Certamente
o caro leitor já ouviu falar na cidade de Itu. Localizada no interior
do Estado de São Paulo, Itu ficou conhecida como a cidade dos exageros.
Lá, quase tudo é ampliado. Muita coisa toma a forma de um exagero. No
último dia 15 de novembro – um feriado artificial criado para induzir a
população a comemorar a Proclamação da República – o Governo Federal
decidiu que Itu passa a ser “O Berço da República Brasileira”. Outra
hipérbole no rol dos exageros que caracteriza aquela cidade paulista.
Até o Presidente Michel Temer (este um “republicano da gema”, expressão
tola usada no Cariri cearense) viajou para Itu, no dia da lamentada
“Proclamação”. Perdulário, como soe acontecer nas repúblicas, Michel
Temer usou o avião presidencial, um helicóptero, utilizou o caríssimo
aparato de segurança, e ainda levou com ele alguns ministros. Em recinto
fechado, sem sentir o “cheiro do povo” (Ah! esta expressão do Papa
Francisco) Michel anunciou – via televisão – que simbolicamente estava
transferindo a Capital da República de Brasília para Itu. Além do
exagero a solenidade foi um fracasso de público.
A bem dizer, foi uma solenidade insignificante. Mixuruca mesmo. Sem a
presença do “povão” (Ah! esta expressão republicana). No recinto, só
algumas autoridades ouviram o discurso do Presidente Temer, a relembrar o
“grande feito” da fundação do Partido Republicano, em Itu, no dia 18 de
abril de 1873. Aliás, no último 15 de novembro, em todo o Brasil, nunca
se recordou tanto – e com que saudades! – os bons tempos da monarquia.
Comprovou-se, definitivamente, que o brasileiro não tem motivo nenhum
para comemorar a imposição que lhe foi feita por uma minoria de
golpistas enfiando, goela abaixo, esta fracassada República...
A Assessoria de Comunicação da Presidência da República divulgou,
através da mídia, que “Itu é o berço da República”, pois lá teria sido
realizada a “primeira reunião para criar um Partido Republicano”,
aproveitando o clima de liberdade que existia no Império do Brasil.
Segundo a propaganda oficial, no dia 18 de abril de 1873, em Itu, na
casa do deputado Prudente de Morais, aconteceu uma “convenção” reunindo
republicanos de várias cidades paulistas com o objetivo de difundir a
campanha visando instaurar a República no Brasil”.
Voltemos à visita do Presidente Temer a Itu. Enquanto as autoridades,
num auditório, ouviam loas à República, nas ruas e praças de todas as
regiões do Brasil, centenas de monarquistas realizavam um “Bandeiraço
pela liberdade e contra a corrupção republicana”. “Bandeiraço” feito
espontaneamente, sem ajuda dos cofres públicos, exatamente ao contrário
do alto custo dispendido pelo Presidente Michel Temer para aparecer 30
segundos nos noticiários da televisão.
Agora a verdade histórica: Os republicanos tentaram, por todos os
meios, atrair o povo para as suas ideias, a partir da reunião feita em
Itu, em 1873. Deram com os burros n’água... Um trabalho em vão! Em 1884,
bem próximo do golpe militar que instaurou a República, existiam no
Parlamento do Império apenas 03 (três) deputados eleitos pelo Partido
Republicano. Pior ainda: na data do golpe – 15 de novembro de 1889 –
existia no Brasil apenas 0l (um) deputado republicano. Isso mesmo que
eleitor leu: existia apenas um deputado eleito pelo Partido Republicano
no Parlamento do Império.
Precisa acrescentar mais alguma coisa? Sim. Aos tradicionais exageros
de Itu foi acrescentado mais um: Itu foi apelidada agora de “A Capital
Republicana do Brasil”. Definem os dicionários que Exagero é o ato ou
efeito de exagerar, ou aquilo que se encareceu em demasia.
Pois foi isso que o Presidente Temer fez em Itu. Enquanto isso, lá
fora, nas ruas e praças ("A praça é do povo como o céu é do condor”, Ah!
essa ode do poeta baiano) centenas de brasileiros exibiam, com orgulho,
exemplares da Bandeira Imperial. Inclusive na maior cidade do Cariri
cearense...
(*) Armando Lopes Rafael é historiador.
No que não serve ao povo, bem que a republica está igualada ao Ipu. Enorme em defeitos.
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