O Brasil foi descoberto
A mais de quinhentos anos,
Mas hoje vive coberto
Pelas asas dos tucanos.
Bruaca é bolo de caco
E lama se chama argila,
Onde pobre tem sovaco
O rico tem axila.
Valei-me meu Padim ciço
Me acuda seu Lampião,
Hoje eu ví um reboliço
De bicudo no algodão.
A banda não toca nada
Quem tá dizendo é Limeira,
Só escuto essa danada
Depois que tiver inteira.
Gato come no abrigo
E porco come no coxo,
Quem quiser cantar comigo
Tem que ter aquilo roxo.
Carro de mão não tem breque
Meu braço esquerdo é canhoto,
Filho de pobre é moleque
Filho de rico é garoto.
Mestre de obra é feitor
Fundo de açude é porão,
Matuto só tem valor
No dia da eleição.
Governo vive é de taxa
De imposto não esquece,
Mulher que muito se agacha
O seu bumbum aparece.
Sou cantador do Tauá
Parente de Lampião,
Só ensino o b-a-bá
Com a palmatória na maão.
Já cruzei uma barata
Com um cavalo do cão,
Nasceu Fernando da Gata
Pregado com lampião.
Na práia da Parnaíba
Pedalei de bicicleta,
No sertão da Paraíba
Tem muita cruz de poeta.
A mulher tem que saber
Onde é lugar dela,
Ou vai ter que devolver
Depressa a minha costela.
Já dizia a velha Diva
Quem tem bouca vai a Roma,
Vou pedir a Patativa
Que assine o meu diploma.
Lá vem Luís Cassundé
Na garupa do jumento,
A moça que tem chulé
Não arruma casamento.
Porco pequeno é leitão
Toda catinga é inhaca,
Poço fundo é cacimbão
Dança de frejo é fuzaca.
Pitomba boa é do Crato
Rapadura é do Exu,
Galinha que põe no mato
É pra engordar teú.
Não canto mais na vazante
Porque só faço o que posso,
Velório de protestante
Não se reza padre nosso.
Bom dia Zaca Furtado
Boa tarde Coronel Bento,
Lampião morreu capado
Diz o novo testamento.
Cangaço já acabou-se
Com Limeira ninguém bole,
Porque rapadura é doce
Mas não pense, que é mole.
A polócia já chegou
No final de toda trama,
O Chupa Cabras matou
P.C. farias na cama.
Quem vem, cantar com Limeira
Ao invés de cantar resmunga,
Toda mulher fiadeira
É prevenida de sunga.
A cangaceira Dadá
Levou peia no cedém,
Quem tem medo de imbuá
Corre quando vê o trem.
Do Chupa Cabas me escondo
Seja de noite ou de dia.
Em casa de maribondo
Macaco não dar bom dia.
Panela, texto e colher
Galinha, pinto capado,
Homem apanha da mulher
E não dar parte ao delegado.
Com a lei da doação
os meus órgãos eu vou doar
Porém eu faço questão
Com quem é que vai ficar.
Vou doar meu coração
Ao poeta da ribeira,
Quero vê se o sertão
Vai esquecer Zé Limeira.
Minha verve inreverente
Vou doar a Hélder França,
Pra ele no seu repente
Provocar minha lembrança.
Para o poeta Bidinho
Vou doar minha moral,
Pois ele sabe o caminho
Da justiça social.
Para Sávio eu vou doar
O meu dom da poesia,
Para um dia ele ganhar
Cadeira na academia.
Pro vate Mundim do vale
Vou doar inspiração,
Pra que ele não se cale
E lembre sempre o sertão.
Patativa do Assareé
Não precisa doação,
Pois já é cabeça e pé
Da cultura do sertão.
"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".
Dom Helder Câmara
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Parabens Mundim.
ResponderExcluirUm belo Poema, muito bem humorado.
Abraços.
POETA MUNDIM DO VALE O POETA DE TODOS OS TEMAS E ESTILOS QUANDO O AASUNTO É CULTURA POPULAR SABE MAIS QUE NINGUEM RIMAR. VALEU POETA PARABÉNS GIGANTE.
ResponderExcluirMundim
ResponderExcluirSei que minhas palavras, escritas, não terá o mesmo sentimento que eu tive ao ler esse belíssimo cordel. Mas, não poderia me esquivar de fazer esse meu comentário.
Parabéns.
Mundim,
ResponderExcluirO escritor Orlando Tejo quando escreveu o livro "Zé Limeira - O Poeta do Absurdo" não sabia da existência deste vate cearense.
Parabéns pelas divertidas quadras.
O grande Mundim do Vale
ResponderExcluirE como vale Mundim.
Mas antes que ele fale
Vou falar aqui tudim
O Brasil foi descoberto
E tu sabe foi engano
Nós complementamos decerto
Quase que seiscentos dano
Começou lá no passado
Com Fernando de Loronha
Levou madeira a nado
Pra Portugal e Espanha
Um tal de Fernando Colo
Que veio das Alagoa
Criou muito protocolo
Nós tiramos numa boa
Pra completar os desmando
Fez um governo tinhoso
Tu sabe que tô falando
É de Fernando Cardoso
Faltava outro Fernando
E esse foi de lascar
Ô Mundim tu tá lembrando
De Fernando Beira Mar ?
Na rima de Zé Limeira
Nós vamo longe cumpade
Amanhã é quarta feira
Dia de muita saudade
Saudade lá das extrema
Da casa de Abrahão
Tu muntado numa ema
Eu brincando com Sansão
O velho pai de Morais
Foi quem deu fé de nós dois
Ser tu não for não vou mais
E se tu for vou depois
Salve, salve Dedé França
Que você cantou aqui
Com aquela fala mansa
Canta bem o Cariri
É igual a Zé Limeira
O poeta Dedé França:
Dedé França "quando canta
Estemece o Cariri
As estrela trinca os dente
Leão chupa abacaxi
Cum trinta ano dipois
Estoura a guerra civí"
Tá certo Sávio Pinheiro
Homem culto e badejo
Por que não lhe viu primeiro
O famoso Orlando Tejo?
Um poeta de mão cheia
Esse tal Mundim do Vale
Valei-me mãe das candêia
Antes que ele se abale
E jogue com profusão
Versos pra riba mim
Eu não sou poeta não
Só sou um cantor chinfrin
Parabéns ao blogão
Boa noite seu Mundim...