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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 2 de março de 2018

NÃO PODEMOS ENGANAR NÓS MESMO O TEMPO TODO - Por Antonio Gonçalo de Sousa.

A palavra consciência, se enfocada isoladamente, remete a uma capacidade de cada indivíduo, pois está ligada diretamente à mente, à alma e ao espírito da de cada pessoa em particular. Mas, levando em conta que uma nação ou pátria, subjetivamente, também tem, ou deve ter, um consciente coletivo, pode-se dar personalidade a ela, ensejando uma vitalidade que, em tese, seria só do ser humano. Ou seja, uma nação também pensa e deve ter ações concretas.

No ensejo dessa condição de consciente coletivo, poderíamos dizer que o Brasil, há muito vem necessitando exercitar ações concretas para, enfim, sair desse marasmo e “complexo de vira-lata”, enfatizado na expressão do dramaturgo e escritor brasileiro, Nelson Rodrigues (1912 – 1980). Se não há humor e coragem para tomada dessa atitude e sobressair-se dessa condição, pelo menos que se adote o conceito da frase histórica do político americano, Abrahan Lincoln (1809 – 1865): “pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo, mas não se pode enganar a todos todo o tempo”. É hora de ação, mas de ação concreta e com participação do povo, que deve tomar a sua condição de nação, para concretizar e transformar em ato essa indignação latente com o fato de que não podemos mais continuar enganando a nós mesmo.

O Brasil vive um momento de dificuldades econômico-financeiras e políticas desesperadoras, portanto, não tem como esperar mais por milagres. As cidades estão assustadoras; edifícios pichados; gente sofrida e abandonada nas calçadas e praças; prédios invadidos; prostituição a céu aberto; zumbis enfraquecidos pelo crack; cidades sem almas e desfiguradas.

Os políticos, empresários, artistas e, especialmente a sociedade, têm um papel importante nesse processo de impulsionar o país para o desenvolvimento sustentável. É evidente que as cicatrizes que desfiguram as faces desses lugares podem ser superadas, mesmo que a longo prazo. Há alguns sinais que evidenciam que a sociedade está tomando consciência de que há possibilidade de interpretar os fatos e agir.

Dentre esses sinais, pode-se registrar alguns acontecimentos importantes que tomaram o país quase que de súbito: os movimentos populares que correram as ruas do país em 2013; as inúmeras ações da justiça e polícia federal, que nos últimos anos atuaram com inquéritos preciosos, enquadrando políticos e empresários de porte e, até mesmo, o processo de “impeachment”, que culminou com a deposição da presidente Dilma do poder. Mas são atos e ações dispersas e, ainda, não ensejam que poderão tornar o povo como partícipe. É preciso uma consciência nacional para o problema.

Vez ou outra, observa-se ações da mídia e do povão, que ensejam uma tomada de posição mais firme no dia-a-dia. Nesse particular, pode-se citar o Carnaval do Rio de 2018. O desfile retratou o ambiente difuso, onde há no país Políticos acusados de corrupção e protegidos por nefasta jurisprudência da imunidade; dialogou com o grito das ruas de 2013; denunciou a corrupção, patrocinada pelo PT, com uma imensa ratazana puxando o prédio da PETROBRAS, transmutada em seguida numa favela; mostrou o cenário ficcional de fantoches e manifestantes da direita, que vestiam camisas verde amarelas e batiam panelas em 2016, em

nome do grande poder econômico, tendo como símbolo o pato amarelo da FIESP; criticou o presidente Temer, retratando-o como vampiro “neoliberalista”; até o fanático religioso Marcelo Crivella foi exposto como prefeito perdulário e Judas pecador, por não entender que “pecado é não brincar o carnaval”.

O Carnaval do Rio de Janeiro – 2018 explicitou, também, que convém manter viva a indignação, pois sabe-se que, numa impressionante contradição congênita, a campeã Beija Flor, tem como presidente de honra um bicheiro condenado a 73 anos de prisão, Anísio Abraão, que recorre da pena em liberdade. Por outro lado, a segunda colocada deste ano, a Tuiuti, no carnaval de 2017 teve um carro alegórico acidentado, provocando a morte de uma mulher, cujo desfecho do inquérito ainda é ignorado e, inclusive, o seu carnavalesco, comentou em entrevista antes do desfile que, nos governos do PT, não fazia críticas para “não arranhar a relação” com o poder.

Segundo a história, o político americano, Abrahan Lincoln (1809 – 1865), é autor de outras frases pitorescas, dentre elas: “Deus deve amar os homens medíocres. Fez vários deles”; “Os princípios mais importantes podem e devem ser inflexíveis”; “Um boletim de voto tem mais força que um tiro de espingarda”; “O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que tombaram antes de vencer”; “Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes”.

Abraham Lincoln foi presidente dos Estados Unidos da América; decretou a emancipação dos escravos; foi considerado um dos inspiradores da moderna democracia e tornou-se uma das maiores figuras da história americana. Formou-se em Direito; elegeu-se Deputado por Illinois e incentivou a criação de novas indústrias no Norte do país. Em 1860, disputou o pleito para a presidência da república e elegeu-se o 16º presidente dos Estados Unidos. Enfrentou a Guerra da Secessão, por longo período de seu governo. Com a vitória do Norte, foi reeleito para presidente. Antes de tudo isso, foi lenhador, trabalhou numa serraria, foi barqueiro, balconista e Chefe dos Correios da Aldeia de Salem em Illinois.

Que apareçam no Brasil, homens que encarem a situação do país com seriedade e atraiam para o governo pessoas obstinadas e capacitadas para soerguer essa grande e bela nação, tirando-a do lema do “complexo de vira-lata” e inserindo-a na máxima de que “não podemos enganar nós mesmo o tempo todo”.

2 comentários:

  1. Prezado Amigo Antonio : O seu texto é um primor. O Brasil está virado pé pra cabeça. Certa vez o Lula falou a verdade : disse que o problema da mentira era que amanhã tinha que ser contada outra para justificar a de hoje. De tanto mentir o Pajé Lula da Silva perdeu o efeito. No discurso piedoso e chorão ninguém acredita mais, nas suas mentiras só ele crê. Tudo no Brasil tem um recheio de mentiras e má intenção. Se não mudarem os costumes e práticas atuais vai ser muito trabalhoso a recuperação. Parabens pelo texto e muito obrigado pela cooperação com o Blog.

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  2. Gostei muito, amigo Gonçalo! O texto, além de trazer à luz, questões vividas e a serem vencidas neste nosso querido Brasil, alerta-nos de que “Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes”. Grande abraço, parabéns!

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