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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

COMPOSITORES DO BRASIL


NOEL ROSA X WILSON BATISTA
A Peleja Musical do Século XX

Por Zé Nilton

Prefiro chamar de peleja e não de polêmica a refrega musical ocorrida nos anos de 1933 entre Noel Rosa e Wilson Batista. Peleja é melhor que polêmica. Peleja é assim como uma teima. Um teima daqui, o outro teima dali, e a coisa se desembesta ficando cada vez mais interessante. Peleja conota um sentido musical e está mais pras coisas se saírem de um jeito alegre e em paz. Já polêmica, bom, o certo é que a Música Popular Brasileira ficou mais robusta e marcou toda uma geração de grandes sambistas o encontro desses dois titãs na velha/nova Rio de Janeiro.

Wilson Batista é de Campos e Noel carioquíssimo. Este é três anos mais novo que aquele. Interessante é que no plano da musicalidade ambos falam a mesma linguagem do samba urbano. A questão não está posta em termos do contraste rural x urbano, e sim do espaço físico, musical e o enfoque da época em cima de temas como a malandragem, a vadiagem, o bamba do não trabalho etc.

Nesta perspectiva fica demarcada a questão de classe na escrita e na temática. As letras de Noel são mais rebuscadas e de fino acabamento. Noel filho da classe média, branco e estudante de medicina. Wilson Batista vem de uma família pobre, preto e seu aprendizado do mundo se dá nos lugares da boemia e da marginalidade. Sua escrita é rica em conteúdo, direta é por vezes agressiva, sem perder o encanto.

Mas tudo começou quando Wilson Batista sob o pseudônimo de Mário Santoro lançou a música “Lenço no Pescoço”. Na época estava havendo um movimento dentro da MPB no sentido de (re) valorizar temas mais poéticos em detrimento dos atuais insistentemente focados em orgias, gandaias e nas “delícias do não trabalhar”, no dizer de Almirante. Noel ouviu bem e retrucou Wilson Batista com a música “Rapaz Folgado”, aconselhando-o a trilhar por outro caminho na estética e na vida.

Então, é toda esta conversa em torno do assunto embalada pelas músicas de ambos que apresentaremos nesta quinta feira no Compositores do Brasil, programa radiofônico levado ao ar pela Rádio Educadora do Cariri, de Crato.

Na sequencia:

LENÇO NO PESCOÇO, de Wilson Batista com Sílvio Caldas e Diabos do Céu, 1933;
RAPAZ FOLGADO, de Noel Rosa com Mart´nália e Martinho da Vila
MOCINHO DA VILA, de Wilson Batista com Jorge Veiga
FEITIÇO DA VILA, de Noel Rosa com Aracy de Almeida
CONVERSA FIADA, de Wilson Batista Moreira da Silva
PALPITE INFELIZ, de Noel Rosa com João Gilberto
FRANKENSTEIN DA VILA, de Wilson Batista com Jorge Veiga
JOÃO NINGUÉM, de Noel Rosa com Antônio Carlos Jobim
TERRA DE CEGO, de Wilson Batista com Jorge Veiga
DEIXA DE SER CONVENCIDA, de Noel Rosa e Wilson Batista com Roberto Paiva

Quem ouvir verá!

Compositores do Brasil
Rádio Educadora do Cariri(www.radioeducadoradocariri.com)
Acesse: www.blogdocrato.com
Quintas-feiras. De 14 às 15 h.
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Direção Geral: Dr. Geraldo Correia Braga


2 comentários:

  1. Prezado Prof. Zenilton.

    Encontrei "Palpite infeliz" com a Aracy de Almeida, mas o danado do Blog não baixou.

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  2. Ah, diacho, seria bom que todos a ouvisse essa que foi a queridinha de Noel. Ele até lhe fez uma música chamada "ARACA".
    Ela gravou tudo dele.
    Coloquei com J. Gilberto para dar uma diversidade em termos de cantores de Noel. Mas tudo que ele fez a Aracy gravou.
    Abraços

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