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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 6 de março de 2018

“Viva a República” – por Meira Penna (*)


       Meu pai, que na época da monarquia era menino e morava no Largo de São Salvador, no Rio de Janeiro, gostava de correr atrás da carruagem de Dom Pedro II, gritando “Viva a República!”, quando Sua Majestade ia visitar a filha no que é hoje o Palácio Guanabara. Detrás de suas barbas patriarcais, o Imperador respondia, sorrindo para o pirralho atrevido...
   
        O Império de fato jamais fizera qualquer objeção à expressão do pensamento de seus adversários. 

       O fato é que, no momento, só dois deputados republicanos sentavam-se no Parlamento, o que prova o pouco efeito que, até então, tinha tido a livre propaganda da Ditadura republicana positivista.
Grande foi o contraste com a censura, a inquisição e a perseguição aos monarquistas que se estabeleceu pelo Decreto de 23 de dezembro de 1891, por ocasião da primeira constituição republicana, que ficou conhecido  como “Decreto Rolha”. O Império sempre fora perfeitamente liberal e democrático. E enquanto a monarquia foi perseguida pela famosa “cláusula pétrea”, dispositivo que perdurou até a última das publicações periódicas chamadas Constituições, a de 1988, a mais burra de todas – o regime republicano estabelecido em 1889 se distinguiu, desde o início, pelo personalismo, as iniciativas arbitrárias, as ilegalidades e os sistemas ditatoriais. 

          A República teve que esperar 57 anos, até as eleições de 1946, para formar um governo legítimo e livremente escolhido pelo povo - se a isso se poderia chamar eleições! 

         Uma alegação comum qualificava a monarquia de regime anacrônico, defasado e contrário ao desenvolvimento. É a primeira mentira. Japão, Grã-Bretanha, Países Baixos e os Escandinavos se colocam entre os de maior PIB per capita do planeta. Noruega e Luxemburgo gozam, aliás, de uma renda pessoal média anual de 36 mil dólares, a única acima da americana. 

         A Espanha livrou-se do atraso, anarquia e conflitos internos, responsáveis pela mais sangrenta guerra civil do século, depois de se transformar em reino. Hoje, é o país que mais cresce na Europa. Na época do Império, nem um Napoleão III, uma rainha Victoria ou um Kaiser Guilherme I teria tido o topete de usar a nosso respeito a expressão que notabilizou De Gaulle (“O Brasil não é um país sério”).
        Éramos um país sério, na Monarquia!

(*) Meira Penna, embaixador.

Um comentário:

  1. Quanta diferença dos monarcas para os chefes da republiqueta. Deodoro da Fonseca que três dias depois de proclamar a republica estava arrependido o que diria hoje.

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