A vida é o encontro com o outro, apesar dos muitos desencontros por aí, já dizia Vinicius de Morais.
O encontro é pessoal; impessoal é o desencontro.
Em tempo de virtualidades, o poeta Carpinejar alerta para a necessidade de se revitalizar a pessoalidade.
Por conta de um vírus assassino, tudo isso fica para depois. Não tem encontro com o outro. O mundo físico vira uma miragem e um “até logo” ao abraço.
O poeta Quintana é quem definiu: “O abraço é dizer com as mãos o que a boca não consegue”.
Parece até que o mundo parou suas atividades, nos condenando a uma “prisão domiciliar”, só faltando uma tornozeleira eletrônica imaginária.
Para falar a verdade, as coisas já estavam esquisitas. Nos termos de um relacionamento virtual que alijava até os papos do telefonema.
Entre as pessoas, já prevalecia uma coisa rápida e burocrática, como se uma conversa dos tempos do telefone fixo fosse algo reprovável e aborrecido.
“Pode falar”?
“Posso, mas deixa o recado no zap, que depois eu te ligo”.
Um relacionamento de redes sociais, WhatsApp, Twitter, tela e teclado, com pessoas que nunca vamos conhecer.
Mas, enquanto o relacionamento físico não é reatado, continuamos forçados ao virtual.
A filósofa Amélia Valcarcel admite que, no momento crucial que atravessamos, as pessoas voltaram a descobrir o telefone e estão felizes, falando sem parar.
Esse me parece o dado mais importante nessa prosa, num momento de turbulência que nos leva a recuperar os telefonemas.
E pensar que o primeiro telefone fixo que adquiri me custou uma pequena fortuna.
Era tempo em que Antonio Carlos Magalhães, “O Toninho Malvadeza”, mandava na Comunicação do Brasil.
Eu sou do tempo que no Crato não tinha linhas telefônicas disponíveis. Conheci um cidadão que tinha 12 linhas e eram alugadas como se alugava uma casa. Eu era gerente de um banco na cidade e chegamos a alugar duas linhas dele. Com a privatização do sistema hoje cada habitante tem um telefone com duas, três ou mais linhas.
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