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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 4 de julho de 2019

Centenário de nascimento do Padre Antônio Batista Vieira - Por Armando Lopes Rafael.


Excertos de texto publicado pela Academia Varzealegrense de Letras


   Antônio Batista Vieira – o Padre Vieira – filho de Vicente Viera da Costa e Senhorinha Batista de Freitas - nasceu no Sítio Lagoa dos Órfãos (atualmente Cristo Rei), ao sopé da Serra dos Cavalos, no município de Várzea Alegre, Ceará, no dia 14 de junho de 1919.

    Recebeu de Dona Senhorinha os seus estudos iniciais (Carta do ABC). Os estudos primários aconteceram em escolas particulares onde reinavam os castigos físicos, os ditados e a valorização da memorização. Realizou os Cursos de Admissão e Ginasial no Seminário do Crato. No Seminário Maior de Fortaleza, cursou Filosofia e Teologia. Ordenou-se sacerdote no município de Crato, em 27 de setembro de 1942. Cursou Administração de Empresas na Universidade da Califórnia, Estados Unidos. Fez o curso de Direto na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cursou Licenciatura em Filosofia na Faculdade de Filosofia de São João Del Rei, Minas Gerais.

    Padre Vieira foi professor de Português, Latim, Italiano e Grego no Seminário do Crato. Foi Redator-Chefe do jornal “A Ação”, Crato. Colaborou com o jornal “O Povo” onde escrevia crônicas “Bom dia, meu irmão” com o pseudônimo Antônio Teixeira. Foi Diretor do Ginásio Nossa Senhora da Expectação, no município de Icó. Foi professor de Antropologia Crítica e Problemas Filosóficos na Universidade Santa Úrsula e professor de ética na Faculdade Jacobina no Rio de Janeiro. Foi deputado federal e, por denunciar os desmandos de então, foi cassado pelo AI-5.

     Padre Vieira sempre manteve, como centro de suas reflexões e preocupações, o ser humano, suas dores, sofrimentos, dúvidas e angústias que foram transformados nos seguintes livros: 100 Corte Sem Recortes (1963), O Jumento, Nosso Irmão (1964), O Verbo Amar e Suas Complicações (1965), Sertão Brabo (1968), Mensagem de Fé para quem não tem Fé (no Brasil, em 1981, e no Chile, em 1983), Penso, Logo Desisto (1982), Pai Nosso (1983), Bom-Dia, Irmão Leitor (1984), Por que Fui Cassado (1985), Gramática do Absurdo (1985), A Igreja, o Estado e a Questão Social (1986), A Família (Evolução histórica, sociológica e antropológica – 1987), Eu e os Outros (1987), Roteiro Místico e Lírico sobre Juazeiro do Norte”(1988), Eu sou a Mãe do Belo Amor (1988), Senhor Aumentai a Minha Fé” (1989), “Filosofia, Política e Problemas Jurídicos”(1989), Pensamentos do Padre Antônio Vieira (1990), Fatos Interessantes e Pitorescos (2001) e Crônicas Afiadas (2003).

    Em Antônio Batista Vieira coexistiam o padre, o advogado, o jornalista, o escritor, o político e o filósofo. Em todos esses sempre estiveram presentes, além de uma larga compreensão, um profundo apego à ética e à justiça.  Padre Vieira faleceu na madrugada de sábado do dia 19 de abril de 2003 no Hospital das Clínicas em Fortaleza.




3 comentários:

  1. Armando - Parabéns pela postagem. O padre Antonio Batista Vieira foi a maior personalidade de Várzea-Alegre em todos os tempos. Ninguém elevou o nome do município e de seu povo quanto ele.

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  2. Verdade, Morais.
    Achei que as comemorações sobre o centenário deste valoroso homem foram tímidas, diante do legado que ele nos deixou. E esse quase olvido bem atesta a mediocridade do meio em que vivemos nos dias atuais.
    Vivêssemos em outro país (ou mesmo no Brasil de décadas atrás) a cidade natal do Padre Vieira (Várzea Alegre) ou mesmo a cidade de Crato (onde ele viveu alguns anos e nos deixou um grande legado material e imaterial) teriam feito solenidades à altura várias para lembrar a memória do Padre Antônio Batista Vieira. Este, um homem de larga visão e de grande coração, dotado de coragem para quebrar os paradigmas e manter-se fiel às suas origens.
    Como todas as pessoas dotadas de inteligência superior, Padre Antônio Vieira nem sempre foi compreendido. Mas, em todo lugar por onde passou, deixou sua marca indelével: simplicidade, afabilidade, cultura invulgar e criatividade para enfrentar os desafios que lhe eram apresentados. Em Crato ergue-se altaneira a igrejinha de São Francisco, no bairro Pinto Madeira, por ele construída num oceano de dificuldades.
    A celebração de seu centenário de nascimento do Padre Antônio Vieira é profundamente inspiradora para todos nós, que vivemos num país dividido, rachado mesmo, prenhe de problemas como a corrupção dos políticos, a disseminação das drogas, a violência nas cidades e no campo, a lentidão e impunidade da justiça, a destruição da escala de valores morais e tantas outras mazelas que vemos e sofremos no cotidiano do esvair dos nossos dias.
    Em meio a esse cenário caótico, quanta falta nos faz a ação de um Antônio Batista Vieira...

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  3. Prezado Amigo Armando - Várzea-Alegre não deu nem dá o devido reconhecimento e gratidão ao seu mais ilustre filho. Lamento entender assim.

    Mas, por tudo que se ler na sua postagem chega-se a conclusão do historiador, jornalista e memorialista Humberto Cabral que disse um dia : "Um homem que nasceu no sopé da Serra dos Cavalos e que escreveu um livro sobre o jumento não é burro".


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