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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 10 de julho de 2018

Sobre o artigo de Antônio Morais – por Armando Lopes Rafael


   Interessante, e oportuno, o artigo (“Pedro II do Brasil”) publicado logo abaixo por Antônio Morais. O texto chega a ser comovente em alguns momentos. Principalmente quando fazemos (mentalmente) a comparação entre os tempos da honrada e respeitável Monarquia Constitucional Brasileira e esta desmoralizada republiqueta dos dias atuais. 

    Estou lendo um excelente livro ( “O Imperador no exílio”, do Conde de Afonso Celso), que trata dos últimos dias do Imperador Dom Pedro II, desde a expulsão da Família Imperial –  pelo golpe militar que implantou a República, em 15 de novembro de 1889 – um dos episódios mais vergonhosos da nossa história, até o falecimento do Imperador, em Paris, em 1891. O Conde de Affonso Celso é filho do Visconde de Ouro Preto, último Primeiro-Ministro da Monarquia Parlamentarista. O conde acompanhou o velho imperador no seu exílio forçado e dá o seu depoimento sobre os valores éticos que orientavam Dom Pedro II, do sofrimento e pobreza dos últimos dias do honrado imperador, além de traçar o perfil moral daquele que ainda hoje é considerado “O maior dos brasileiros”. 
 
   A cena mais pungente descrita é a  morte da imperatriz, ocorrida  em um hotel simples da cidade do Porto, em Portugal,  para onde havia se retirado. Antes de morrer ela disse à acompanhante.  "Não morro de doenças, morro de saudades e de tristezas". Em seguida, faleceu. A Família Imperial já estava sem dinheiro, e a Imperatriz só não foi enterrada como indigente porque um bondoso português (que havia ganhado muito dinheiro no Brasil) pagou as exéquias de Dona Teresa Cristina. 
     O próprio Dom Pedro II, normalmente contido em suas reações, não escondia a tristeza. Ele abraçou a sua muito amada esposa soluçando e foi logo retirado dali pelo Mota Maia (médico da família). Dois anos depois, aos 66 anos, o Imperador morreria de pneumonia, num modesto hotel de Paris onde viveu o fim de seus dias.

     Do livro “O Imperador no exílio”, do Conde de Afonso Celso ainda citarei duas passagens. A conferir.
      1 – Em visita a Dom Pedro II, agora exilado, o Conde Afonso Celso, contou sobre a ditadura e as perseguições que muitos brasileiros estavam sofrendo desde a queda da monarquia. Notando o semblante triste de Dom Pedro II perguntou:

– Vossa Majestade não desejaria voltar, para restaurar no Brasil o regime da justiça e da liberdade?

Quanto a voltar, se me chamarem, estou pronto. Seguirei no mesmo instante, e contentíssimo, visto ser útil ainda à nossa terra. Mas se me chamarem espontaneamente, notem. Puseram-me para fora...Tornarei, se se convencerem de que me cumpre voltar. Conspirar, jamais! Não se coaduna com a minha índole, o meu caráter, os meus antecedentes. Seria a negação da minha vida inteira. Nem autorizo ninguém a conspirar em meu nome ou no dos meus. Se desejarem de novo a minha experiência e a minha dedicação à testa da administração, que o digam claramente e sem constrangimento. Obedecerei sem vacilar, à custa embora de árduos sacrifícios. Do contrário, não e não!

   2 – Nas dificuldades que vinha sofrendo, como a falta de dinheiro para pagar o modesto hotel onde residia, e ao ouvir pessoas em sua volta criticarem os golpistas que o derrubaram do trono, o magnânimo Imperador declarava: “Nunca abri o meu coração a um sentimento de ódio, nunca pus o meu poder ao serviço de vinganças'”.
Foto do Imperador Dom Pedro II feita durante o seu velório, em Paris

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