Foi no momento mais delicado do PT nesta disputa pela Presidência da República, com o candidato Fernando Haddad (PT) 18 pontos percentuais atrás de Jair Bolsonaro (PSL), que o senador eleito Cid Gomes (PDT) resolveu soltar umas verdades para a sigla que ficou por 13 anos no poder. Críticas válidas em seu conteúdo, mas totalmente desastradas em seu formato, levando em conta a estratégia eleitoral. O ex-governador do Ceará entregou de "mão beijada" para o adversário um conteúdo de efeito devastador, com frases que viralizaram em todas as redes sociais: " Vão perder feio porque fizeram muita besteira. Porque aparelharam as repartições públicas. Porque acharam que eram donos de um País, e o Brasil não aceita ter dono!"; "O Lula está preso, babaca!".
O pedetista mal tinha acabado de externar seu colérico desabafo e o vídeo da confusão já circulava por grupos de WhatsApp e outras redes sociais em todo o País, ambientes onde, de fato, a corrida pelo Palácio do Planalto está sendo travada. Para muitos, a sensação que ficou era que os Ferreira Gomes já haviam se tornado apoiadores de Bolsonaro, apesar de declararem voto em Haddad. O conteúdo foi parar na propaganda eleitoral do candidato do PSL.
Sem nenhum esforço, ele conseguiu a peça mais eficaz para desconstruir a imagem do candidato petista.
Diante do desgaste provocado, fica difícil dissociar o episódio de 2022. PT e Ferreira Gomes devem disputar a hegemonia da oposição contra Bolsonaro, caso seja eleito e na hipótese de enfrentar fortes dificuldades para governar. A viagem de Ciro Gomes para a Europa em pleno segundo turno reforça a estratégia de tentar descolar a imagem do pedetista do PT, tendo em vista que ele já foi ministro de Lula e apoia um nome da legenda no Ceará.
Ao contrário do irmão mais velho, Cid Gomes quase sempre consegue manter o controle emocional em momentos de tensão. Sabe como poucos escapar de provocações. Entretanto, logo no início de sua fala no evento que seria de apoio a Haddad, demonstrou que estava preparado para o embate. O pedido de mea culpa para o PT acabou se transformando em duros ataques proferidos por quem era a esperança de dar novo fôlego à campanha petista.
Mas o efeito foi exatamente o oposto. Cid veio com várias pás de cal para jogar sobre a já enfraquecida candidatura de Haddad. Ainda tentou "consertar" o problema gravando um vídeo de 20 segundos que não transmite muita credibilidade. Mas já era tarde demais. O estrago estava feito e pode ser o ponto de partida para o rompimento entre o PT e os Ferreira Gomes, nos tempos difíceis que a política, a partir de 2019, nos reserva.
(*) Ítalo Coriolano é jornalista. E-mail: italocoriolano@opovo.com.br
Se os políticos fossem avaliados pela coragem de falarem e sustentarem o que falaram, o Cid teria dado demonstração de grandeza. Seu arrependimento e negativa um dia após declaração publica mostra o que na verdade é : Um subserviente medroso.
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