Se a vida tivesse ré
Hoje eu teria engatado,
Pra escrever com mais fé
A história do passado.
Tinha parado esse mundo,
Na terra de São Raimundo
E passava a escrever.
Fazia tudo seguro,
Para no século futuro
Seu filho não esquecer.
Voltava aos anos cinqüenta
E escrevia a história,
Para nos anos noventa
Não sair mais da memória.
Fazia tudo perfeito,
Contando do mesmo jeito
Para geração futura.
Narrava toda a verdade,
Porque a minha cidade
Tem receita de cultura.
Eu começava a falar
Do dentista Elesbão,
Do misto de Zé Odmar,
De Zuza e do caminhão.
Do Bilhar de Antônio Diô,
Do curtume de Totô
E a bodega de Adalgisa.
Do poço de Seu Abel,
De Zé Júlio e o carrossel
E o cartório de Anízia.
Das cocadas de Alceu
De Alexandre e a moageira,
Da usina de Dirceu
E a máquina de Zé Teixeira.
Da farmácia de Nelinho,
Das malotas que Britinho
Fabricava na semana.
Das celas de João Bile,
Do carneiro de Zezé
E o alfinim de Santana.
Do cinema de Leó
E do bar de Zé de Lima,
Da banquinha de filó
Com bastante fruta em cima.
Das festinhas de reizado,
Das corridas lá do prado
E dos galos bom de briga.
Da turma de penitente,
Do leilão de São Vicente
E do terço da Formiga.
Quem viveu lá sei que viu
O clube de Zé Colares,
O Circo Estrela Brasil
De Loudinha e Zé Soares.
Quem viveu ali com nós,
Viu Antônia dos Filhós
Vendendo e fazendo mais.
Viu Belizário com fumo,
Afonso Doido sem rumo
Bogim com seus animais.
As flores de Valdeliz
E as fotos de Jesus,
As presepadas que fiz
Quando lá faltava luz.
Me lembro que todo dia,
Geraldo gago vendia
Pirulito com pão doce.
Mas tudo isso é lembrança,
Do meu tempo de criança
Que a muito tempo acabou-se.
Mundim do Vale
26-10-96
"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".
Dom Helder Câmara
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Mundim.
ResponderExcluirFeliz daqueles que tem uma memoria prodigiosa como sua. Infeliz daqueles que não podem mostrar o proprio passado.
Um grande abraço.
Mundim,
ResponderExcluirEm poucas palavras, todo um passado se desenrolou. Palavras que lembram imagens, como um filme.
Valeu,
José Bitu
é adoro poemas que falam do nosso passado e o raimundinho é perito nessa área, eu fico extasiado, e acho bom que as vezes ele fala em personagens da nossa várzea alegre que eu nunca tinha ouvido falar e daí em diante passo a conhecer parabéns raimundinho por mais essa bonita postagem
ResponderExcluirVALEU POETA; ESSA COMO MUITAS OUTRAS SUAS JÁ CONHECIA E JÁ DIVULGUEI NA NOSSA VÁRZEA. DIGO PARA QUEM NAO CONHECE O GRANDE NUMERO DE TRABALHOS DO POETA MUNDIM DO VALE; COMO ESSA EU CONHEÇO DEZENAS POR ISSO FALO NÃO É UM MUNDIM É UM MUNDÃO.
ResponderExcluirO mundim é só no nome
Na poesia é mundão
É poeta de mão cheia
Aqui do nosso torrão
Lembra de coisas que
Outro iria esquecer
Ninguém jamais lembraria
O Comercio de Santana
Filó vendendo banana
E a venda de cacaria
Ei, Mundim, me dá notícia do BECO DE GOBIRA, você já escreveu algo sobre aquele famos trajeto apertado da minha casa até o GINÁSIO SÃO RAIMUNDO ainda na Getúlio Vargas? A gente ia em comitiva, um dia João Geraldo se aborreceu comigo e me chamou de "QUALHADA AZEDA, já pensou?
ResponderExcluirRaimundim, mais um belo poema, retratando uma grande saudade !!!
ResponderExcluirMorro e não me acostumo com esse "modernismo"... Com o rumo que o mundo tomou ...
Beijos Raimundim.. Fica com Deus.
Mundin,
ResponderExcluirQue bela volta a um passado que o presente precisa saber. Bonita peça. Parabéns.
Um abraço do tempo do Boguelo de Zé Lotero.