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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Lembranças de um Crato que desapareceu - Postagem do Armando Lopes Rafael.

 Geraldo Duarte é um advogado, administrador, dicionarista e cronista nas horas vagas, residente em Fortaleza. Geraldo Duarte tem um declarado amor à cidade de Crato, embora não tenha nascido na Cidade de Frei Carlos. Anos atrás, ele publicou, no "Diário do Nordeste", uma crônica de reminiscências transcrita abaixo.

Senador, foguetes e gargalhadas – Por Geraldo Duarte

                                                                Senador Wilson Gonçalves

Anos 1960. Acirradas disputas dos cratenses pertencentes a UDN e ao PSD. O advogado paraibano Wilson Gonçalves (1914 - 2000) fez-se chefe político na terra natal do Padre Cícero. Lá foi interventor municipal (1943-1945)e depois foi eleito  deputado estadual, vice-governador do Ceará e senador da República.

Hermes Lucas, era tio do jornalista e escritor Oswaldo Alves de Sousa, autor de “Combatendo Pelo Crato” e “Tipos e Ditos Populares do Crato de Ontem e de Hoje e Outros Temas” (Osvaldo era integrante da UDN, portanto contrário  ao Dr. Wilson que pertencia ao PSD).

Osvaldo é sobrinho de  Hermes Lucas, que era filiado ao PSD, boêmio e conhecido por sua presença de espírito. Também com muita presença de espírito  era um irmão de Hermes, chamado Jorge Lucas, personagem muito conhecido em Crato.

Um sacerdote, buscando Hermes, encontrou com Jorge, e indagou onde  encontraria seu irmão, pois há dois dias o procurava, deixava recados e nenhum êxito. Resposta rápida. “Arme uma arapuca ali, na Praça Siqueira Campos, bote uma rapariga dentro que ele cai.”.

Rapaz afrodescendente, educado e trabalhador enamorou-se da filha de um comerciante. Este, sabendo da amizade do namorado da filha com Jorge, pediu-lhe que interviesse, em face de achar o namoro “desigual”. Ouviu de pronto: “Se você soubesse quanto o jovem é bom, não reclamava e pintava os seus filhos de preto.”.

Todas as vezes que Wilson Gonçalves chegava ao Crato, Hermes, fiel liderado, posicionava vários fogueteiros em pontos estratégicos do itinerário do parlamentar e o foguetório estrondava durante minutos em sua passagem.

Um adversário descobriu que Hermes colocava uma pessoa, a um 1 km da então entrada da cidade, para que, avistando a comitiva, disparasse um rojão, como senha para os correligionários, no centro da cidade, replicarem o foguetório.

Assim, certo dia, um oponente pôs alguém para duas horas antes da chegada de Wilson Gonçalves, soltar o fogo de artifício, fingindo o aviso. Como de praxe, ouvido o sinal, estampidos ecoaram, mas a autoridade não apareceu.

Dizem que, horas depois,  no silencioso trajeto do senador adentrando na cidade, ouviram-se gargalhadas dos opositores. 

De tão queridos, Hermes e Jorge Lucas nominam hoje ruas do Crato.

2 comentários:

  1. O Dr. Wilson Gonçalves foi prefeito do Crato, Deputado Estadual, Deputado Federal, Vice governador, senador da republica e ministro do Superior Tribunal de Recursos, já extinto.

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  2. Histórias boas de contar e ouvir sobre o folclore e ranço da politica cratense de outrora. Uma rivalidade saudável onde os beneficiados eram a cidade e seu povo.

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