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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 15 de abril de 2020

Batistério de Dona Barbara - Por Coronel José Ronald Brito.


Nos dias 16 do mês de Abril de 1752, nesta Freguesia de Nossa Senhora de Conceição de Cabrobó com a ordem e minha licença pôs os santos olhos o padre e vigário Gonçalo Coelho de Lemos à Bárbara que nasceu a 11 de Fevereiro deste ano, filha legitima de Joaquim Pereira de Alencar natural desta mesma freguesia de Cabrobó e de Teodora Rodrigues da Conceição e foi batizada em casa da viúva Brígida Rodrigues de Abreu, digo freguesia de Cabrobó, neta pela parte paterna de Leonardo de Alencar Rego natural da freguesia de Frexeiro do arcebispado da freguesia de Braga e de sua mulher Maria de Conceição de Jesus, natural da freguesia de Pedro Velho do arcebispado da Bahia.

Foram padrinhos José Antônio de Alencar, solteiro, Brigida Rodrigues de Carvalho, solteira, todos moradores nessa freguesia de Cabrobó. Do que fiz este assento que, por ser verdade assino-me, Vigário Zacarias Diniz. 

3 comentários:

  1. A única verdade que não falha é a que o tempo passa. Não volta, e, junto com ele passam as figuras que fizeram história. Nas minhas primeiras quatro décadas de Crato só se ouvia falar na Heroína Bárbara de Alencar. Nas convenções partidárias, nos comícios os candidatos gritavam "Terra de Bárbara de Alencar".

    O tempo passou, e chegou o Ronaldo Gomes de Matos, prefeito eleito com a maior porcentagem de votos já visto na história do Crato. Em seu mandato construiu um monstrengo de barro e cimento, escondido da visão do povo, próximo da Matriz de Nossa Senhora da Penha, que desnuda Dona Bárbara de toda nobreza que teve em vida.

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  2. Morais:

    Esta sua frase – no início do seu comentário – resume tudo (“A única verdade que não falha é a que o tempo passa. Não volta, e, junto com ele passam as figuras que fizeram história”). Verdade. Dir-se-ia que sua frase foi o melhor (no âmbito do artigo e das repercussões deste).
    E por que afirmo isto?
    Vamos por etapas...
    Eu também sou do tempo em que, na Mui Nobre e Heráldica Cidade de Frei Carlos, chamar Dona Bárbara de Alencar de “heroína” era quase um dogma de fé. Ou seja, era uma verdade absoluta, definitiva, imutável, infalível, inquestionável e absolutamente segura sobre a qual não podia pairar nenhuma dúvida. Aliás, o Crato só era chamado de “Terra de Bárbara de Alencar” ...
    Mas o tempo passa, como você afirmou. O povo tem acesso às escolas e universidades, a gente começa a estudar história, pesquisar e constatar que depois da “proclamação” da República, esta nova forma de governo do Brasil foi obrigada a criar novos heróis para justificar o golpe de Estado de 15 de novembro de 1889.
    Aí entra Tiradentes, Deodoro, Dona Bárbara... A comprovar que a História é escrita pelo vencedor. Sempre foi assim. Sempre será.
    Alguém poderá objetar: Então você tem a petulância de dizer que ela não foi uma heroína? Você ousa negar as virtudes de Dona Bárbara?
    Não, não nego. Ela era possuidora de muitas qualidades. Inclusive de qualidades morais. Um bisneto dela (José Carvalho) escreveu que Dona Bárbara não admitia sequer que algum escravo dela fosse amancebado... Reconheço mais: Ela foi uma mulher à frente do seu tempo. Era uma pessoa decidida. Não era uma mulher comum.

    Mas sigamos o meu raciocínio. Quanto terminou o episódio da Revolução Pernambucana de 1817 em Crato, o juiz Joaquim Teles chegou aqui para apurar os envolvidos e seus crimes. Mas não encontrou nenhuma prova da participação de Dona Bárbara, naquela semana que só entrou para a história, depois da “proclamação” da República. Dr. Joaquim Teles encontrou muitas provas e muitos testemunhos contra os filhos de Dona Bárbara. No entanto a ilustre matrona passou incólume. e se foi injustamente perseguida é porque, naquele tempo, a mentalidade advinda da Justiça Real atingia toda uma família quando esta era inimiga do Rei.

    Nossa república é oriunda de um golpe militar, o primeiro de uma longa série que houve no Brasil, e como o novo regime precisava de ícones, nada melhor que uma mulher corajosa, simpática, que foi a primeira presa política no nosso país, a qual, a partir daí, começou a ser tratada unicamente como “A Heroína”.

    O livro "Apontamentos para a história do Cariri", de João Brígido, editado em 1888, durante a Monarquia, restringe o episódio da Revolução de 1817, aqui no Crato, ao mínimo, sequer cita Dona Bárbara de Alencar. O historiador, que não era monarquista e sim um liberal, situa a participação da Bárbara apenas como anfitriã de um jantar elaborado para angariar adesões à revolução.
    Agora o argumento final, que está nos livros de História. O título de “heroína” foi dado a Dona Bárbara, “em 1810, sete (7) anos antes do episódio da Revolução Pernambucana de 1817 em Crato”. Quem deu esse título foi o Padre Arruda Câmara, um padre republicano de Recife, professor dos filhos de Dona Bárbara, que deixou escrito assim para seus seguidores: "D. Bárbara do Crato deve ser vista como heroína". Isso em 1810.
    Para finalizar: Aquela “anã” de cimento, colocada na calçada da Coletoria Estadual, na Praça da Sé, para simbolizar Dona Bárbara, “uma obra” do Prefeito Ronaldo Gomes de Matos (“O Fenômeno”) é um deboche. É um desrespeito à memoria de uma mulher de destaque na História de Crato. É uma falta de respeito para com esta cidade...
    “O tempo passa”. É verdade. Décadas atrás o brio de algum cratense indignado já teria feito o que o senador Cid Gomes tentou fazer em Sobral. Teria dirigido uma retroescavadeira e derrubado aquela feiura. Sob os aplausos da massa.

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  3. Prezado Armando - Nunca Li e nem vi texto tão completo, de leitura tão aprazível e de tantas verdades quanto esse seu sobre Barbara de Alencar. Parabéns.

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