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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

COMPOSITORES DO BRASIL

“Quando eu abrir minha garganta
Essa força tanta
Tudo que você ouvir
Esteja certa
Que estarei vivendo”
(Sangrando)

GONZAGUINHA

Por Zé Nilton

Senti na pele o que era estar frente a frente com Luiz Gonzaga Jr. Sabia do seu jeitão de distante, irônico e de pavio curto. De fato, o homem nos recebeu com uma frieza de arrepiar. Chegamos cedo à casa ao lado do Parque Asa Branca, em Exu, nas primeiras chuvas de janeiro. Avisado, lá vinha aquele vulto esticadão, magro e de cabeça pendida às vezes para o lado, às vezes para trás. Observei demais seu trajeto da porta que dava para o alpendre até a porteira. Mesurou-nos com um - bom dia a todos -, com uma voz contida, com um olhar furtivo passando por sobre nós, com uma mão em trajeto de arco apontando o caminho do alpendre.

Dr. Manuel Edmilson do Nascimento, segundo reitor da URCA. Admirável é sua postura. Simpático, tranqüilo, voz pausada, mansa e suave. De mão desses atributos abre solenemente a reunião.

Eu reparava de olhos grudados na figura do grande compositor brasileiro. Ele puxava sem cessar a ponta do bigode, entre baforadas de cigarro e tragos de cerveja fria. Ele ouvia atentamente o seu interlocutor. Ele foi se desmascarando da personagem difícil e complicada de quem eu ouvira falar.

Já eram afável e solto os seus gestos. E eu viajando nas imagens daquele homem – menino guerreiro – nascido no Morro de S. Carlos, criado por estranhos e filho de Luiz Gonzaga. Então, nas músicas, no palco e no calor dos (des) encontros a carga do que passou pesava e Gonzaga Jr. era só brutalidade, irreverência e desconfiança. Mas ali, na casa de seu velho e querido pai, frente à cortesia e inteligência de Dr. Edmilson, Gonzaguinha mostrou doçura e compreensão.

Senti seu entusiasmo ao falar dos projetos para o Parque Asa Branca. Cheio de vida eram suas perspectivas para o futuro. Não dá para dizer com palavras quão belo era o território de sua face ao gesticular projeções para a cultura e o meio ambiente regionais, a partir do Parque e Museu Gonzagão.

Igualmente guardei lembranças de um homem inteligente e conhecedor profundo das coisas do mundo. Suas análises sobre a cultura brasileira e nordestina me impressionaram pela profundidade de quem detém o conhecimento teórico-prático da realidade.

Ao sair daquele recanto haurido por luminosidades da natureza e da inteligência humana, ouvi da professora Maria Sarah Esmeraldo Cabral, responsável pelo encontro, distintos elogios à pessoa de Gonzaguinha. Sarah o disse um humanista.

O tempo amadurece. Estava ali o poeta e músico da MPB inteiro, resultado das somas de tudo que juntou, desde os festivais universitários de que participou, da geração cultural e musical de que foi um ativista e renovador, do compositor consagrado e representante da moderna linguagem da MPB, e agora prenhe de tudo isso, ávido por oferecer sua capacidade a serviço de seu povo.

Numa manhã do final de abril daquele ano, 1991, quando as chuvas vão deixando a natureza grávida de opimos frutos, nos deixou Gonzaguinha. E tudo do que disse para nós, na casa de seu pai, foi deixado para trás.

Ficou a sua música, rica em temática, em ritmos, em sons.
Uma pequena parte dela será lembrada no programa Compositores do Brasil, desta quinta-feira, a partir das 14 horas, na Rádio Educadora do Cariri.

Na sequencia:

COMPORTAMENTO GERAL, de Gonzaguinha com Gonzaguinha
UM HOMEM GUANDO CHORA, (guerreiro menino) de Gonzaguinha com Gonzaguinha
UM ABRAÇO TERNO EM VOCÊ, VIU MÃE, de Gonzaguinha com Gonzaguinha
ESPERE POR MIM, MORENA, de Gonzaguinha com Leila Pinheiro e Gonzaga Jr.
UM LINDO LAGO DO AMOR, de Gonzaguinha com Gonzaguinha
GERALDINOS E ARQUIBALDOS, de Gonzaguinha com Simone
EXPLODE CORAÇÃO, de Gonzaguinha com Maria Bethania
COMEÇARIA TUDO OUTRA VEZ, de Gonzaguinha com Quarteto em Cy
VIVER E NÃO TER A VERGONHA DE SER FELIZ, de Gonzaguinha com Gonzaguinha
GALOPE, de Gonzaguinha com MPB4
O PRETO QUE SATISAFAZ (feijão maravilha), de Gonzaguinha com as Frenéticas
E VAMOS A LUTA, de Gonzaguinha com Gonzaguinha

Quem ouvir verá!

Programa compositores do Brasil
Rádio Educadora do Cariri
Na web: www.radioeducadoradocariri.com)
Acesse: www.blogdocrato.com
Todas às quintas-feiras, de 14 as 15 horas
Produção, pesquisa e apresentação de Zé Nilton

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