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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Revolução de Juazeiro Parte III- Por Jose Augusto de Lima Siebra

Ao lado deste senhor
Outros amigos se acharam
Que quais leões redivivos
Heroicamente lutaram
Pela defesa da pátria
A própria vida arriscaram.

Segundo disse um sujeito
Que chamaram José Dourado
Do chefe Antônio Luiz
Cangaceiro afiançado
Por oitocentos jagunços
O Crato foi atacado.

Com tantas horas de fogo
A munição se acabou.
Alguém garante que tinha,
Tenente Romão negou;
Vendo-se assim dessa forma
A cidade se entregou.

Teve um bravo oficial
Que do dever segue o trilho
Segundo me afiançaram
É da Paraíba, filho.
O Tenente José Lopes
Lutou com denodo e brilho.

Este bravo oficial
Foi na luta baleado
Deixando dentro do Crato
O seu sangue derramado
No leito do sofrimento
Por muitos dias prostrado.

Tendo chegado a notícia
Do Crato a triste tomada
O Capitão Ladislau
Partiu em fuga apressada
Ficando também agora,
A Barbalha abandonada.

Do Capitão Ladislau
Nada pretendo narrar
Não faço-lhe acusação
Defesa não vou lhe dar
Quero somente ao leitor
Uma coisa despertar.

Enquanto a triste tomada
Da terra dos coqueirais
Terra pisada por bravos
Dos verdes canaviais
Se Ladislau foi culpado
Martins de Freitas foi mais.

Se Ladislau em Barbalha
Foi formar acampamento
Não resta dúvida alguma
Foi por seu consentimento.
Isto que digo ao leitor
Provarei em qualquer tempo.

O Capitão Ladislau
Quando em Barbalha chegava
A quatro dias ali,
Martins de Freitas se achava.
Provo até com telegramas
Que de lá, ele passava.

Quando em Santa Rosa estava
Já havia combinado:
Dando-se o segundo ataque
Este sendo malogrado,
Não voltar mais para o Crato.
Para não ser criticado.

Porém, não falando mais
Em sapatos de defuntos
Deixemos ambos os dois
Seguirem viagem juntos
E vamos rever de novo
Do Crato os tristes assuntos.

Depois de feita a derrota
Da terra dos coqueirais
Outrora terra bendita
Hoje de prantos e ais
Gemendo desventurada
Nas unhas dos Canibais.

Para os sertões mais vizinhos
Segue a feroz jagunçada
E nas fazendas alheias
Mandaram fazer vaquejadas
A casa que tem dinheiro
Por eles é cotizada.

Quais uns senhores mandões
Numa fazenda chegavam
E ao empregado daquela
Severamente ordenavam
Que fossem pegar o gado
Que seus amos precisavam.

E o desgraçado vaqueiro
Contra a vontade seguia
Aos senhores do cangaço
Prontamente obedecia
E a grande e gorda boiada
Na frente deles seguia.

Em toda aquela estação
Que qualquer trem demorava
Era qual peste maldita
Que de momento assolava
Tangia-se a liberdade
A lei do terror plantava.

E a verdade do que digo
O leitor encontrará
Interrogando Iguatu,
São Bento e Humaitá,
São João, Quixeramobim,
Baturité, Quixadá.

Em poucos dias estava
A capital farejada
A jagunçada terrível
Bem perto lhe ameaçava
Nas senhoras cearenses
Pavor imenso reinava.

E os homens de Fortaleza
Qual uma onda fervente
Só a defesa da terra
Agora lhes vem à mente
Preparam-se para a luta
Ao lado do Presidente.

Dentro de Miguel Calmon
Denominado São Bento
A treze de fevereiro
Formou seu acampamento
Que poucos dias depois
Deu-se o combate cruento.

A cidade de Iguatu
Também presenciou
A miséria dessa gente
A que condições chegou
Assassinatos e roubos
Tudo ali se praticou.

Dentro da própria cadeia
Foi um pobre assassinado
Com (-----) facadas
Ficando todo estragado
E no quintal da cadeia
O corpo foi sepultado.

Pegaram este sujeito
Furando devagarinho
Ordenando desta forma:
Dê um viva a meu Padrinho.
Ele sorrindo dizia:
Viva o santo Rabelinho

Sobre o peito deste herói
Cravam-se agudos punhais
Que penetrantes e fortes
Cortam-lhe os fios vitais
E o bravo morre e não solta
Soluço, pranto e ais.

Na freguesia não teve
Quem não fosse cotizado
O que não tinha dinheiro
Fosse tomar emprestado
O que não satisfazia
Era logo maltratado.

Alguém da localidade
Também concorreu nos danos
Junto, surrando, roubando
Com os jagunços tiranos,
Mostrando-se dessa forma,
Perversos e desumanos.

Teve um moço de família,
Que caiu nesta rascada
Cometendo bandalheiras
Com a negra jagunçada
Perdendo a dignidade
Caindo no pó do nada.

Teve um deles com dois cabras
E dúzias de mais romeiros
Percorreu de um canto a outro
Todo o município inteiro
Fazendo para seu lado
Grande montão de dinheiro.

Depois que a corja maldita
A freguesia roubou
No sertão Quixa....(?)
Assombro imenso plantou
Em procura de São Bento
Às pressas se encaminhou

Um comentário:

  1. Este é um poema historico. Fala e resgata um episodio triste da historia do cariri.

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