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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 9 de novembro de 2010

DO PÉ DO CRUZEIRO - Por Mundim do Vale

Do pé do cruzeiro, com o vento soprando
Vi Romana cantando
O bendito mais novo.
Do pé do cruzeiro, tomando uma brisa
Eu vi Dona Eliza
Educando meu povo.

No pé do cruzeiro, me perdia na hora
E só ia embora
Quando tava sem luz.
No pé do cruzeiro, olhando pra cima
Eu fiz essa rima
Pensando em Jesus.

Do pé do cruzeiro, na barraca do azul
Eu vi João Bitu
Curtir caritó.
Do pé do cruzeiro, eu vi Padre Otávio
Crismando Zé Sávio
Nos braços da avó.

Do pé do cruzeiro, com Zé Atahide
Eu vi Alaíde
Ouvindo o sermão.
Do pé do cruzeiro, vi Raimunda Teixeira
Subindo a ladeira
Com o terço na mão.

Do pé do cruzeiro, eu ouvia o sermão
Com muita atenção
E nunca esqueci.
No pé do cruzeiro, munidas de fé
Vi Zefa de Pedro André
E minha Mãe Iracy.

Do pé do cruzeiro, com Zé de Bogim
Vi quando Belim
Caiu lá do forro.
Do pé de cruzeiro, eu vi Paruara
Com um pano na cara
Brincando de Zorro.

Do pé do cruzeiro, na missa campal
Vi Seu Lourival
Cantando Louvor
No pé do cruzeiro, eu brincava de toca
E via João Doca
Levando o andor.

No pé do cruzeiro, contando piada
Varei madrugada
Até de manhã.
No pé do cruzeiro, eu vi Seu Missena
Chorando com pena
Da morte de Ivan.

No pé do cruzeiro, eu tava sentado
Ouvindo o dobrado
Que a banda tocava.
No pé do cruzeiro, fiquei de plantão
Pra ouvir o sermão
Que o Padre pregava.

Do pé do cruzeiro, sem deixar a rotina
Eu vi Valdevina
Passando a bandeja.
Do pé do cruzeiro, roendo um pequi
Eu vi Bem-te-vi
Pintando a igreja.

Do pé do cruzeiro, com o sino tocando
Vi Costinha brigando
Com Chico de Munda.
Do pé do cruzeiro, fazendo missão
Vi Frei Damião
Andando corcunda.

No pé do cruzeiro, de manhã eu brincava
De tarde rezava
Não tinha problema.
Do pé do cruzeiro, sem rumo e sem giro
Vi Padre Argemiro
Mostrando o cinema.

Do pé do cruzeiro, subindo a bandeira
Eu vi João Teixeira
Fazer cumprimento.
Do pé do cruzeiro, olhei pra ladeira
Vi Padre Vieira
Selando um jumento.

Aquele santo cruzeiro
É nosso ícone da fé
Abaixo do padroeiro
De lado do São José.
É tribuna de oração,
Lugar de reunião
Para católico de fato.
Porém aquele lugar
Deveria ser o altar
De São Raimundo nonato.

Mundim do Vale
Várzea Alegre-Ce


Dedico este poema a Fafá, porque vendo aquela casa, eu me lembrei, que ela tinha uma visão frontal para o cruzeiro.

5 comentários:

  1. Pois é , Mundim, suei para conseguir essa foto, sabia que a partir dela você escreveria algo assim. Realmente ela dá uma visão frontal para o cruzeiro. Parabéns mais uma vez, poeta amigo.

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  2. Mundim do Vale.

    Você dedicou a Fafá Bitu uma de suas obras mais completas, e, mais bonitas tambem.

    Parabens Fafá.

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  3. Pois é, Morais, aquela foto tocou o poeta, senti-me honrada. Nossa amizade vem da infância, nossas mães, papai ( saudosa memória!!!), o poeta PEDRO PIAU... isso é que se chama de AMIZADE DE LONGAS DATAS.ABRAÇO

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  4. Mundim, eu estava lendo em voz alta sua obra de arte e Zezê ficou emocionada porque relembrou todas aquelas pessoas citadas especialmente sua bondosa mãe IRACI que ela jamais esquece.Está falando que foi sua mãe que a preparou para o examde de admissão. Parabéns e obrigada, poeta querido!

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  5. Mundim,você é demais,um poeta de tampa e rampa.Você vaz a gente revivero o passado voando na rima dos seus versos.Parabens.Sibitinh

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