República impopular do Brasil – por Cláudio Fragata Lopes (2ª Parte)
(Excertos da matéria publicada na revista “Galileu", nº 112)Hino velho, letra nova
“Os positivistas não tiveram a mesma sorte em relação à mudança do
hino. "Foi a única vitória popular do novo regime", esclarece José
Murilo de Carvalho. Assim como não tinham bandeira, os manifestantes de
15 de novembro não possuíam hino. Durante o desfile, cantaram a
Marselhesa, o hino nacional francês. Dias depois, durante uma cerimônia
oficial, de novo a Marselhesa foi executada, junto a outras marchas
militares, sem despertar o entusiasmo dos civis. Os músicos, de
improviso, iniciaram os acordes do hino imperial, de Francisco Manuel da
Silva, para satisfação geral dos presentes.
“Os republicanos optaram então por uma saída conciliatória, mantendo o
velho hino, mas com nova letra, escrita por Osório Duque Estrada. Assim
nasceu o Hino Nacional Brasileiro. A maior vitória obtida no campo
musical foi a instituição do Hino da Proclamação da República (para quem
não se lembra: "Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós!"),
composto por Leopoldo Miguez e Medeiros de Albuquerque, vencedores do
concurso organizado especialmente para escolher o hino oficial do novo
regime.
“Apesar do malogro do imaginário republicano, permanece até hoje a
ideia de um movimento de grande alcance popular e patriótico. Para José
Murilo de Carvalho, entre a população pobre e analfabeta da época
persistiu uma simpatia latente pela monarquia. Mas, com a implantação do
sistema educacional federativo, a situação foi aos poucos tomando
outros rumos: "Os novos governos estaduais introduziram nos currículos
escolares a versão favorável à República, educando nessa crença as novas
gerações".
O "retrato oficial" do nascimento da república e o seu patrono
"Monarquista notório, Deodoro da Fonseca vacilou em assumir o papel de
proclamador republicano. Mas foi com galhardia que posou para Henrique
Bernardelli pintar A Proclamação da República. Estaria ele, nesse
momento solene, dando vivas ao novo regime ou a o imperador? É o que o
historiador José Murilo de Carvalho ainda se pergunta. Seja como for, o
quadro se transformou na versão oficial do episódio, e está para a
República assim como a tela O Grito do Ipiranga, de Pedro Américo, está
para a proclamação da Independência. A grande diferença entre as duas
obras, segundo Carvalho, é que dom Pedro I, no quadro de Américo,
aparece interagindo com várias outras figuras.
"A concepção de Bernardelli é totalmente personalista. Em primeiríssimo
plano, o marechal ocupa quase toda a cena. Republicanos históricos,
como Quintino Bocaiúva e Benjamin Constant, estão ao fundo, montados a
cavalo. Note-se que Deodoro não aparece com uma espada, símbolo da ação
militar. No 15 de Novembro, não portava uma. Seria violar a verdade dos
fatos retratá-lo erguendo uma espada, afirma Carvalho: "Já bastava a
dúvida sobre o sentido de erguer o boné".
O que os professores de historia contam hoje na sala de aula é o que convém a ideologia implantada pelos governos populistas, demagogos e antidemocráticos dos últimos anos.
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