I N F E R N O
8ª Vala - Dos maus conselheiros
Alegra-te Florença pois és tão grande que até pelo inferno o teu nome se expande! Cinco eminentes florentinos encontrei naquele fosso, o que me fez sentir vergonha de ti.
Subimos pela escada de pedras que havia sido o caminho pelo qual havíamos descido. Ele ia na frente e me puxava rochedo acima, apoiando-se nas rachaduras, por onde o pé não podia avançar sem a mão.
A oitava vala resplandecia de chamas. Isto pude ver quando meus pés chegaram a um ponto onde o fundo já aparecia. As chamas não estavam imóveis. Elas se moviam continuamente como gente o que me levou a imaginar que mantinham em sua custódia um pecador. O meu guia, como sempre adivinhando meu pensamento, confirmou:
- Em cada chama há um espírito que é torturado pelo fogo incessante.
- Ó mestre - perguntei -, isto que acabas de falar eu já tinha adivinhado, mas dize-me quem está naquele fogo duplo, com uma chama dividida em duas pontas?
- Naquela chama - respondeu - sofrem dura pena Ulisses e Diomedes. Naquela chama se arrependem de ter tramado o logro do cavalo de Tróia e o roubo do Paládio.
- Podem eles falar através do fogo? - perguntei.
- Sim - respondeu o mestre -, mas deixa que eu fale, pois, sendo gregos, podem te desprezar.
Chegou o fogo a um lugar propício e o mestre se aproximou, perguntando:
- Ó vós que são dois dentro de uma única chama, se mereci de vós o meu viver, se mereci de vós alguma fama, quando no mundo meus altos versos escrevi, não vos moveis, mas que um de vós me diga onde foi perdido, para morrer.
A ponta maior da chama logo cresceu e começou a se agitar, e, como se fosse uma língua ondulando, virou-se para nós e falou:
- Quando descobri que nada podia impedir minha ânsia de viajar e conhecer o mundo, nem ternura de filho ao velho pai, nem o amor da minha Penélope, decidi explorar o mar aberto e profundo, acompanhado de minha tripulação fiel.
Passamos da Espanha e Marrocos, e continuamos além dos pilares que por Hércules foram fixados, sinalizando aos homens que daquele ponto não passassem. Navegamos em mar aberto por cinco meses, com a vela sempre à esquerda, até que vimos no horizonte uma enorme montanha.
Mesmo distante, apagada e escura, nunca eu vira outra assim tão grande. Mas nossa alegria durou pouco e logo transformou-se em pranto. Da nova terra saiu um grande redemoinho que atingiu a nossa embarcação na popa. Três vezes o barco rodou até que na quarta fomos sepultados nas profundezas do oceano.
Subimos pela escada de pedras que havia sido o caminho pelo qual havíamos descido. Ele ia na frente e me puxava rochedo acima, apoiando-se nas rachaduras, por onde o pé não podia avançar sem a mão.
A oitava vala resplandecia de chamas. Isto pude ver quando meus pés chegaram a um ponto onde o fundo já aparecia. As chamas não estavam imóveis. Elas se moviam continuamente como gente o que me levou a imaginar que mantinham em sua custódia um pecador. O meu guia, como sempre adivinhando meu pensamento, confirmou:
- Em cada chama há um espírito que é torturado pelo fogo incessante.
- Ó mestre - perguntei -, isto que acabas de falar eu já tinha adivinhado, mas dize-me quem está naquele fogo duplo, com uma chama dividida em duas pontas?
- Naquela chama - respondeu - sofrem dura pena Ulisses e Diomedes. Naquela chama se arrependem de ter tramado o logro do cavalo de Tróia e o roubo do Paládio.
- Podem eles falar através do fogo? - perguntei.
- Sim - respondeu o mestre -, mas deixa que eu fale, pois, sendo gregos, podem te desprezar.
Chegou o fogo a um lugar propício e o mestre se aproximou, perguntando:
- Ó vós que são dois dentro de uma única chama, se mereci de vós o meu viver, se mereci de vós alguma fama, quando no mundo meus altos versos escrevi, não vos moveis, mas que um de vós me diga onde foi perdido, para morrer.
A ponta maior da chama logo cresceu e começou a se agitar, e, como se fosse uma língua ondulando, virou-se para nós e falou:
- Quando descobri que nada podia impedir minha ânsia de viajar e conhecer o mundo, nem ternura de filho ao velho pai, nem o amor da minha Penélope, decidi explorar o mar aberto e profundo, acompanhado de minha tripulação fiel.
Passamos da Espanha e Marrocos, e continuamos além dos pilares que por Hércules foram fixados, sinalizando aos homens que daquele ponto não passassem. Navegamos em mar aberto por cinco meses, com a vela sempre à esquerda, até que vimos no horizonte uma enorme montanha.
Mesmo distante, apagada e escura, nunca eu vira outra assim tão grande. Mas nossa alegria durou pouco e logo transformou-se em pranto. Da nova terra saiu um grande redemoinho que atingiu a nossa embarcação na popa. Três vezes o barco rodou até que na quarta fomos sepultados nas profundezas do oceano.
No Canto XXVII veremos o espírito do Frade Guido de Montefeltro
04/08/2011
É...
ResponderExcluirOs maus conselheiros são os que usam de má fé, induzindo outros ao erro. Dorothy Sayers (1893/1957, interpreta assim:
O fogo que atormenta também oculta os conselheiros da fraude, pois o pecado deles foi cometido às escondidas. E como pecaram com suas línguas, agora a fala só pode passar pela língua da chama furtiva.
Neste Canto, Dante usa dois grandes personagens da mitologia: Ulisses e Diomedes, para ilustrar a punição do pecado cometido pelo mau conselheiro, a fraude.
A mensagem continua sendo de grande profundidade, pois, mostra o contrapasso do pecador, pelo abuso de confiança em ações praticadas por conselhos intencionalmente errados, mas, com a finalidade de obter vantagens.
ULISSES - rei de Ítaca, em diversas obras gregas é visto como um homem extraordinário, valente e cheio de virtudes, um herói. Mas está aqui retratado como um mau conselheiro ao revelar a Aquiles, guerreiro quase invencível, que o oráculo havia profetizado grandes glórias para ele, inclusive a rendição de Tróia, omitiu porem a segunda parte do oráculo que afirmava sua morte na mesma guerra de Tróia.
DIOMEDES - Foi o rei de Argos e aliado de Ulisses e dos gregos na guerra de Tróia. Por isto estão juntos ma mesma lingua de fogo.
PENÉLOPE - Vale a pena tecer um ligeiro comentário aqui sobre Penélope esposa de Ulisses. Ela, segundo a mitologia grega, era princesa de Esparta e esposa de Ulisses (tambem conhecido como Odisseus), que lutava na guerra de Tróia. Ulisses passou mais de 20 anos longe de Penélope, antes e depois da guerra, mas ela nunca duvidou que ele voltaria.
Embora fosse constantemente assediada por inúmeros pretendentes, ela sempre os dispensava dizendo que não podia escolher um novo esposo enquanto não terminasse uma colcha que tecia para seu sogro Laertes.
Toda noite ela desfazia o trabalho feito durante o dia e assim evitava ter que fazer a escolha.
Uma noite, porém, foi surpreendida por uma criada que revelou seu segredo e foi assim obrigada a concluir o trabalho.
Quando os pretendentes estavam prontos a ouvir sua decisão, Ulisses voltou, disfarçado, matou todos eles e voltou para Penélope.
Sem pretender fazer publicidade, mas para destacar a importância da trajetória de Ulisses e Penélope, há um filme antigo "Ulisses" (1954) que narra a sua história e o seu grande amor. É um dos destaques mais graciosos da "Odisséia" de Homero.
Vicente Almeida
Vicente, o amor de Ulisses e Penélope é comovente. Abraço Amigo. Fatima.
ResponderExcluirContinuo acompanhando ...
ResponderExcluirAté aqui foi muito bom reler a Divina Comédia, esses comentários são valiosíssimos!
É...
ResponderExcluirFátima e Valdemísia:
Pois é, e só faltam oito Cantos para encerrarmos nossa visita ao inferno na companhia de Dante e Virgílio.
O melhor de tudo isto, é que já li o equivalente talvez a 1% (um por cento) de todos os comentários e análises que já escreveram sobre o poema "A Divina Comédia". O que li pode corresponder a umas duas mil páginas.
Para entender Dante, tive que visitar a Florença antiga, conhecer suas origens e seus costumes, suas guerras e seu povo, alem de muitas informações sobre suas ligações com papas, reis e outras personalidades históricas.
Precisei ler a "Odisséia" de Homero e a "Eneida" de Virgílio, não na sua totalidade ainda. Conheci em profundidade a mitologia grega e seus personagens. São tantos que não caberia citar em um comentário tão despretensioso como este.
Por outro lado, também foi necessário estudar os relatórios de muitos historiadores, estudantes e especialistas em "A Divina Comédia".
E tudo isto pelo prazer de passar aos leitores deste Blog a primeira parte deste poema tão decantado. Muitos não lembrarão, mas outro tanto jamais esquecerá.
Aceitem um grande e fraterno abraço do
Vicente Almeida
Vicente, percebi que você mudou o meu nome, já tenho tantos:
ResponderExcluirAntonia, Artemísia, Bibi, Flor das Bravas... Valdenísia, esse é novo.
É...
ResponderExcluirViiixe Artemísia!
Me desculpe, Você é única, principalmente por ter nome de flor.
De fato tenho ligações com várias Valdemisias, mas isto não me justifica.
Sinceramente não me toquei!
Só não faço a correção direta nos textos, por que alteraria a ordem dos comentários.
Fui à INTRODUÇÃO da "A Divina Comédia" e rastreei até este Canto, verifiquei a sua assiduidade desde a primeira postagem em 30 de maio. Os erros que constatei são:
I - INDTRODUÇÃO 2/3 - Artemizia
II - Canto VII, Valdemísia
III - Canto VIII, Artemisa
IV - Canto XXVI, (Este) Valdemísia.
Por isto, faço-o aqui:
ONDE SE LÊ ARTEMIZIA, VALDEMÍSIA, ARTEMISA E VALDEMIZIA, LEIA-SE: ARTEMÍSIA.
Você não imagina como sou exigente comigo mesmo e agradeço demais quando alguem me ajuda. Não deixo o conserto para depois, faço-o no momento em que constato a falha.
Sei que você é corajosa, amiga e teimosa. Quero só trocar teimosa por persistente. é assim que te vejo.
Valeu garota.
Um abraço do
Vicente Almeida
Obrigada pelo "garota"!
ResponderExcluirJá estou na era dos enta há... deixa pra lá!
Um abraço!
Artemísia