Quando é seca no nordeste
É mais pio qui feitiço
Pruquê o Cabra da Peste
Vai pra frente de seiviço.
Mealembro cuma vortei,
Quando na frente cheguei
Pru mode me alista.
O qui o feitô inzigiu,
Num tem ome no Brasil
Qui consiga arranjá.
Fui falá cum o feitô
Ele nem oiô pra mim,
Cum a voz de ditadô
Foi logo dizendo assim:
- Não ache que sou ridículo
Mas me traga o seu currículo
Para poder se alistar.
O anel de formatura,
Diploma de arquitetura,
Você tem que apresentar.
Traga uma folha corrida
Do poder judiciário,
Um atestado de vida
Com o visto do vigário.
Carteira de identidade,
Canudo da faculdade
E o anel de doutor.
Depois vá no C.P.D.
Para provar que você
Conhece o computador.
Traga do sul ou do norte
Sua naturalidade,
Quero vê seu passaporte
Se ainda tem validade.
Não esqueça de trazer,
Depois que reconhecer
A firma do batistério.
Traga o óbito carimbado,
De quando foi enterrado
Seu avô no cemitério.
Traga do seu nascimento
Comprovante de batismo,
Certidão de casamento
E o curso do catecismo.
Para fazer seu fichário,
Preciso do formulário
Do seu imposto de renda.
Para saber se é honesto,
Se não tem nenhum protesto
Pendurado na fazenda.
Também quero de você
Documentação total,
Da carta de A.B.C.
Até o segundo grau.
Coloque também na lista,
Carteira de reservista
Do serviço militar.
O título de eleitor,
Carteira de doador
Que eu preciso arquivar.
Foi quando eu dixe: - Dotô!
Tô aqui mode iscapá,
Sou ome trabaiadô
Num gosto de cunvesá.
Eu nunca qui fui casado,
Sempre fui amansebado
E nunca fui aiquiteto.
Mais sou um cassaco forte,
Nun cunhêço passaporte
Pruquê sou anafabeto.
Eu intendo de fazenda
Pruquê tem lá na rebêra,
Mais só intendo de renda
Qui fais a muié rendêra.
Vosmicê pede um ané,
Uma ruma de papé
E nem fala na inxada.
Lá im nóis é deferente,
O trabái é no sol quente
Sem cunhecê papelada.
Vosmicê me pede carta
Mais eu num sei iscrevê,
Do sabe eu sinto farta
Pois num aprindí a lê.
Meu tito de inleitô,
Um candidato tomô
Pruquê num sube votá.
Eessa tá de reservista,
É mió tira da lista
Qui eu num sô militá.
Num cunhêço C.P.D.
Nem tombém cumputadô,
Mais eu juro a vosmicê
Qui sou um trabaiadô.
Meu nome é Ontõe Frimino,
Derna o tempo de minino
E nunca qui dei cavaco.
Mais vortando pru assunto,
Eu agora lhe pregunto
Dá prumode eu sê cassaco?
Mundim do Vale.
Mundim.
ResponderExcluirAntonio de Firmino era compadre do meu pai, eram iguais numa coisa: falavam alto. Voltava da feira semanal sempre cheio da teimosa e curtia um pouco lá em casa antes de subir para o Canto onde morava