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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 10 de outubro de 2018

CARIRIENSIDADE (Por Armando Lopes Rafael)

A cultura da cana de açúcar no Cariri

 Engenho típico do Cariri cearense

    Nos dias atuais, o Sul do Ceará, passa por um processo de transformação, em todos os sentidos da vida, o que levou muitas de suas práticas e atividades tradicionais ao desaparecimento. No setor da economia do Cariri, uma das atividades do passado, praticamente extinta, foi o cultivo de cana de açúcar, a qual perdurou desde o início do povoamento desta região – início do século 18 – até princípios da década 1960.

       Segundo a arquiteta e historiadora Maria Yacê Carleal Feijó de Sá (autora de um monografia de Mestrado “Os Homens que Faziam o Tupinambá Moer”, UFC, 2007), os brejos do Cariri, desde a época da distribuição das sesmarias, já passaram a ser tomados pela plantação da cana-de-açúcar, de forma que antes mesmo de 1725 já funcionavam as primeiras estruturas que fabricavam o melado e a rapadura na região. No ano de 1765, estima-se que já existiam 37 unidades fabricando mel e rapadura no Cariri. Segundo Yacê, em 1858 já existiam cerca de 300 engenhos de fabrico de rapadura no Cariri, e desses, 72 engenhos ficavam no pé de serra e no brejo do município de Barbalha.

           No Cariri, os engenhos passaram por três fases. Na primeira, no século XVIII, como a água nas nascentes eram abundantes, as moendas eram movidas pela força hídrica. A segunda fase foi a tração do boi que movia as moendas dos engenhos. Por fim, veio a fase dos engenhos de ferro. Os primeiros desse tipo foram trazidos, possivelmente, de Pernambuco.

           Mas essa atividade econômica, que gerou tanta riqueza, que fez surgir uma aristocracia ruralno Sul do Ceará, que fez o Cariri progredir, desapareceu. Hoje, em Barbalha, existem apenas cinco engenhos, que se mantêm com pequena atividade. Desses, dois fabricam somente rapadura e, os outros três, além do doce, fazem cachaça, batida e alfenim. Mas todos só trabalham por encomenda.

               Para conhecer mais sobre o assunto, existe um pequeno livro – “Engenhos de Rapadura do Cariri” – escrito pelo historiador J. de Figueiredo Filho, com uma segunda edição publicada em 2010, pelas Edições UFC, da Universidade Federal do Ceará.

Instituto Cultural do Cariri vai fundar o “Museu do Engenho de Rapadura”

      A atual direção do Instituto Cultural do Cariri-ICC está elaborando um projeto para criação do Museu do Engenho de Rapadura do Cariri. Excelente iniciativa para uma cidade onde o Poder Público Municipal fechou, há dez anos, os dois maiores museus públicos: o Museu de Artes Sinhá D’Amora e o Museu Histórico de Crato. Este último criado pelos fundadores do Instituto Cultural do Cariri.

    Explica o Presidente do ICC, o advogado Heitor Feitosa,  que a ideia de fundação do Museu do Engenho de Rapaduras do Cariri surgiu pela nostalgia da população caririense com o fim da exploração da cana de açúcar, que era o carro-chefe da economia do Sul do Ceará. Diz Heitor Feitosa que esse fim foi danoso tanto à história, como à memória do Cariri.  

65 anos da revista “A Província”


     Fundada em 1953, a revista “A Província” é a mais antiga publicação cultural da cidade de Crato. Bom lembrar que a revista “Itaytera”, órgão oficial do Instituto Cultural do Cariri, só teve seu primeiro número lançado em 1955.
     No seu próximo número, “A Província” prestará uma homenagem ao escritor F.S. Nascimento, um dos seus fundadores, recentemente falecido. Os outros dois fundadores da revista, também falecidos, foram   Florisval Matos e Humberto Cordeiro. 

     “A Província”, nos dias atuais, é fruto da teimosia e perseverança do Prof. Jurandy Temóteo, diretor e redator da revista. Jurandy vem publicando “A Província” todos os anos. Existem anos que ele chega a publicar dois números da revista, cujo lema é: "O universal pelo regional". Coerente, pois, com esse objetivo embutido, verifica-se que não precisa ser cratense para ser alcançado pelos conteúdos do periódico. Os assuntos tratados, na sua maioria, extrapolam o regional e têm essa conotação universal.

Jornalistas do Cariri: José Joaquim Teles Marrocos

    Fátima Menezes – em “Síntese Biográfica”, página 6 – escreveu que José Joaquim Teles Marrocos nasceu em Crato, no dia 26 de novembro de 1842, filho do Padre João Marrocos Teles. A respeito de sua mãe, pouco se sabe. Apenas que “era filha de escravos e residia nas proximidades de Crato”. José Marrocos era primo e amigo do Padre Cícero Romão Batista.

     Raimundo de Oliveira Borges, – no livro “O Crato Intelectual”, páginas 19/20, – escreveu que José Marrocos foi jornalista, latinista, abolicionista e uma das principais campanhas pró-abolição da escravatura na Província do Ceará. Escreveu em vários jornais do Rio de Janeiro e de Fortaleza, defendendo com destemor a extinção da escravatura. Na verdade, o professor José Joaquim Teles Marrocos foi muito mais. Foi educador e fundador de várias escolas na atual conurbação Crajubar; católico fervoroso e formador de várias gerações de caririenses. 

      Em 1908 deixou de residir em Crato e se fixou em Juazeiro do Norte. Passou a fazer parte desta última cidade. Não somente por ser um defensor ardoroso do que se convencionou chamar “O milagre da hóstia”, fenômeno verificado, diversas vezes, quando a Beata Maria de Araújo recebia a Santa Comunhão, mas por outras atividades no setor da educação e como jornalista. Foi redator do jornal “O Rebate”, publicado em Juazeiro do Norte, que defendia a emancipação da então “Vila do Joaseiro”, à época pertencente ao município de Crato.

      Ao falecer, em 14 de agosto de 1910, estava escrevendo um livro, “A Questão Religiosa de Juazeiro”, obra que nunca foi publicada. Está sepultado no Cemitério do Socorro, ao lado do túmulo do Beato José Lourenço. em Juazeiro do Norte.

Foto do velório do Prof. José Marrocos em 15 de agosto de 1910.

História: O primeiro vigário de Juazeiro do Norte


   Quando o primeiro Bispo de Crato, Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, criou a Paróquia de Juazeiro do Norte – em janeiro de 1917 – designou para administrá-la um dos mais cultos e virtuosos sacerdotes da nova Diocese:  o Padre Pedro Esmeraldo da Silva. Este era considerado o maior orador sacro da Diocese de Crato.

      Nascido em Crato, em 29 de janeiro de 1876, Pedro Esmeraldo de Crato ingressou, ainda criança, no Seminário São José de Crato. Lá, fez o curso primário. Adolescente, seguiu para o Seminário de Olinda, onde fez os estudos preparatórios para o sacerdócio. Transferiu-se para o Seminário de Fortaleza, onde fez o curso de Teologia. Não tendo idade canônica para ser ordenado padre, continuou no Seminário de Fortaleza como professor. 

         Voltando a sua cidade natal foi um dos sacerdotes que reabriram o Colégio São José, o qual depois teria o nome mudado para Ginásio do Crato e, posteriormente, Colégio Diocesano do Crato. Em 1917, Mons. Esmeraldo foi nomeado o primeiro Vigário da Paróquia de Nossa Senhora das Dores de Juazeiro do Norte. Saiu dali para exercer o cargo de Cura da Catedral de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Anos depois retornou ao Ceará e pediu ao Bispo de Crato que o nomeasse, novamente, como Vigário de Juazeiro do Norte. Morreu nessa função, no dia 1º de outubro de 1934, de um enfarto fulminante. O povo de Juazeiro levou, a pé, o corpo do seu vigário para ser sepultado no cemitério de Crato.

Faleceu o sacerdote mais velho da Diocese de Crato

 Monsenhor Aluízio celebrou a missa durante 80 anos de sua existência

    Faleceu no último dia 5 de outubro, em Fortaleza, o decano do clero cratense. O título cabia por direito ao Monsenhor Aluízio Rocha Barreto, o qual, nesta quarta-feira, de outubro de 2018, teria completado 104 anos de idade. Ele já residia há várias décadas na capital cearense.

     Monsenhor Aluízio Rocha Barreto nasceu em Missão Velha, em 10 de outubro de 1914. Ele veio ao mundo dez dias antes da criação da Diocese de Crato, fato ocorrido em 20 de outubro de 1914, por ato do Papa Bento XV.  Por isso, Monsenhor Aluízio também festejou seu centenário de nascimento, no mesmo ano e mês que a Diocese de Crato comemorava o centenário de sua criação.

      Em fevereiro de 1934, o seminarista Aluízio Rocha Barreto já estava estudando no Seminário Provincial de Fortaleza, aonde foi ordenado sacerdote no dia 5 de dezembro de 1937.  Foi designado, dias depois, como vigário cooperador de Missão Velha, sua cidade natal. Em 1939 foi nomeado vigário do município de Farias Brito. Em 1940 e 1941 vamos encontrá-lo como professor do Colégio Diocesano de Crato.  Depois dessas atividades, Monsenhor Aluízio Rocha Barreto deixou a diocese de Crato indo exercer pastoreio na Diocese de Caicó, no Estado do Rio Grande do Norte. A partir de 1958 fixou residência em Fortaleza, aonde residiu durante 60 anos.

Um comentário:

  1. Uma excelente postagem para qualificar os conhecimentos dos adeptos da historia, e desenfastiar o ranço politico que domina a comunicação atual. Parabéns Armando.

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