A depredação e destruição de monumentos públicos na conurbação Crajubar
Na Região Metropolitana do Cariri muitos monumentos públicos já foram
depredados e, alguns, até destruídos. Ora, a depredação do patrimônio
público é delito passível de detenção e multa. Para incorrer nesse crime
basta "pichar monumentos públicos", notadamente aqueles com valor histórico, o que eleva a pena por se transformar em “crime ambiental”.
Nunca devemos esquecer que “Patrimônio Público” é o conjunto de bens e
direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou
turístico, e o fato destes bens pertencerem a um ente público – a União,
um Estado, um Município, uma autarquia ou uma empresa pública – ou seja
serem propriedades do povo.
Nessa destruição nem Barbalha escapou
A imagem acima é do busto do presidente norte-americano John Kennedy
que ornamentava um logradouro público em Barbalha. Kennedy foi
assassinado em 1962 e o busto dele foi colocado numa praça de Barbalha
cinco anos após sua morte. O monumento – feito de bronze – pela
escultora brasileira Maria Rothier Duarte, foi doado pelo Lions Club de
Barbalha à Prefeitura daquela cidade.
O jornal “A Ação”, àquela época publicado semanalmente pela Diocese de Crato, no número de 25 de junho de 1967 noticiou: “A
homenagem de Barbalha ao estadista falecido é das mais louváveis! É um
reconhecimento aos benefícios recebidos pelo município, do governo
norte-americano, através do Projeto Morris Asimow, responsável pela
implantação, em Barbalha, das indústrias CECASA e IBACIP que geraram,
anos seguidos, impostos, emprego e renda”.
Um registro do tempo em que Barbalha era tida como uma cidade aristocrática
Em 1969, foi promulgada, pelo Prefeito de Barbalha, a lei abaixo, oriunda da Câmara Municipal daquela cidade:
“Lei n° 577
Denomina Praça “Presidente John Fitzgerald KENNEDY”, a Praça pública
localizada entre as ruas Divino Salvador, Major Sampaio e ao lado da
Igreja do Rosário, nesta cidade, como abaixo se declara:
A Câmara Municipal de Barbalha aprovou e eu Prefeito sanciono a seguinte Lei:
Art.
1° - Fica denominada “Praça Presidente John Fitzgerald KENNEDY”, a
praça pública localizada entre as ruas Divino Salvador, Major Sampaio e
ao lado da Igreja do Rosário, em final de construção, nesta cidade.
Art. 2° - Revogam-se as disposições em contrário, entrando esta Lei em vigor na data de sua publicidade.
Paço da Prefeitura Municipal de Barbalha (CE), 11 de agosto de 1969.
Antônio Costa Sampaio
Prefeito Municipal”
Nesta
imagem, feita em 1956, membros da família Sampaio: Antônio Gondim, no
primeiro plano, e Plínio Salgado (político e intelectual que marcou a
história do Brasil, na década 30 do século passado). No segundo plano,
da esquerda para direita, o Dr. Pio Sampaio e Antônio Costa Sampaio,
este último ex-Prefeito de Barbalha
As voltas que o mundo dá: o cenário de Barbalha nos dias atuais
Em Barbalha, antes de ter sido retirado do seu pedestal, o busto de
bronze do Presidente Kennedy já era alvo da depredação dos vândalos que
hoje assolam, como uma praga do Egito, a Terra dos Verdes
Canaviais...Triste!
Na última administração do prefeito José Leite (2013–2016, reeleito
pelo PT), o busto de bronze do Presidente Kennedy (obra pública,
propriedade do povo barbalhense) foi retirado da Praça com a mesma
denominação, localizada ao lado da Igreja do Rosário. Esse busto só não
desapareceu porque o Prof. Giuseppe Sampaio, diretor do Colégio Santo
Antônio, quando o viu num caminhão, sendo levado para um depósito
provavelmente da Prefeitura, pediu para abrigar a histórica obra de arte
nas dependências do Colégio que dirige. Lá o busto está, na sala da
diretoria a lembrar os tempos áureos da Terra de Santo Antônio.
Já as indústrias CECASA e IBACIP tiveram suas atividades encerradas.
Tem mais: no lugar do monumento de John Kennedy, o ex-prefeito José
Leite mandou colocar outro busto. Este último, do ex-prefeito de
Juazeiro do Norte, Mauro Sampaio, era um monumento de mau gosto moldado
em cimento.
Dias depois esse último busto foi destruído na calada da noite.
Outro vandalismo! Consta que até hoje não foi consertado... A Praça
Presidente Kennedy (a designação oficial permanece, pois não foi
revogada) está localizada em frente à Faculdade de Medicina de Barbalha
(Campus da Universidade Federal do Cariri), e ao lado da Igreja de Nossa
Senhora do Rosário e da Escola de Ensino Fundamental Senador Martiniano
de Alencar. Um local diariamente bastante visitado por centenas de
pessoas.
História: O “olhar estrangeiro” sobre o Cariri no século 19
Em 2014, os professores Ivan da Silva Queiroz e Maria Soares da Cunha,
do Departamento de Geociências da Universidade Regional do Cariri–URCA,
publicaram interessante artigo – na Revista de Geografia da UFPE, volume
31, nº 3 – com o título “Condicionantes socioambientais e culturais da formação do Crajubar, aglomerado urbano-regional do Cariri cearense”. Desse interessante artigo reproduzimos abaixo algumas informações que vão interessar aos leitores desta coluna. A conferir
“João da Silva Feijó, George Gardner e Francisco Freire Alemão
representam o que nós podemos qualificar como sendo o olhar
“estrangeiro” sobre o pedaço de sertão nordestino chamado de Cariri no
século XIX. Os três estudiosos passaram pelo Cariri-Araripe e deixaram
importantes registros sobre esse território. João da Silva Feijó (1760
-1824) escreveu suas memórias entre 1800 a 1814, publicadas
respectivamente em 1889, 1912 e 1914 pela Revista do Instituto Histórico
Geográfico e Antropológico do Ceará - RIHGAC ou Revista do Instituto do
Ceará – RIC”.
Expedição de Feijó
Livro sobre a expedição de Feijó
“João da Silva Feijó chegou ao Brasil em 1799 para cumprir o ofício de
naturalista e realizar investigações filosóficas na Capitania do Ceará.
Cumprindo a patente de sargento-mór das Milícias, durante sua
permanência no Ceará (1799-1816), Feijó descreveu, mapeou, fez coletas
de objetos ligados a História Natural, campo que o ligava a outros
naturalistas da Europa. No segundo semestre de 1800, Feijó se dirigiu ao
sul da capitania do Ceará, com destino as antigas lavras de ouro da
Mangabeira. Por causa da seca se deslocou para a então vila do Crato,
permanecendo cinco dias em terras da Serra dos Cariris Novos”.
A epopeia de George Gardner
Livro sobre as viagens de Gardner pelo Brasil Império
“O segundo intelectual é George Gardner (1812 - 1849), que se instalou
em Crato em setembro de 1838. O escocês chegou ao Brasil em 1836 e a
partir de 1837 percorreu as províncias do “norte” do extenso território
brasileiro. No sul do Ceará, o estudioso chegou jovem, com 26 anos de
idade, residindo durante cinco meses na cidade de Crato. Nesse período
se voltou para estudos geológicos e botânicos, principalmente. A maior
parte de suas anotações e as notícias de suas descobertas foram feitas
no ano de 1839. Os escritos originais de Gardner foram encerrados em
1846”. Publicou seu livro, “Viagem ao interior do Brasil”, onde reúne as
informações sobre as viagens nas terras do Ceará. Constam neles muitas
informações e impressões das numerosas excursões realizadas nas
redondezas das vilas de Crato e Barra do Jardim” (Hoje cidade de
Jardim).
A Comissão Cientifica de Exploração
“Já Freire Alemão é um prestigiado cientista do Brasil Imperial, e um
dos mais importantes estudiosos da botânica. O “Diário de viagem de
Francisco Freire Alemão” (volumes 1 e 2) congrega comentários,
narrativas e impressões desse intelectual na ocasião em que se deslocou e
permaneceu três meses na cidade do Crato em uma importante expedição
científica que escolheu o Ceará como ponto de partida. O documento foi
redigido entre março de 1859 e concluído em julho de 1861” (...)
“Francisco
Freire Alemão (1797-1874), se instalou no Crato em 1859 para realização
de estudos em seu papel de presidente da Comissão Científica de
Exploração. A povoação de Crato, criada como freguesia em 1762, elevada à
vila em 21 de junho de 1764 e transformada em cidade em 1853, constitui
o ponto no qual Freire Alemão se instalou entre dezembro de 1859 e
março de 1860. Nesse período de sua estadia conviveu com inúmeros
sujeitos da história intelectual, econômica e política do Ceará e do
Cariri”.
O Crajubar dos dias atuais
“O aglomerado urbano que se formou no extremo sul do território
cearense, hoje conhecido nacionalmente como Crajubar, começou a ganhar
expressão regional na década de 1960. Este arranjo urbano-regional,
conforme sugere o vocábulo que o identifica, é fruto de um histórico
processo de integração territorial das vizinhas cidades de Crato,
Juazeiro do Norte e Barbalha. Portanto, é a justaposição das sílabas
iniciais das referidas cidades na mesma sequência acima indicada que
define o aglomerado em questão” (...) “Do “oásis” natural descrito
pelos três viajantes que atravessaram o Cariri no século XIX, formou-se,
atualmente, o que chamamos de “oásis urbano” em meio aos sertões
centrais do Nordeste, derivado da concentração e diversificação de
atividades e fluxos nos três polos regionais. Este, em grande parte,
fruto da centralidade regional do Crajubar, conquistada anteriormente,
mas, ampliada e consolidada a partir da emergência do fenômeno Padre
Cícero Romão Batista”.
(As
notas acima foram retiradas do artigo “Condicionantes socioambientais e
culturais da formação do Crajubar, aglomerado urbano-regional do Cariri
cearense”, de autoria dos professores Ivan da Silva Queiroz e Maria
Soares da Cunha).
Crato no final do século XIX e inicio do século XX
Como sempre digo um completo jornal. Aqui nesta postagem encontramos tudo aquilo que qualquer pesquisador sobre qualquer assunto e segmento precisa encontrar. Parabéns.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho. Ontem mesmo conversei com o Dr Jácio (médico) sobre a depredação do busto de Kennedy. Lamentável a falta de respeito com o passado. Se não gostam do sujeito, simplesmente digam... precisam destruir um monumento que preserva um pedaço da história, gostem dele ou não????
ResponderExcluir