Um dos maiores orgulhos da minha vida foi ter sido agraciado pela Câmara Municipal de Iguatu com a Medalha do Mérito Intelectual Padre Antônio Vieira. Não que seja vaidoso, mas porque, além de ser parente próximo do padre através da linha genealógica de meu avô materno Vicente Gregório com seu pai Vicente Vieira, meus genitores sempre foram muito achegados ao sacerdote, sendo ele inclusive, padrinho de meu irmão Cauby Filho.
Assim achei muito justa a homenagem prestada ao Padre Vieira pela Escola de Samba do Sanharol, neste último carnaval. Aliás, guardo muitas lembranças dele, ainda muito vivas em minha memória. Perto de sua morte visitei sua chácara em Messejana e confesso que a beleza do lugar me deixou encantado, pois na vivenda, tudo foi planejado para acolher o sacerdote, sertanejo, escritor, político, intelectual e humanista. Situada a duas quadras do Seminário dos Capuchinhos, ali ele celebrava suas missas dominicais, no regular exercício do sacerdócio. Em sua simplicidade peculiar, jamais relegou suas origens.
Nascido em 1919, na Lagoa dos Órfãos, hoje Cristo Rei em Várzea Alegre, sempre carregou consigo aquele jeitão de matuto. No sítio que lhe acolheu em Messejana, mandou construir pequenos comedouros e minúsculas piscinas para os pássaros que gorjeavam nas frondosas mangueiras. Ali eles revoavam em bando e alarido para comer, beber e tomar banho. Em minha última visita a sua casa, mostrou-me sua biblioteca, seus livros, suas plantas, seus cachorros, seus pássaros soltos nos mangueirais e todos seus amores. Naquele cenário surrealista filosofei com meus botões: mas afinal, onde fica a figura do padre humanista quando descobri que ele aparentava gostar mais dos bichos do que do que de gente? Neste aspecto entra em cena o perfil de São Francisco de Assis que se tornou santo exatamente, por defender os irmãos animais. Os dois, em comum, fizeram opção pelos bichos, pobres, humildes e injustiçados, inclusive o jumento.
Como político foi eleito Deputado Federal, em 1964, fazendo enorme sucesso em Fortaleza quando montado no lombo de um jumento percorreu as principais ruas do centro da cidade, acompanhado por uma grande multidão. Tirou expressiva votação na capital cearense. Entretanto, por defender corajosamente os oprimidos foi cassado pelos verdugos da revolução.
Como escritor nos presenteou com obras admiráveis, como “O Jumento é Nosso Irmão” indicada ao Prêmio Nobel de Literatura, “O Verbo Amar e Suas Complicações”, “Sem Cortes e Sem Recortes”, dentre outras. A figura do Padre intelectual vem de longe: Em Iguatu, com o pseudônimo de Vulpiano Xerez, escreveu artigos para periódicos da época, como Telha de Vidro e o Jornal De Fato, que tiveram durações efêmeras..
Certa vez, confidenciou-me que como sacerdote foi mutilado como o galho que se corta de uma árvore e apodrece na terra sem deixar a semente da vida que é Don de Deus. Disse-me ainda que não tinha medo da morte, pois quando ela chegasse apenas mudaria de morada. Continuaria vivo na casa do pai, no coração dos amigos e do povo. Na minha despedida, como não poderia deixar de acontecer, explodiu sua irreverência, até então reprimida, recitando repentes do cratense Zé de Matos:
Se eu fosse podre de rico.
Não morava aqui no mato.
Ia morar com Lorinda.
Dentro das ruas do Crato.
E mais:
Quando a gente envelhece.
Tudo de triste acontece.
A vida aborrece.
O riso amortece.
A vista escurece.
A junta endurece.
O cabelo embranquece.
A barriga cresce.
Aquilo amolece.
A mulher oferece.
A gente agradece.
E diz numa prece.
Ah, se eu pudesse.
Meu velho amigo Padre Vieira, era assim...
Assim achei muito justa a homenagem prestada ao Padre Vieira pela Escola de Samba do Sanharol, neste último carnaval. Aliás, guardo muitas lembranças dele, ainda muito vivas em minha memória. Perto de sua morte visitei sua chácara em Messejana e confesso que a beleza do lugar me deixou encantado, pois na vivenda, tudo foi planejado para acolher o sacerdote, sertanejo, escritor, político, intelectual e humanista. Situada a duas quadras do Seminário dos Capuchinhos, ali ele celebrava suas missas dominicais, no regular exercício do sacerdócio. Em sua simplicidade peculiar, jamais relegou suas origens.
Nascido em 1919, na Lagoa dos Órfãos, hoje Cristo Rei em Várzea Alegre, sempre carregou consigo aquele jeitão de matuto. No sítio que lhe acolheu em Messejana, mandou construir pequenos comedouros e minúsculas piscinas para os pássaros que gorjeavam nas frondosas mangueiras. Ali eles revoavam em bando e alarido para comer, beber e tomar banho. Em minha última visita a sua casa, mostrou-me sua biblioteca, seus livros, suas plantas, seus cachorros, seus pássaros soltos nos mangueirais e todos seus amores. Naquele cenário surrealista filosofei com meus botões: mas afinal, onde fica a figura do padre humanista quando descobri que ele aparentava gostar mais dos bichos do que do que de gente? Neste aspecto entra em cena o perfil de São Francisco de Assis que se tornou santo exatamente, por defender os irmãos animais. Os dois, em comum, fizeram opção pelos bichos, pobres, humildes e injustiçados, inclusive o jumento.
Como político foi eleito Deputado Federal, em 1964, fazendo enorme sucesso em Fortaleza quando montado no lombo de um jumento percorreu as principais ruas do centro da cidade, acompanhado por uma grande multidão. Tirou expressiva votação na capital cearense. Entretanto, por defender corajosamente os oprimidos foi cassado pelos verdugos da revolução.
Como escritor nos presenteou com obras admiráveis, como “O Jumento é Nosso Irmão” indicada ao Prêmio Nobel de Literatura, “O Verbo Amar e Suas Complicações”, “Sem Cortes e Sem Recortes”, dentre outras. A figura do Padre intelectual vem de longe: Em Iguatu, com o pseudônimo de Vulpiano Xerez, escreveu artigos para periódicos da época, como Telha de Vidro e o Jornal De Fato, que tiveram durações efêmeras..
Certa vez, confidenciou-me que como sacerdote foi mutilado como o galho que se corta de uma árvore e apodrece na terra sem deixar a semente da vida que é Don de Deus. Disse-me ainda que não tinha medo da morte, pois quando ela chegasse apenas mudaria de morada. Continuaria vivo na casa do pai, no coração dos amigos e do povo. Na minha despedida, como não poderia deixar de acontecer, explodiu sua irreverência, até então reprimida, recitando repentes do cratense Zé de Matos:
Se eu fosse podre de rico.
Não morava aqui no mato.
Ia morar com Lorinda.
Dentro das ruas do Crato.
E mais:
Quando a gente envelhece.
Tudo de triste acontece.
A vida aborrece.
O riso amortece.
A vista escurece.
A junta endurece.
O cabelo embranquece.
A barriga cresce.
Aquilo amolece.
A mulher oferece.
A gente agradece.
E diz numa prece.
Ah, se eu pudesse.
Meu velho amigo Padre Vieira, era assim...
Dr. Mário Leal,
ResponderExcluirBonita retrospectiva e belo resgate de alguns fatos da vida do irreverente padre Vieira.
Parabéns pelo excelente texto.
Um abraço.
Dr.Mario Leal.
ResponderExcluirParabens pela bela cronica. O Blog agradece em nome dessa juventude que não teve o sublime ´prazer de conviver e conhecer Padre Vieira. Sua historia é um pouco do que carecemos conhecer do nosso grande conterraneo. O nosso maior dos escritores.
Abraços.
Companheiros, em nome da organização do I Encontro de Blogueiros pela Democratização das Comunicações, agradeço o apoio ao esse evento midiático em Fortaleza. Um grande abraço. Espero encontrá-lo no Cuca. Atenciosamente, Daniel Bezerra.
ResponderExcluirParabéns ao autor do texto Dr. Mário Leal. E ao Dr. Sávio Pinheiro por ter a sensibilidade de publicar o texto.
ResponderExcluirFalar de Pe. Vieira é falar de literatura; de sertão; de alegria e principalmente de gente. O jumento é apenas pano de fundo para denunciar a ignorância do ser humano em relação a esse animal que muito contribuiu para o desenvolvimento do nordeste.
Quando decorei uma crônica sua sobre Várzea Alegre, "Isto é Várzea Alegre", tinha aproximadamente 9 anos. Queria dizer quem eu era, e nas palavras de padre vieira, também varzealegrense encontrei a resposta para dizer quem sou.
"isto aconteceu num exame vestibular havido na Baia um aluno é convidado pelo professor a classificar científicamente um grilo. E entre nervoso e esperançoso o aluno começa:- O grilo é um inseto...- E como você prova isso? Pergunta agressivamente o professor." E o cabra de Várzea Alegre responde sem gaguejar, sem titubear:- Pelo jeitão dele andar professor!
E é assim mesmo que se conhece um cabra da rajalegre, a gente o conhece em toda parte porque já trazemos a alegria no sangue! Tenho muita saudade de quando ligava regularmente para ele em Fortaleza para aprender mais. Em 1986 juntei alguns poemas e convidei um amigo para juntos lançarmos um livrinho, "Gotas de Orvalho" editado por João Scortecci Editor, que embora tenha esse sobrenome italiano, é um autêntico cearense alencarino. E fiz questão de lhe enviar o convite, mesmo sabendo ser difícil sua presença no laçamento. Mas, acredito que em seu espólio está o meu pequeno livro com uma sigela dedicatória. Ele não morreu, quem deixa frutos na terra não morre!
DEPUTADO FEDERAL
ResponderExcluirELEITO EM 66
COM DOIS ANOS FOI CASSADO
PELOS DISCURSO QUE FEZ
QUEM DEFENDIA OS HUMILDES
NO BRASIL NA TINHA VEZ
DISCORDOU DA PRÓPRIA IGREJA
A QUAL INDA É PERTENCENTE
POR SENTI-LA ACOVARDADA
PRA NÃO DIZER CONIVENTE
COM AS FORÇAS, CUJAS LEIS
MASSACRARAM NOSSA GENTE
...
O PADRE IRMÃO DA CULTURA
DA PAZ, DO CONHECIMENTO
IRMÃO DO POVO SOFRIDO
POR SENTIR SEU SOFRIMENTO
NÃO PODE DEIXAR DE SER
TAMBÉM IRMÃO DO JUMENTO
Inspiração de um repentinsta ao Padre do Jumento, nosso nrmão.
GERALDO AMÂNCIO
LIVRO: O PADRE DO JUMENTO