República impopular do Brasil – por Cláudio Fragata Lopes (1ª
Parte)
A sociedade ficou de fora no regime que teve de inventar
mitos, hinos, bandeiras e heróis
(Excertos da matéria publicada na revista “Galileu", nº 112)
A Quartelada– O
quadro Proclamação da República, de Benedito Calixto, retrata com realismo o
episódio de 15 de novembro de 1889: sem participação popular
“A proclamação da
República ainda é um capítulo equivocado da História do Brasil. Muita gente
pensa no episódio como uma revolução popular, que pôs fim à monarquia e
instalou no país um regime moderno e progressista. Mas não foi bem assim. O ato
de implantação da República não teve participação popular. Nem na proclamação,
a 15 de novembro de 1889, nem nos anos seguintes” (...) (A proclamação) “Foi
fruto de uma elite, formada por militares, intelectuais e proprietários rurais,
que, para legitimar o novo regime junto ao povo, tentou forjar mitos e
símbolos.
“Aprendemos na
escola a ver a República como um movimento renovador e patriótico. Mas o
episódio teve uma repercussão bem diferente daquela que está nos livros. A
população carioca assistiu, no dia 15 de novembro de 1889, a uma parada militar
liderada p elo marechal Deodoro da Fonseca, que até o último momento hesitou em
desempenhar o papel de "proclamador".
“Testemunhos da
época sustentam que o marechal deu um viva ao imperador ao fazer o famoso gesto
que o pintor Henrique Bernardelli eternizou em quadro, e até hoje simboliza o
ato da proclamação. A descrição que o dramaturgo Arthur de Azevedo fez do
episódio não é mais animadora: o cortejo passou em silêncio pelas ruas e o
marechal parecia "um herói derrotado, mal se sustentando na sela, a cara
fechada, de cor ferrosa puxando para o verde".
“José Murilo de
Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é um dos historiadores que
veem a República com outros olhos: "Deodoro nunca foi republicano, nem
antes, nem depois do 15 de Novembro", afirma. O marechal aceitou a missão
por razões corporativistas, em defesa da honra militar, e também táticas, já
que os conspiradores fardados eram muito jovens. "Ele aliava liderança e
comando", explica o historiador. "Durante seu governo, deu várias
indicações de seguir o antigo regime, como na dissolução do Congresso e na
maneira imperial de tratar os ministros." Quando o irritavam, ameaçava
"chamar o Velho". Ou seja, dom Pedro II.
“(Depois de
implantada, pelo golpe militar de 15 de novembro de 1889) “Para ter um herói, a
solução encontrada (pelas novas autoridades republicanas) foi promover Tiradentes ao panteão da
República. O inconfidente mineiro já era cultuado nos clubes republicanos que
se espalhavam pelo país antes da proclamação. Mas a celebração do 21 de abril
só começou em 1881, instituída pelo novo regime.
“A principal
batalha pela simbologia republicana se deu em torno de uma nova bandeira e do
Hino Nacional. No dia da proclamação, os participantes não tinham ainda uma
bandeira. Levaram às ruas um modelo confeccionado pelos sócios do clube
republicano Lopes Trovão, na verdade uma cópia da bandeira norte-americana,
onde as cores imperiais verde e amarela foram conservadas nas faixas
horizontais.
“A versão oficial
e definitiva, anunciada quatro dias após a proclamação, foi uma vitória
positivista. É a nossa atual bandeira. Desenhada por Décio Villares, de acordo
com a orientação filosófica de Auguste Comte, trazia a inscrição "Ordem e
Progresso" . Isso porque, segundo o filósofo, uma sociedade exemplar teria
"o amor como princípio, a ordem como base e o progresso como fim".
“Alguns
astrônomos da época apontaram a falta de rigor científico com que as estrelas e
o Cruzeiro do Sul tinham sido bordados. Ciência à parte, a bandeira foi aceita.
Tudo isto justifica a tragédia implantada por esta republica arrasada e sem moral.
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