A minha memória hoje, retroagiu para o ano de 1956, em Várzea Alegre-Ceará.
Na rua Padre José Alves antes de ser pavimentada, tinha um depósito de cal pertencente ao Coronel Dirceu de Carvalho Pimpim. Ficava entre a minha casa e a lateral da casa do Coronel. Depois que foi desativado o depósito, aquele vão foi ocupado primeiro por Maria Caitano e depois por Manoel Boca Torta. Na rua não trafegava veículos e tinha uns matos com dois palmos de altura, entre a calçada da casa de João Bilé e o muro do jardim de Dona Dosa.
Um dia chegou Dedé de Júlio Xavier com os bolsos cheios de tiras de tecidos e falou para mim:
- Raimundim. Eu vou amarrar essa tiras de uns matos para os outros, qui é pra quando os caba passar, tacar o rabo no chão.
E assim ele fez. Depois nós ficamos na calçada da minha casa para olhar.
O primeiro que caiu foi Manoel Boca Torta. Parece até que ele tinha visto quem amarrou, porque foi direto onde nós estávamos e apontou logo o dedo Para Dedé dizendo palavrões naquela linguagem incompreensível.
Naquele momento Júlio Xavier passava na rau major Joaquim Alves e vendo que havia algum problema com o seu filho, partiu de lá quase correndo. Quando passava pelo mato caiu todo à granel. O tombo foi maior do que o de Manoel, porque Júlio era mais gordo e vinha mais rápido. Mas foi cair quase no mesmo lugar que o outro tinha caído.
Foi até onde nós estávamos mais zangado do que porco sendo castrado e perguntou:
- O que é que tá acontecendo aqui?
Dedé com as mãos nos bolsos, gaguejou e não conseguiu dizer nada.
Eu raciocinei rápido e tomei a defesa de Dedé:
- Foi porque os meninos da praça Santo Antônio amarraram os matos e Manoel caiu no mesmo lugar que o Senhor caiu e tá pensado que foi Dedé.
- Pois ele vai ter que provar. Vamos pra casa, José.
Quando Júlio pegou no braço do filho, a mão saiu do bolso acompanhada de um punhado de tiras.
Naquela hora a situação ficou ruim pra Dedé, porque Júlio foi logo dizendo:
- Então foi os meninos da Praça, não foi?
Não deu nem tempo de Dedé dizer foi.
Júlio pegou na orelha do filho com a mão esquerda e levou suspenso até a sua casa que ficava vizinha a Usina Diniz. E com a mão direita de vez em quando dava um pescoção.

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