Ciro Gomes se autoimpôs uma tarefa inglória. Quer enfrentar o PT na batalha eleitoral sem alvejar Lula. É algo tão complicado quanto decapitar inimigos numa guerra sem derramamento de sangue.
Em sabatina promovida pelo Globo, Ciro disse que ''o Brasil não aguenta outra Dilma” Referindo-se a Fernando Haddad, que substituiu Lula na chapa presidencial petista, Ciro afirmou: “Não podemos ter outro presidente por procuração''.
Ciro sabe que a candidatura de Haddad é um empreendimento político 100% concebido por Lula. Mas poupa o presidiário: “O Lula a gente tem que relativizar, porque ele está isolado.”
Acrescentou: “O Lula está com um problema, porque morreram o Márcio Thomaz Bastos, o Luiz Gushiken, está sem José Dirceu…, perdeu dona Marisa. Hoje, o Lula está cercado de puxa-saco.”
Para Ciro, graças ao isolamento, Lula “perdeu um pouco da visão genial que ele tem da realidade. Se ele estivesse solto, não teria permitido uma série de desatinos que estão sendo promovidos.”
Os ''desatinos'' são do líder ''genial'', não súditos petistas. Os partidos brasileiros sofrem de carência de miolos. Mas Ciro não ignora que no PT a moléstia se manifesta numa única cabeça. A cabeça do preso.
Mesmo quem não entende nada de política compreende a politicagem embutida nas palavras de Ciro. O candidato morde o PT para seduzir os votos do eleitorado antipetista de centro. Assopra Lula para atrair votos que iriam para Haddad.
“O PT muitas vezes dá demonstração de que só pensa em si”, declarou Ciro. “Todos sabiam que o Lula não podia ser candidato. Contraria a inteligência do povo.” O candidato ainda não notou. Mas também atenta contra a inteligência alheia.
Adulando Lula, Ciro arrisca-se a perder votos do eleitor de centro. Batendo no PT, confunde o eleitorado companheiro. Candidatos às vezes não podem ser transparentes. Mas não dá para esconder a luz dentro do escuro.
Alvejar o PT sem atingir Lula é imposível. Lula e o PT são a mesma carniça.
ResponderExcluir