Dom
Bertrand de Orleans e Bragança, príncipe imperial do Brasil, afirma que
a índole do povo brasileiro é monarquista. Por isso uso o termo
“rainha” da literatura cearense para traduzir o que foi a escritora
Rachel de Queiroz. Não teria outra. Ela foi a que melhor traduziu em
romance e crônica a alma cearense. Lembro-me de ter ouvido dela própria
sobre ser cearense: “é um privilégio que eu não especifico para não
fazer inveja aos que não gozam dessa felicidade”.
No último dia 4,
lembramos os 14 anos de seu falecimento. Difícil para nós que a
conhecemos e com ela convivemos. Para muitos, uma data histórica. Alguns
até nem sabem que ela faleceu. Vez por outra me perguntam se ela mora
em Quixadá ou no Rio. Fazer o quê?
No próximo dia 17, Rachel faria
107 anos. Quando de sua morte, em 2003, foi proposto na Assembleia
Legislativa do Estado do Ceará projeto de lei instituindo o Dia da
Literatura Cearense em homenagem a Rachel. O projeto foi aprovado e deu
origem à Lei Nº 13.411, de 15/12/2003 (D.O 17/12/2003), criando,
oficialmente, o “Dia da Literatura Cearense”, a ser comemorado no dia 17
de novembro de cada ano. Nada mais justo. Ela viveu e amou o Ceará. Era
um amor tão grande que estando em Berlim Ocidental, em dezembro de
1993, Rachel afirmou que encontrou “a caatinga nordestina em réplica,
como gêmeos univitelinos”.
Seu apartamento no Leblon era como se fosse
território cearense. Na área mais privilegiada do Rio de Janeiro, era
cheio de móveis e recordações cearenses e até uma imagem do Pe. Cícero,
que ela conheceu e acreditava ser santo. Aliás, a questão de fé sempre
foi um desafio para ela, mas, ela nunca escreveu uma linha criticando
qualquer tipo de religião. Pelo contrário, uma das crônicas mais belas
que li sobre São Vicente de Paulo é de autoria dela. Ela também escreveu
sobre Padre Cícero, Dom Helder, Irmã Simas, São João Paulo II e outras
figuras do mundo eclesiástico.
Sem nenhum exagero, ainda é difícil
escrever ou falar sobre ela. Este ano, no mesmo dia do mês em que
faleceu, 4 de novembro, Rachel fez 40 anos de imortalidade literária na
Academia Brasileira de Letras. Foi ela a primeira mulher a ingressar no
sodalício. Também foi a primeira cearense a se candidatar a deputada,
enfim. Sempre que falarmos em direitos da mulher no Brasil, por justiça,
seu nome deve ser citado como mulher forte, determinada e culta.
Incentivado
pela magnífica reitora da Universidade de Fortaleza, Profª. Drª. Fátima
Veras, incursionei em relançar em edição especial o ensaio biográfico
que fiz sobre Rachel, lançado poucos meses antes da morte da escritora.
Atualizei e acresci dados e revivi aqueles dias de emoção. A UNIFOR,
universidade onde me formei em Direito, preparou uma bela edição. Em
breve, o lançaremos ainda nas homenagens aos 40 anos de imortalidade da
grande dama da literatura brasileira e rainha da literatura cearense,
tão presente em minha vida.
Desde o nascimento de Rachel em
Fortaleza, seu batizado em Pacatuba, à seca d’O Quinze, que já mocinha
colocou os dramas da seca como moldura de um romance, passando pela
jornalista, cronista e escritora sábia que coroou sua carreira com o
majestoso “Memorial de Maria Moura”, focalizamos neste trabalho e cremos
não ser suficiente para realçar seu nome em nossa história e
literatura! Salve Rachel!
(*) José Luís Lira é advogado e
professor do curso de Direito da Universidade Vale do Acarau–UVA, de
Sobral (CE). Doutor em Direito e Mestre em Direito Constitucional pela
Universidade de Lomas de Zamora (Argentina) e Pós-Doutor em Direito pela
Universidade de Messina (Itália). É Jornalista profissional.
Historiador e memorialista com vários livros publicados. Pertence a
diversas entidades científicas e culturais brasileiras. Colabora com Blog de Antônio Morais.
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