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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 2 de abril de 2011

UM CACHORRO É PRA OUTRO - Por Mundim do Vale

No dia do trágico acidente que levou o saudoso Didi Brito a óbito e deixou o seu irmão Vitorino, com as pernas fraturadas. Chegou em Várzea Alegre um telegrama, comunicando o fato para a família. Foi por volta das 22:00 Horas que a nossa pequena cidade, sentiu de impacto aquela triste notícia.
Não se faz necessário eu dizer aqui que a comoção foi generazidada.
Zé de João Bile, cunhado das duas vítimas daquele perverso acidente, fazia o penoso trabalho de avisar ao restante dos familiares, quando se lembrou que precisava mandar alguém até o sítio São Nicolau.
Vários fatores conspiravam para dificultar aquele trabalho; A dificuldade de comunicação, Transportes restritos, um pesado inverno que danificava as
Estradas dificultando o acesso até de animais e bicicletas e ainda um mensageiro que tivesse a disposição para aquela diligencia.
Naquele momento chegou Ferrim de Bastiana, tombando mais do que João Teimoso feito de isopor e foi logo dizendo:
- Se for priciso eu vou!
Zé Bile perguntou:
Tu vai mesmo Ferrim?
- Vou. Só qui eu vou pricisá duns terém.
- E de que é, que você precisa?
- É duma garrafa de cachaça Guanabara e uma carteira de cigarro B.B.
- Pois tá muito bem. mas tenha muito cuidado com tubarão, Aquele cachorro vive atacando as pessoas principalmente de noite. Ele costuma ficar sempre naquela calçada alta da casa de Joaquim Costa.
- Num pricisa tê coidado não. Qui um cachorro é pra outro.
Providenciaram os suprimentos e Ferrim partiu cantando Carolina e acompanhando batendo com uma pedrinha na garrafa.
Quando chegava próximo a casa de Joaquim Costa, já tinha esvaziado a garrafa. Pegou o lado direito da estrada já avistando a figura de tubarão deitado na calçada. Seguiu beirando uma cerca de varas em silêncio total. De repente pisou numa cabaça velha e aquele barulho acordou o cachorro, que já deu uma latida. O mensageiro passou para o outro lado da cerca, fazendo assim um escudo entre ele e o cão., mas o bom portador descuidou-se e deu um chute numa lata de óleo vazia, que foi de encontro a uma pedra, fazendo um barulho infernal.
Tubarão latiu e já desceu quase voando.
Ferrim correu em direção a um juazeiro e ficou tentando escalar, quando o cachorro deu uma bocanhada , que já desceu com a calça e a cueca, deixando Ferrim apenas com a camisa.. Com um sacrifício profundo o mensageiro conseguiu chegar até uma galha e tentou sentar para descansar e se refazer do susto. Mas aconteceu o pior, ele sentou logo num toco de uma galha cortada. Com o grito de dor o cachorro deu outra investida e ficou com as patas traseiras no chão e as dianteiras abraçadas no tronco do juazeiro.
Numa ação rápida de sobrevivência Ferrim foi passando para uma galha mais fina, quando bateu com a cabeça numa colméia de abelhas italianas, que ficou presa na sua cabeça, como se fosse um capacete. Sem avistar nada e com as abelhas perturbando ele foi descendo pela ponta da galha que com o peso foi baixando, até o ponto que ele sentiu o bafo quente da boca de tubarão exatamente na entrada do terminal das costas, onde já estava lesionado pelo toco.
Nesse momento ele afrouxou e fez uma prece a Santo Antônio:
- Me vaila. Meu Santo Ontõe. Pruque agora só farta mermo é tubarão num gostá de mé.

Dedicado aos amigos; Chico Brito, Telma Bile e Fátima Bezerra.

5 comentários:

  1. Prezado Mundim.

    Foram muitos os nossos parentes que sofreram ou perderam entes queridos com acidentes por conta das estradas e carros inaptos para o transporte de seres humanos. Lembro-me deste acidente que vitimou os meus primos e comoveu toda comunidade de nossa terra. Não tinha conhecimento da historia do Ferrin.

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  2. Obrigada meu poeta, coitado do meu Tio Ferrin, se funicou todo, rsrsrs; mas brincadeira aparte; esse foi um dia terrivel! por inccrivel que possa parecer eu tinha chegado de são nicolau fazei poucos dias, sabe quem estava lá fazendo companhia pra minha comadri Francesa?( sou madrinha da Telma Brito, juntamente com Geraldinha, sua irmã meu poeta) Socorro Brito e Chiquinha do rato, é a mais pura verdade.

    A Familia Brito é minha segunda familia.Quanta saudade!!!!!!!!!!!!!

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  3. Mundim,

    Depois dizem que um raio não cai mais de uma vez no mesmo lugar.... Quem disse?

    Mas de uma desgraça atrás da outra assim!!!!! Vôte!!

    Abraço,

    Claude

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  4. Claude, lembro perfeitamente desse dia. Foi comoção geral. Nossa Várzea Alege é assim: temos coisas lindas, belas emoções mas quando perdemos alguém, a cidade entristece demais. Na verdade, somos uma só família. A família Brito sofreu muito assim como a nossa com a morte de nosso cunhado José de Freitas.
    Abraço Fafá

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  5. Mundim, confesso que ri e chorei, lendo a sua postagem. Fiquei lembrando do dia que minha irmã ficou viúva e com 4 filhos. Seus pais nos ajudaram tanto!
    Fafá Bitu

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